Pandemia teve efeitos graves na visão de crianças e jovens
Projeto VAN - Vision as Needed realizou 250 rastreios nesta semana, em vários agrupamentos escolares da cidade. Cerca de 25% das crianças foram identificadas com problemas de visão. Ensino à distância e o aumento do uso de ecrãs fizeram aumentar casos de miopia.
A pandemia teve efeitos nefastos na visão de crianças e jovens. O ensino à distância e o horizonte muito próximo com ecrãs aumentou os casos de miopia." A afirmação é de Margarida Barata, diretora de marketing da Fundação VAN - Vision as Needed - Essilor (Europa) e responsável por um programa de rastreio visual que está a decorrer em vários agrupamentos escolares, no Porto. A ação inclui, além do rastreio, "consultas de oftalmologia e a oferta de óculos (lentes e armações) a alunos do Agrupamento de Escolas do Cerco, no Porto, que cobre um tecido socioeconómico particularmente frágil". Ao DN, Margarida Barata explicou que o programa começou no final de 2019 com o consultório móvel de oftalmologia da Fundação Vision for Life a marcar presença na Aldeia SOS de Gulpilhares e no Centro Porta Amiga AMI, de Gaia, tendo sido depois "interrompido devido à pandemia". "Implementamos o programa no mundo inteiro, desde a China ao Sudão, e, em Portugal, a nível nacional. Os problemas de visão são responsáveis por dificuldades de aprendizagem. Sem ver bem, não se aprende. A título de exemplo, nesta semana identificámos um caso grave de nistagmo, num aluno que era considerado um elemento perturbador em sala de aula. A perturbação dele residia no problema de visão. Não se consegue concentração quando não se vê bem...", refere. A mesma responsável relembrou que os especialistas estimam que, em 2050, "metade da população mundial será míope".
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Tendo como base a Escola Básica e Secundária do Cerco, onde foram colocadas as carrinhas móveis de rastreio e consulta, alunos das escolas de Campanhã, Cerco e São Roque já fizeram uma primeira avaliação. Cerca de 25% dos estudantes, entre os 6 e os 18 anos, apresentaram problemas de visão "leves", como miopia ou astigmatismo, mas também foram identificados problemas graves de córnea ou altas miopias.
"O nosso grande objetivo é voltarmos daqui a dois anos para ver a evolução dos casos agora diagnosticados", adianta Margarida Barata. Em março de 2022, a Fundação VAN - Vision as Needed vai levar a cabo mais uma semana dedicada a rastreios de visão, em três escolas do Agrupamento do Cerco. "Para muitas crianças, este é o primeiro rastreio que fazem e pode fazer toda a diferença no seu percurso escolar", sublinha Margarida Barata. Catarina Mateus, coordenadora do curso de Ortóptica da Escola Superior de Saúde do Porto, também destaca a importância destas ações de rastreio. "O nosso objetivo é fazer a diferença na vida destas crianças. Para muitas, esta é a única forma de obter um diagnóstico. Os nossos alunos de 3.º ano ajudam no rastreio, supervisionados pelos professores", adianta.
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Projeto da Fundação VAN inclui consultas de oftalmologia e a oferta de óculos (lentes e armações) aos alunos mais carenciados.
© Pedro Granadeiro/Global Imagens
Projeto "Salta à Vista"
Rafaela Santos, de 10 anos, aluna do 5.º ano, "já tinha ido a um doutor" antes. "Ele disse que via um bocadinho mal, mas que ainda não precisava de óculos. Agora vim fazer o rastreio para saber se melhorei ou se preciso de usar", explica, feliz com "um dia bom para as crianças que não conseguem ir ao médico quando precisam". Rafael, de 11 anos, fez ontem o seu primeiro rastreio à visão. "Vejo mal quando estou muito à frente ao pé do quadro, mas vou ver o que diz o médico", contou ao DN, enquanto esperava a sua vez para ser atendido. E enquanto crianças e jovens aguardam a sua vez, há outras atividades pedagógicas e lúdicas a decorrer, sob o olhar atento da mascote Essi (uma personagem concebida e produzida pela Essilor Portugal), que é uma simpática toupeira que passou a ver bem depois de começar a usar óculos e a quem foi dedicado o livro A Toupeira Que Passou a Ver o Mar.
"Alunos e professores são convidados a fazer um jogo de perguntas sobre saúde visual, de forma a sensibilizá-los para a importância da visão. É ensinar a ver bem para aprender melhor", explica Margarida Barata. O projeto "Salta à Vista" (https://saltaavista.pt/) é implementado ao longo de todo o ano letivo. A inscrição é gratuita e aberta a todas as escolas públicas e privadas e aos pais.
A semana de rastreios vai continuar ao longo do ano, com mais ações. O objetivo da VAN - Vision as Needed é chegar a 2 mil jovens carenciados. A fundação relembra que existem 16 mil crianças e jovens em Portugal com "anomalias visuais facilmente compensáveis com óculos e que uma em cada três crianças do ensino básico tem uma deficiência visual não detetada ou corrigida", sendo, por isso, "muito importante rastrear".
dnot@dn.pt