Médico defende alimentação com “produtos da terra que são de fácil acesso a todos”
Médico defende alimentação com “produtos da terra que são de fácil acesso a todos”Fernando Fontes / Global Imagens

“Saber comer é um fator essencial para a evolução da espécie”

Mais do que abraçar as dietas da moda, médico André Amorim defende que devemos valorizar hoje a alimentação como uma poderosa ferramenta para a evolução pessoal. E é isso que tenta demonstrar em “Comer para Evoluir, o guia alimentar para o séc. XXI”
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A importância da alimentação para a saúde e bem estar é hoje uma evidência que vai fazendo cada vez mais parte das preocupações diárias de cada um. Mas, por vezes, não pelos melhores motivos ou das formas mais adequadas. Saber comer é, hoje, “um fator crucial para evoluirmos enquanto espécie” e a nossa relação com a comida “desempenha um papel fundamental não apenas na nossa saúde física, como na saúde mental e espiritual”, defende o médico André Amorim, que tem dedicado especial atenção à ligação entre o que colocamos no nosso prato e os impactos “em todas as áreas da nossa vida”.

“Que a alimentação tem um grande impacto sobre a saúde é algo que muita gente já vai tendo consciência. Aliás, é o maior fator de morte da atualidade. Por isso, quem quer tratar a sua saúde tem, invariavelmente, que abordar a alimentação. É quase 1Kg de comida que consumimos por dia e que ou vai criar doença ou alimentar a saúde, dependendo das nossas escolhas”, salienta ao DN. Hoje, sublinha o especialista em medicina integrativa, a má alimentação é considerada o maior fator de mortalidade e causador de doença, “superando inclusivamente o risco de hábitos nocivos como o tabaco, alcoolismo, inatividade física ou condições como hipertensão, excesso de peso, diabetes, etc.” E, acrescenta, “sabemos que recorrendo exclusivamente à alimentação é possível prevenir mais de 90% das doenças que afetam a humanidade”.

André Amorim defende uma abordagem holística da alimentação que vai “além das tradicionais dietas da moda” que dominam a paisagem mediática da nutrição, evidenciando o papel fundamental que a comida desempenha na saúde física, mental e espiritual. Para o clínico, que acaba de lançar o seu segundo livro sobre o tema, a alimentação deve ser hoje valorizada como uma poderosa ferramenta para a evolução pessoal. “Saber comer é, hoje, um fator crucial para evoluirmos enquanto espécie”, diz. E é isso que tenta demonstrar em “Comer para Evoluir- o guia alimentar para o séc. XXI”, já nas livrarias, quatro anos depois de “O Poder Transformador do Jejum”, o seu primeiro livro sobre a alimentação, lançado em 2020. Ao longo de cerca de 400 páginas, André Amorim desvenda-nos a arte de saber comer de forma natural ao longo de toda a vida, e não apenas em momentos de dieta e restrição.

“Não quero rivalizar com os habituais livros de dietas da moda. O que procuro é acima de tudo sistematizar o que de melhor, mais eficaz e científico temos sobre a alimentação, para que haja uma base no meio de tanta informação contraditória”, conta. Parte da obra debruça-se sobre os efeitos da alimentação na saúde mental cuja ligação é “intrínseca e profunda”. Segundo o médico, “muitos dos nossos neurotransmissores (serotonina, entre outros) são produzidos a nível intestinal e, como tal, se o que comemos não estiver de acordo com a nossa biologia vamos ter alterações emocionais e de comportamento”. “Aliás, não é por acaso que o intestino é considerado o segundo cérebro e muitos distúrbios do foro psicológico podem ser melhorados com uma alimentação correta”, sublinha.

DR
André Amorim, médico especialista em medicina integrada e autor do livro "Comer para Evoluir, o guia para a alimentação do séc. XXI"

“É fácil comer saudável e barato”

Os desafios do stress do ritmo diário e dos preços dos alimentos inflacionados nos últimos anos marcados por guerras e pandemias dificultam o acesso a uma dieta equilibrada e saudável? Esse “é um mito” desmontado por André Amorim, para quem “comer saudável e barato é fácil”. “Basta ver a alimentação que os nossos avós praticavam ou que ainda se pratica nas chamadas zonas azuis (locais do mundo cujos habitantes apresentam maior longevidade). A alimentação deles é bastante simples e com alimentos da terra que são de fácil acesso a todos. O problema surge quando se começa a comprar produtos alimentícios ou processados (produtos diet, zero, fit, shape, sem glúten, etc). Para além da maioria não ser saudável, também pesam na carteira”, explica.

A mudança de hábitos alimentares na sociedade atual é um tema extensivamente abordado pelo médico, que partilha estratégias para ajudar a implementar hábitos mais saudáveis, seja a nível dos produtos que se compram ou até dos métodos culinários. No seu “guia alimentar para o século XXI”, André Amorim desmonta muitos dos “mitos” sobre alimentação saudável. E dá exemplos: “Dizer que devemos evitar os hidratos para perder peso; que quem tem diabetes não pode comer fruta; que precisamos todos de comer mais proteína; que a soja faz mal aos homens; que devemos comer de 3/3 horas, entre outros mitos”, aponta. “De certo modo, o livro é uma desconstrução de ideias erradas dos últimos 20 anos”, defende.

“É um facto que a nossa sociedade está obcecada em encontrar curas rápidas para os problemas sem nunca se preocupar em aprender sobre as causas das doenças. A meu ver, tentar resolver uma doença sem tratar a origem seria como tentar ajudar o fígado de um alcoólico sem primeiro lhe tirar o álcool! Por isso, um médico ou terapeuta que não saiba abordar a temática alimentar está a ignorar o maior fator de risco de mortalidade e, desta forma, está a impedir que o seu paciente consiga prevenir muitas das doenças crónicas da atualidade”, conclui André Amorim.

dnot@dn.pt

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