O ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, enviou um ofício aos procuradores do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, responsáveis pela investigação da operação “Mais Valia” a manifestar a sua vontade e disponibilidade em facultar ao Ministério Público (MP) e à Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária (PJ) o equipamento informático que contém a caixa de e-mails que utilizou na FPF. Na missiva, o atual presidente do Comité Olímpico de Portugal, deixou ainda a garantia de que iria autorizar a Microsoft a disponibilizar todos os dados solicitados pelas autoridades relacionadas com o conteúdo das sua conta na Federação.O ofício foi remetido ao DIAP há mais de uma semana, depois de Fernando Gomes ter tido conhecimento, através de uma notícia da CNN Portugal, no passado dia 25 de setembro. Dizia que os investigadores, coordenados pelo magistrado Pedro Botas, queriam aceder ao e-mail que este usara durante os quase 14 anos, mas que “a operação de recuperação dos dados de correio eletrónico, ocorrida em março passado durante a ação de buscas deste processo-crime aberto em 2021, acabou por se tornar impossível”, pois tinha sido tudo apagado e Gomes tinha levado o equipamento consigo. “Fernando Gomes limitou-se a trazer o seu computador, o iPad e o telemóvel, como puderam fazer todos os colaboradores que saíram naquela altura da FPF, tendo a Federação deduzido os respetivos valores dos aparelhos aos créditos que eram devidos a quem saiu”, disse à CNN fonte oficial do antigo presidente.De acordo ainda com a estação televisiva, a PJ e o MP estiveram centrados, nos últimos seis meses “na obtenção destes dados”, incluindo um pedido formal à Microsoft.Contactada pelo DN para comentar a iniciativa, fonte autorizada próxima de Fernando Gomes, declinou. “Não há mais nada a acrescentar além do que foi escrito na carta”, sublinhou. O DIAP ainda não terá reagido à missiva, nem chamou Gomes para depor.A operação “Mais Valia” investiga suspeitas de crimes de recebimento indevido de vantagem, de corrupção, de participação económica em negócio e de fraude fiscal qualificada, relacionados com a venda da antiga sede da FPF, na Rua Alexandre Herculano, durante o período em que Fernando Gomes presidia a este organismo.O processo teve grande atenção mediática quando, em março último, no dia em que Gomes tomava posse no COP, numa cerimónia no Centro Cultural de Belém, a PJ e o DIAP fizeram buscas em 19 locais, entre os quais na nova sede da FPF. Segundo o comunicado da Judiciária, à data, foram “identificadas um conjunto de situações passíveis de integrarem condutas ilícitas relacionadas, sobretudo, com a intermediação da venda” do edifício em questão, por mais de 11 milhões de euros. Não houve detidos, mas foram constituídos dois arguidos: o advogado e antigo deputado do PS António Gameiro, que terá intermediado o negócio em nome de uma empresa da mulher, e também o antigo secretário-geral da FPF e ex-assessor de Gomes, o advogado Paulo Lourenço.Apesar de ter chegado a ser noticiado que Fernando Gomes e Tiago Craveiro (ex-diretor-geral da FPF) eram arguidos, tal não se confirmou. Numa intervenção que acabou por marcar a posse de Gomes no COP, o diretor nacional da PJ, Luís Neves, refutou. "Fernando Gomes e Tiago Craveiro não são visados nesta investigação, não há qualquer indícios (...) Estou aqui a dar a cara para que fique esclarecido e para que Fernando Gomes não se sinta diminuído por esta nossa ação", disse Luís Neves.Contactado pela CNN Portugal para esclarecer se mantinha o que disse na altura das buscas, Luís Neves respondeu, por escrito, através do gabinete de imprensa da PJ: “As declarações à data, proferidas pelo Diretor Nacional da Polícia Judiciária, mantêm-se. Sublinha-se, ainda, que qualquer investigação criminal, em sede de inquérito, compreende um conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e recolher as informações e provas, sobre o objeto do processo, onde quer que estas se encontrem.”