A imagem mostra o Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau 2024. A Torre de Macau, com 338 metros de altura, é um excelente local para apreciar a vista panorâmica da cidade. 
À direita, a Ponte Sai Van, com o se
A imagem mostra o Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau 2024. A Torre de Macau, com 338 metros de altura, é um excelente local para apreciar a vista panorâmica da cidade.  À direita, a Ponte Sai Van, com o seFOTO: Direitos Reservados

O retrato de uma história que se fez única

No ano em que se comemoram os 25 anos da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), impera perguntar: o que mudou na rotina da cidade desde o retorno à China?
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Nas comemorações do 25.º aniversário de Administração chinesa, as palavras de quem testemunhou de perto estas mudanças descrevem um período singular na História de Macau, marcado por triunfos, mas também por desafios.

Laços de confiança garantem a estabilidade

Não existe uma realidade “imutável”, mas há um “quadro de confiança” que fez com que muita gente de Macau optasse por continuar a viver na RAEM, diz Anabela Ritchie, antiga presidente da Assembleia Legislativa (AL) de Macau, e que reassumiu o lugar de deputada do órgão legislativo da RAEM após o retorno de Macau à China.

Muitos portugueses e macaenses ficaram em Macau após o estabelecimento da RAEM “porque sentiram, no fundo, que há um quadro de confiança que lhes permite querer continuar a viver em Macau”, afirma Anabela Ritchie. E acrescenta: “Eu fiquei porque queria ver como é que seria viver na RAEM e, 25 anos depois, ainda cá estou. Estamos exatamente a meio dos 50 anos estipulados pela Lei Básica e eu continuo em Macau e quero continuar a viver em Macau.”

A estabilidade da RAEM é um benefício, mas o desenvolvimento ao longo das últimas duas décadas e meia foi algo que surpreendeu Anabela Ritchie.

Antiga presidente da Assembleia Legislativa de Macau, Anabela Ritchie, que hoje se mantém como deputada neste órgão legislativo da RAEM. FOTO: Direitos Reservados.

“Se eu me tivesse ido embora de Macau e regressasse agora, acho que não reconheceria a cidade. O surto de desenvolvimento que Macau teve após a transferência de Administração torna esta Região Administrativa Especial bastante diferente daquilo que eu sonhava na altura. Foi um desenvolvimento muito rápido do ponto de vista económico, social e cultural”, sublinha Anabela Ritchie, que atualmente desempenha funções como membro do Conselho da Universidade de Macau.

Segundo a antiga presidente da AL, é necessário continuar a fazer “grandes esforços” para manter a singularidade da RAEM, especialmente durante um período de maior integração com o interior da China, nomeadamente no projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

“Em qualquer processo de integração há um período que implica novos hábitos, costumes e aprendizagens, que levam o seu tempo. Mas sou uma defensora acérrima de que devemos proteger o mais possível as marcas identitárias de Macau”, salienta Anabela Ritchie.

A antiga dirigente revela que sentiu “uma vontade muito grande”, de todas as partes, para que, após a transferência de Administração, “houvesse laços de boa colaboração” entre a China e Portugal. “Assisti à feitura da Lei Básica e, nessa altura, falava-se muito em salvaguardar as relações de respeito e de amizade entre a China e Portugal”, diz Anabela Ritchie. “As relações entre a China e Portugal não só foram mantidas, mas foram melhoradas.”

“Acho que isso foi alcançado e até aprofundado, até pelo papel que a China atribui a Macau como plataforma para a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa”, acrescenta.

Muitas mudanças numa transição pacífica

“O que mais importa salientar neste processo foi que se tratou de uma transição pacífica de uma Administração Portuguesa para uma Administração Chinesa.” É a primeira afirmação de Rui Martins, vice-reitor da Universidade de Macau (UM) há cerca de 27 anos, que diz que essa estabilidade “permitiu que Macau se desenvolvesse significativamente ao longo destes 25 anos”, ultrapassando os obstáculos que foram surgindo pelo caminho.

Rui Martins ressalva que a criação do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) foi outro passo marcante, “porque permitiu manter aqui o ensino da língua portuguesa, nomeadamente a nível do Departamento de Português e a nível da Faculdade de Direito, tendo aumentado, em muito, os alunos interessados em estudar Português”.

O vice-reitor lembra que a UM recebeu no final de outubro um fórum de reitores de instituições da China, dos países de língua portuguesa e de Macau, “que se focou precisamente na questão do Português em Macau e na China” e que demonstra que o “desenvolvimento nesta área é enorme”.

Há cerca de 27 anos na vice-reitoria da Universidade de Macau, Rui Martins conheceu esta Instituição do Ensino Superior antes e depois da Administração chinesa. FOTO: Direitos Reservados

Rui Martins, que reside em Macau desde 1992, diz que a região registou “mudanças significativas” desde o retorno à China. “Mas devo dizer que a nossa maneira de viver, o dia a dia manteve-se inalterada. Atualmente, a cidade tem mais atividades, mais trabalho, maior dinâmica, mas assente na grande estabilidade que existe aqui nesta região.”

Em termos da UM, foram dados passos essenciais para o desenvolvimento da instituição, realça o vice-reitor. “Eu já era vice-reitor em 1999. E a universidade tinha à volta de 3000 alunos e eu era o único vice-reitor. Neste momento, a universidade tem cerca de 15 000 alunos - sendo metade de cursos de licenciatura e metade de mestrados e doutoramentos - e cinco vice-reitores”, afirma.

Segundo Rui Martins, a dimensão atual da UM é demonstrativa do “crescimento astronómico da universidade durante este período, inclusive agora com planos para a criação do novo campus também na Ilha de Hengqin, que terá mais ou menos a dimensão de metade do actual campus, com novas faculdades e cursos”.

O académico elogia o trabalho que tem sido feito pelas autoridades no que diz respeito à integração regional, destacando que a UM já deu vários passos nesse sentido.

“Nós já temos um instituto de investigação em Zhuhai há cerca de seis anos, empenhado no desenvolvimento de atividades de investigação e transferência de tecnologia e de colaboração com as empresas chinesas em Zhuhai, Shenzhen e na Grande Baía”, realça o responsável.

O instituto foi constituído como um “centro conjunto de Zhuhai e Macau” para apoiar a integração de Macau no desenvolvimento do país, assim como uma plataforma destinada à transferência de ciência e tecnologia.

“Estamos a preparar as coisas para a nossa influência na Grande Baía ser ainda maior. Mas isto é uma coisa que leva tempo e acredito que na próxima década iremos observar esse desenvolvimento”, sublinha Rui Martins.

TEXTO Tiago Azevedo

O texto e a imagem desta página são extraídas da REPORTAGEM ESPECIAL em comemoração dos 25 anos da Região Administrativa Especial de Macau, publicada na revista Macau, em dezembro de 2024.

INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS

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