O advogado Pedro Delille renunciou ao mandato de advogado do ex-primeiro-ministro José Sócrates no processo Operação Marquês, segundo confirmou aos jornalistas fonte do Tribunal Central Criminal de Lisboa. O ex-primeiro ministro disse compreender a decisão do advogado e acusou o tribunal de ter feito tudo para o hostilizar.A renúncia deu entrada na manhã desta terça-feira, 4 de novembro, e o advogado alega "razões deontológicas".Pedro Delille defendia o ex-primeiro-ministro há vários anos, mais precisamente desde que este foi detido, em novembro de 2014. Com esta renúncia, José Sócrates fica sem advogado tendo sido chamado um advogado oficioso para o representar. Nenhu dos dois compareceu esta terça-feira no tribunal.A sessão agendada para esta terça-feira, destinada à audição de testemunhas, mantém-se. Segundo a CNN Portugal, o advogado oficioso pediu um adiamento de 48 horas, alegando não conhecer o processo em detalhe, mas o coletivo de juizes indeferiu o pedido, alegando que a Operação Marquês é um processo urgente e de que o prazo seria "manifestamente insuficiente" para ficar a conhecer os autos.A juíza ordenou ainda uma nova comunicação, a segunda, à Ordem dos Advogados em relação a Pedro Delille, por considerar que o seu comportamento "é suscetível de ofender os princípios de urbanidade" estabelecidos no estatuto profissional dos advogados.Na quinta-feira passada, 30 de outubro, o tribunal ordenara a participação à Ordem dos Advogados da conduta de Pedro Delille por considerar que esta foi ofensiva dos deveres deontológicos daqueles profissionais. Em causa, o facto de o advogado ter chegado atraso por presumir que que a sessão iria começar mais tarde do que o agendado uma vez que a mãe de Sócrates não compareceu, tendo este apresentado na véspera um atestado médico.Já no julgamento, o causídico tentou explicar o atraso ao tribunal e apresentar um protesto, tendo sido impedido de o fazer pela magistrada."Não me vai ralhar", retorquiu Pedro Delille, com a juíza a ripostar que "acabou a brincadeira".Agora, segundo a carta enviada ao tribunal e citada pela CNN Portugal, o advogado diz: "Fiquei definitiva e absolutamente convencido, após o episódio da passada quinta-feira, que soma a tudo o resto oportunamente denunciado, de que continuar neste julgamento violenta em termos insuportáveis a minha consciência e a ética que me imponho, a minha independência, integridade e dignidade profissional e pessoal - repudio e recuso participar e validar, um minuto mais que seja, neste simulacro de julgamento, neste 'julgamento de brincar'".Em declarações aos jornalistas, José Sócrates manifestou tristeza pela renúncia de Pedro Delille, que considerou "um grande advogado, amigo e companheiro nos últimos 11 anos", mas disse compreender a sua decisão. "Lamento que tenhamos chegado a esta situação", disse. "O tribunal fez tudo para hostilizar o meu advogado", acusou. "O tribunal desenvolveu tamanha hostilidade à minha defesa e ao meu advogado que ele achou que tinha chegado a um ponto em que isso ofendia a sua dignidade profissional e a sua capacidade para desenvolver a minha defesa", disse.O ex-primeiro-ministro recordou o episódio da semana passada, em que o tribunal ordenou a participação à Ordem dos Advogados da conduta de Pedro Delille, defendendo que "a senhora juiza aproveitou a oportunidade para o desconsiderar publicamente". Segundo José Sócrates, o tribunal considerou que "havia uma qualquer espécie de conspiração para interromper as atividades do tribunal". "Esta foi a gota de água", disse.O ex-chefe de Governo criticou o tribunal e a justiça, nomeadamente por ter permitido a continuação do julgamento com um advogado oficioso e recusado um adiamneto de 48 horas. "Para a senhora juiza o direito da defesa é irrelevante, não conta. Aquilo que é o princípio geral do estado de direito não conta. Eu já me tinha dado conta disso...", comentou. "Para a justiça portuguesa eu perdi todos os meus direitos", rematou.Na sala do tribunal, no julgamento da Operação Marquês, durante a manhã desta terça-feira, uma ex-secretária de José Sócrates admitiu que o antigo primeiro-ministro lhe chegou a pagar os serviços prestados com dinheiro em numerário entregue pelo motorista, João Perna..Operação Marquês. Ex-secretária admite que recebeu dinheiro de Sócrates através do motorista. Mais tarde, Luís Campos e Cunha, um dos ministros das Finanças de José Sócrates assegurou que o antigo primeiro-ministro insistiu "desde o início" que Armando Vara fosse nomeado para a administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD). .Luís Campos e Cunha diz que Sócrates insistiu que Armando Vara fosse para a CGD. José Sócrates, de 68 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) e o 'resort' algarvio de Vale do Lobo.No total, o processo conta com 21 arguidos, que têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que lhe são imputados..Operação Marquês: Tribunal participa à Ordem conduta do advogado de José Sócrates