Em 2023, o mapa do internato das especialidades totalizou 2066 vagas. Foi o ano em que, pela primeira vez, se ultrapassou a barreira das duas mil vagas na formação médica específica. Para o ano de 2024, foram lançadas 2242 vagas, em 2025 baixaram para 2171. Este ano, o número volta a aumentar, passando para 2317 vagas, segundo o mapa que a Ordem dos Médicos já entregou ao Ministério da Saúde e à Administração Central dos Sistema de Saúde (ACSS) - organismo que avalia e aprova tais vagas até 31 de outubro, para que estas sejam publicadas em Diário da República e possam ser escolhidas pelos jovens médicos. A formação começa no início de janeiro sobretudo em unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS), já que as vagas para internato em hospitais privados ainda são residuais. Ao DN, o bastonário dos médicos, Carlos Cortes, diz que o número de vagas pedido para este ano “é o maior de sempre”, e deve-se ao facto de “haver um grande esforço por parte dos serviços para melhorarem as suas condições de trabalho e aumentarem a sua capacidade de formação”, porque também poderia acontecer o inverso já que, e como destaca, “se há menos médicos no SNS também é natural que haja menos capacidade formativa”, mas “o que vemos é que os serviços estão a trabalhar no sentido de dar mais formação”. Por isso mesmo, assinala que o processo de construção do mapa de vagas para a formação específica dos médicos “é muito dinâmico”, começa por assentar na “capacidade formativa dos vários serviços e das necessidades por especialidades a nível do país”. A partir daqui, e conforme determina a legislação, “todos os anos em junho a Ordem tem de desenvolver um processo interno de recolha de informação para as necessidades na formação, através de inquéritos e de visitas aos serviços para, no final de junho, entregar à tutela um mapa inicial com as necessidades formativas”.Depois, e até quase “ao momento da publicação deste mapa final de vagas há sempre serviços que fazem um esforço suplementar, no sentido melhorarem as suas condições para disponibilizarem mais vagas e formarem mais”. A questão que se coloca a seguir é se todas as vagas lançadas serão preenchidas, já que nos últimos anos o número das que ficaram desertas tem vindo num crescendo. Carlos Cortes confirma: “É uma tendência crescente”, concordando que “a instabilidade que marca a realidade do SNS tem contribuído para a situação”. Recorde-se que, nos últimos anos, tem sido notícia haver muitos jovens médicos que saem do país para fazer a especialidade no estrangeiro ou que preferem não se candidatar a qualquer especialidade e ficar a trabalhar no SNS como prestadores de serviço, sem vínculo a qualquer unidade. Os dados da ACSS indicam que o internato de 2023 ficaram por ocupar 161 vagas, sobretudo na área da Medicina Geral e Familiar, no de 2024, foram 406 e, no internato de 2025, 307. No final de novembro, e após as candidaturas, saberemos o que acontecerá em relação ao mapa para 2026, mas o bastonário não antevê “algo de muito diferente: ou se consegue estancar esta tendência ou as vagas desertas aumentam”.Mas há uma coisa que Carlos Cortes destaca: “A formação que se dá em Portugal é das melhores do mundo. É das melhores do mundo. É o feedback que temos, mas isto não implica que não se reflita sobre ela até para a modernizar, no sentido de darmos melhores condições aos médicos internos ao longo da sua vida profissional”. Aliás, sublinha, “é isso mesmo que a Ordem está a tentar fazer ao aprovar um documento com 25 medidas, que vai ser entregue à ministra da Saúde, que considera poderem ser a solução para melhorar as condições de trabalho dos médicos internos no SNS. “A formação deve ser uma prioridade. Por isso, defendemos os médicos internos deveriam ter número de horas obrigatório para “estudo” e para “investigação”. Quase 700 vagas para formar médicos de famíliaDo total de vagas, Carlos Cortes refere que a maior fatia vai para a área dos Cuidados Primários, 691 são para a especialidade de Medicina Geral e Familiar e 60 são para a de Saúde Pública, mais 66 e 11 vagas, respetivamente, face ao internato de 2025, sublinhando: “Como vê, há um grande esforço dos serviços para aumentarem a formação”. Seguem-se as especialidade hospitalares, e, nesta área, o maior número de vagas, 204, vai para a especialidade de Medicina Interna, uma das mais importantes na área das urgências e que fica com mais 19 face ao internato que começou este ano. Mas o mapa para 2026, já contempla 31 vagas para a recente especialidade de medicina de urgência, as quais, refere o bastonário, “são as necessárias”. Segundo explica, estas foram distribuídas pelo território nacional e ilhas, de acordo com “uma visão de emergência do país, mas, obviamente, é uma especialidade que tem de estar mais centralizada em hospitais com grandes centros de trauma, embora quem tem menos urgências também tenha recebido vagas”Como se trata da mais recente especialidade médica, a Ordem está a criar uma comissão para acompanhar a formação nesta área. “Este número inicial de 31 vagas é um número responsável, para que a especialidade possa começar bem. Queremos que esta formação seja acompanhada também pelos hospitais e pelo próprio ministério para que haja a capacidade de se fazerem melhorias”. Já Ginecologia-Obstetrícia e Cirurgia Geral são das especialidades que vêm as suas vagas ser reduzidas, embora pouco. A primeira é contemplada pela Ordem com 58 vagas, menos duas do que no internato de 2025, e a segunda com 76, menos seis também. Ortopedia em 2026 vai ter menos uma vaga para formação, de 60 passa para 59. Oftalmologia e Dermatologia terão, respetivamente, 21 e 15. E Pediatria 114, mais 11 do que o internato de 2025..Hospitais contrataram 793 novos médicos, cerca de metade das vagas disponíveis.Médicos marcam greve para 24 de outubro, dia em que há paralisação geral da Função Pública