O Tribunal da Relação de Guimarães confirmou a condenação do atual vice-presidente da Câmara de Barcelos, Domingos Pereira, a dois anos e 10 meses de prisão, com pena suspensa, por corrupção, mas o autarca disse esta terça-feira que vai recorrer..O arguido viu ainda confirmada a condenação a perda de mandato..O tribunal imputou-lhe um crime de corrupção passiva agravado..O processo diz respeito ao alegado recebimento de 10 mil euros para garantir um emprego no município e remonta a 2016, numa altura em que Domingos Pereira era vereador eleito pelo Partido Socialista..Entretanto, Domingos Pereira desfiliou-se do PS e criou o movimento Barcelos, Terra de Futuro (BTF), que nas últimas autárquicas concorreu numa coligação liderada pelo PSD, que ganhou a câmara..Contactado esta terça-feira pela Lusa, Domingos Pereira disse que vai continuar a recorrer "até onde puder", por se considerar "completamente inocente". "Não cometi crime nenhum, estou de consciência completamente tranquila", referiu..Em relação à sua continuidade no executivo, Domingos Pereira remeteu para um comunicado que enviará depois de uma reunião que manterá, na noite desta terça-feira, com os militantes do BTF..Na altura dos factos, em janeiro de 2016, o arguido desempenhava as funções de vereador da Câmara Municipal de Barcelos em regime de não permanência, tendo a seu cargo, entre outras matérias, decidir todos os assuntos relacionados com a gestão e direção dos recursos humanos afetos aos serviços municipais..Segundo a acusação, no dia 25 de janeiro de 2016, uma mulher, também arguida no processo, procurou Domingos Pereira no seu gabinete, nas instalações da Câmara de Barcelos, dizendo-lhe que queria que o seu filho, que estava em funções no município no âmbito de um contrato de emprego-inserção, ficasse, findo tal contrato, ao serviço do município..Nessa ocasião, terá dado ao vereador, no interior de um envelope, 10 mil euros em notas "como compensação pelas suas diligências nesse sentido"..Para o Ministério Público, o arguido, "com aquele propósito, aceitou a referida quantia e fê-la sua"..A contratação acabou, no entanto, por não se concretizar, porque o então presidente da câmara, Miguel Costa Gomes, por despacho de 6 de maio de 2016, redistribuiu os pelouros e retirou ao arguido as competências que lhe estavam atribuídas..O tribunal não deu como provadas as circunstâncias da entrega do dinheiro, mas considerou que o dinheiro foi mesmo entregue com aquela finalidade..O envelope com os 10 mil euros foi encontrado cerca de dois anos e meio depois, em julho de 2018, na casa de Domingos Pereira aquando de buscas da Polícia Judiciária relacionadas com um outro processo..No envelope, Domingos Pereira escreveu: "Este envelope foi deixado em cima da minha secretária, sem eu saber o que era, pela dona Maria José Figueiredo, em 25 de janeiro de 2016, para tentar empregar o filho Zé. Depois de lhe dizer que tinha que pegar no envelope, não o fez, irei devolver à sua filha, doutora Cristina Figueiredo, para entregar à sua mãe, sem lhe dizer o que tem no interior"..Em julgamento, Domingos Pereira disse que sempre foi sua intenção devolver o dinheiro, mas o tribunal não deu credibilidade ao seu depoimento, considerando que o arguido não conseguiu explicar porque ficou com os 10 mil euros na sua posse durante dois anos e meio.."O que resulta evidente é que a arguida ofereceu e o arguido aceitou", disse a juiz presidente do coletivo, no Tribunal de Braga..O tribunal ponderou, como atenuante, o facto de o ato que esteve na base da corrupção não ter sido consumado, uma vez que o emprego pretendido não chegou a ser conseguido..Além disso, o coletivo sublinhou que os factos não atingiram um grau de gravidade muito elevado, pelo que aplicou uma pena próxima do mínimo..A arguida foi condenada a um ano e meio de prisão, também com pena suspensa..O tribunal declarou ainda que os 10 mil euros sejam dados como perdidos a favor do Estado..Para a suspensão da pena, Domingos Pereira terá de doar 5.000 euros a uma instituição.