Portugal é o 9.º país melhor posicionado no Índice de Desempenho das Alterações Climáticas 2026 e melhorou a sua situação face ao ano passado. Mas enfrenta desafios ao nível da poluição dos transportes, que continua a aumentar, e ameaça as metas nacionais, alerta a ZERO.O CCPI (Climate Change Performance Index, na sigla inglesa) foi divulgado esta terça-feira, 18 de novembro, na 30ª conferência das Nações Unidas para as alterações Climáticas (COP30), em Belém do Pará, Brasil. O documento indica que Portugal subiu três lugares face a 2024 e ocupa agora a 12.ª posição, o que na prática corresponde ao 9.º lugar, porque os três primeiros lugares continuam vagos, sem nenhum país totalmente alinhado com o objetivo do Acordo de Paris de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.Para a classificação acima da média obtida por Portugal contribuiram não apenas a redução de emissões de gases com efeito de estufa a nível nacional (onde teve classificação elevada), mas também a alta quota de produção de energia a partir de fontes renováveis, que já supera os 70% e é uma das maiores a nível mundial. Já na política climática e uso de energia, o país obteve uma classificação média.O lado mais negativo, assinalado pela associação ambientalista ZERO é, porém, o ainda elevado nível de emissões nos transportes, que consideram ser um “desafio significativo”. Com efeito, o setor dos transportes “continua a apresentar um aumento consistente das emissões, com um crescimento de 7% em 2023 e uma contribuição de 29% para o total das emissões de GEE em 2022, comprometendo o cumprimento das metas nacionais”, disse Francisco Ferreira, prsidente da Zero, em declarações ao DN. “É sem dúvida a grande preocupação”, acrescentou.A fraca utilização de transportes públicos e a dependência elevada dos automóveis nas cidades, que segundo alguns indicadores estão a aumentar, são apontados como a causa principal, o que “evidencia a necessidade de reforçar planos de mobilidade urbana sustentável”.A partir de Belém do Pará, Francisco Ferreira criticou, em declarações ao DN, a “forte deficiência dos transportes públicos em Portugal” bem como os “enormes atrasos que se verificam na ferrovia nacional, nas obras do Metro de Lisboa ou no Metrobus do Porto”, só para dar alguns exemplos. Por outro lado, vão sendo dados sinais em sentido contrário, disse, apontando o exemplo da isenção de portagens – “que não foi culpa do Governo, mas do Parlamento” _, que está a ter como consequência uma “transferência das cargas do comboio para os camiões, agravando as emissões e os congestionamento das autoestradas”.Outros pontos críticos de Portugal têm a ver com uma política algo inconsistente no sinal de preço do carbono, “enfraquecido pela recente redução da taxa sobre produtos petrolíferos, e a persistência de subsídios e isenções fiscais aos combustíveis fósseis”. Estes fatores dificultam a descarbonização dos setores mais intensivos em emissões, como a indústria de refinação de petróleo e a produção de cimento, consideram ainda os especialistas.Com efeito, “entre 2023 e 2024 as emissões da refinaria da Galp aumentaram 11%”, sendo que a empresa já anunciou que vai expandir a sua atividade de exploração de petróleo, lembrou o líder daquela associação ambientalista. E, continua, o seu plano de investimentos é seis vezes e meia maior para a área dos combustíveis fósseis do que para as energias renováveis.Há progressos, mas são lentosA nível global, o índice de desempenho climático revela sinais de preocupação quanto ao futuro, mas também regista os avanços feitos. “Dez anos após o Acordo de Paris, os progressos são visíveis: as emissões globais per capita estão a diminuir, as energias renováveis registam um crescimento massivo e mais de 100 países já definiram metas próprias para atingir a neutralidade carbónica. No entanto, o ritmo continua aquém do necessário para cumprir os objetivos climáticos do Acordo de Paris”, como têm assinalado altos responsáveis das Naçôes Unidas, como o secretário-geral António Guterres, logo na abertura da cimeira.O CCPI é um instrumento que avalia o desempenho das políticas climáticas de cada país, sendo que a Dinamarca é o país melhor classificado, no 4º lugar, destacando-se nas energias, destacando-se nas energias renováveis, especialmente na energia offshore; o Reino Unido (5.º lugar), que subiu uma posição e já completou a eliminação do carvão, embora ainda precise de avançar mais nas renováveis; e Marrocos (6.º lugar), que apresenta bons resultados em quase todas as categorias, com emissões per capita muito baixas, investimentos significativos em transportes públicos e uma nova meta climática ambiciosa para 2035. O CCPI avalia os progressos em mitigação climática de 63 países, mais a União Europeia no seu conjunto, responsáveis por 90% das emissões globais. Ferramenta essencial para aumentar a transparência na política climática internacional, é publicado pela Germanwatch e pelo NewClimate Institute, com a participação da ZERO na sua elaboração. .Empresas têm 1.300 milhões de investimento bloqueado por "burocracia ambiental"