"Eu vou falar com um advogado para me informar sobre que leis foram quebradas, mas a minha intenção é prestar uma queixa contra a deputada Rita Matias”, afirmou ao DN o pai de uma das crianças cujo nome foi referido numa publicação que a deputada do Chega publicou nas redes sociais, para alegar que os filhos de imigrantes estão a ocupar vagas nas escolas portuguesas que poderiam ser para filhos de portugueses. Sobre esta publicação em concreto, o ministro da Educação, Fernando Alexandre, disse lamentar “este tipo de declarações”, ainda que tivesse apontado o “desafio” colocado por “essa diversidade cultural”, que considerou ser importante integrar. No mesmo dia, em declarações na Assembleia da República, depois de ter falado com professores, o líder do Chega, André Ventura, afirmou, sem apresentar dados, que tem havido “privilégio no acesso por parte de estrangeiros a vagas na escola portuguesa”.É com preocupação que o pai de uma menina de quatro anos, que surgiu na lista de nomes que Rita Matias divulgou, vê a sua situação atual. Disse ao DN que a família vive em Portugal desde 2019, e a menina ainda não é aluna, é candidata a frequentar a escola. O pai, entretanto, falou com o diretor da escola, que reafirmou que não há preferências para alunos imigrantes, ao contrário do que o Chega afirma,“Senti-me muito triste e com medo, principalmente pela segurança da minha filha”, destacou, depois do que leu nos órgãos de comunicação social, com “nomes a circularam em grupos de extrema direita”.“Nunca imaginei que isso poderia acontecer com a minha filha. Somos imigrantes e sei que somos um alvo, que podemos sofrer xenofobia, mas nunca imaginei que iria atingir-nos tão diretamente”, desabafou, antes de demonstrar preocupação pelo facto de estarem a utilizar “crianças para instrumentalizar e espalhar mentiras”.“Temos de criar vagas”“Para nós, essa diversidade cultural é riqueza e, claro, que coloca desafios”, disse ontem o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, durante uma conferência de imprensa no ministério, sobre as novas regras de utilização de smartphones nas escolas e sobre a revisão da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. “Temos de criar mais vagas e estamos a fazê-lo”, disse, questionado sobre as declarações da deputada Rita Matias, acrescentando que “no último ano letivo” Portugal teve “mais 700 turmas no sistema”.“No próximo, vamos ter outras tantas. O país está a crescer, está a ter mais crianças e temos de conseguir integrá-las. Temos tomado medidas pela integração dos imigrantes nas escolas portuguesas e o respeito pelo outro, pela diversidade, é absolutamente essencial até no contexto da disciplina de Cidadania”, concluiu.“Critérios de privilégio”Com o argumento de “dizer aos portugueses a realidade das escolas tal como ela é”, André Ventura afirmou ontem que a reunião que tinha acabado de ter com professores “reforçou” a sua “convicção” de que em Portugal tem havido “privilégio” de filhos de imigrantes no acesso às escolas.Sobre a revelação de nomes de crianças, nas redes sociais, por parte de Rita Matias, e no Parlamento, pelo próprio líder do Chega, Ventura afirmou que o partido o fez de forma convicta.“Voltaríamos a fazer para denunciar ao país a nova realidade das escolas, que aliás nos agradeceram”, vincou.Ventura revelou também , sem apontar dados concretos, “orientações que foram dadas às escolas” no sentido “de facilitar, priorizar e agilizar as matrículas dos alunos migrantes”. “Nós temos isso em documento. Documento que foi dado, aliás, no último governo, ainda de António Costa, e que tem servido para as escolas agilizarem, muitas vezes de forma a priorizarem o acesso destas crianças no ensino”, atirou.“Como digo, o Chega sabe que a educação é a ferramenta da inclusão, mas isso não pode ser feito à custa de quem já cá está, de quem com os seus impostos pagou o sistema de ensino”, insistiu, antes de revelar que o Chega vai ter “um ciclo de audições prolongado de professores e encarregados de educação”, para que “esta voz se faça ouvir no Parlamento”, para além de “propor que todas as orientações mais formais ou menos informais de priorizar ou agilizar matrículas estrangeiras sejam revogadas”..Comissão vai debater alteração na Lei da Nacionalidade e na Lei dos Estrangeiros .André Ventura anuncia projeto de suspensão do reagrupamento familiar de imigrantes