O perigo de ter o ódio e a desinformação à solta
Ataque a imigrantes no Porto e as fontes do problema
Sábado, 4 de maio
O ataque a um grupo de imigrantes no Porto, no interior da habitação onde estes residiam, colocou o país a discutir crimes de ódio, racismo e questões de segurança. A rápida intervenção da polícia permitiu, pelo menos, deter e identificar os agressores, todos de origem portuguesa e suspeitos de estarem ligados a movimentos de extrema-direita. As reações políticas foram, como seria de esperar, de condenação. Os efeitos do desmantelamento do SEF na qualidade da fiscalização de quem entra no país, a lentidão da AIMA na regularização de centenas de milhares de processos e no efetivo acompanhamento e integração destas pessoas na sociedade e a retórica de algumas forças políticas que insistem em deixar implícita uma ligação entre imigração e criminalidade (mesmo que as estatísticas oficiais não o confirmem) tomaram conta do debate público e desviaram o foco de uma das principais fontes do clima de intolerância que se vai instalando aos poucos no país: o papel das redes sociais na divulgação das mensagens xenófobas.
São vários os exemplos em Portugal. De supostos influencers a grupos organizados, que postam e repostam vídeos feitos à medida para mais portugueses apontarem o dedo discriminatório a quem chega de fora, culpando-os de tudo o que de mal se passa no país. Basta olhar para as caixas de comentários para perceber que ter o ódio à solta pode ser perigoso.
Um título que assenta que nem uma luva a este Sporting
Domingo, 5 de maio
A noite de domingo foi de festa para os adeptos do Sporting. A derrota do Benfica em Famalicão fechou, matematicamente, as contas do título de campeão nacional, conquistado pela 20.º vez pelo clube de Alvalade. O troféu assenta que nem uma luva a este Sporting. Não só foi mais competente e consistente do que os principais rivais ao longo de toda a temporada – só perdeu dois jogos até agora, ambos fora e pela margem mínima, frente a Benfica e V. Guimarães -, como foi também a equipa que melhor futebol praticou, embalada por uma capacidade ofensiva fora do vulgar que está expressa nos números: é o melhor ataque da Liga com 92 golos, a larga distância do Benfica (71), e tem no plantel aqueles que são, a duas jornadas do fim, o melhor marcador do campeonato (Gyökeres, 27 golos) e o rei das assistências (Pedro Gonçalves, 12).
Mas a história do título não se conta sem destacar três nomes que atuaram fora das quatro linhas: o do presidente Frederico Varandas, que não hesitou em manter a equipa técnica em Alvalade após a desilusão com o 4.º lugar da época passada; o do diretor desportivo Hugo Viana, protagonista nas decisivas contratações de Gyökeres e Hjulmand (um forte investimento, na ordem dos 40 milhões, em dois atletas fundamentais e que já muito se valorizaram em Alvalade) e, principalmente, o do treinador Rúben Amorim, maestro e principal executor da estratégia do clube para o futebol.
Troca em altos cargos. “Não vale a pena criar casos”
Segunda-feira, 6 de maio
Em pouco mais de um mês, o Governo de Luís Montenegro já procedeu a três alterações de fundo em altos cargos públicos – primeiro, aceitou o pedido de demissão de Fernando Araújo da Direção Executiva do SNS; depois exonerou a Provedora da Santa Casa da Misericórdia, Ana Jorge; e esta segunda-feira promoveu a mudança do diretor nacional da PSP escolhendo Luís Carrilho para o lugar de José Barros Correia, que estava no posto desde setembro. Tudo normal, explicou o primeiro-ministro: “Nós iniciámos um ciclo novo de Governo, dentro desse ciclo é natural que haja substituições de altos cargos de responsabilidade que têm a ver com a execução do Programa do Governo e com o exercício de responsabilidades que têm tutelas políticas. É preciso dizer isto com naturalidade, sem dramatismos. Não vale a pena estarmos a criar casos”.
Certo é que a substituição de Barros Correia na liderança da PSP não caiu bem junto dos sindicatos daquela força policial, que continuam a negociar com o Governo o pagamento de um suplemento de missão (promessa eleitoral da AD). A primeira proposta apresentada pela ministra Margarida Blasco mereceu palavras duras da parte de Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Polícia: “Não chega sequer a ter dignidade para ser uma proposta.” A MAI informou que a nomeação de Luís Carrilho está relacionada com “a profunda reestruturação da PSP” que o Governo quer fazer. O objetivo é legítimo, mas alcançá-lo sem paz nas polícias será muito mais complicado.
Nova era no Dragão abre com elogios e recados
Terça-feira, 7 de maio
7 de maio de 2024 fica na história do FC Porto. Neste dia, André Villas-Boas tomou posse como presidente do clube portuense, que nos últimos 42 anos foi liderado por Pinto da Costa. Na cerimónia no Dragão, Villas-Boas começou por assinalar uma coincidência (é o 32.º presidente do clube e tinha 32 anos quando se tornou treinador dos dragões, na vitoriosa época 2010/11) mas rapidamente centrou o discurso nos desafios que tem pela frente e na necessidade de os abraçar tão rápido quanto possível. Nesse sentido, fez um apelo direto aos administradores da SAD para renunciarem aos cargos antes do fim do prazo estatutário (28 de maio), mas, na resposta, minutos depois, Pinto da Costa fez saber que só abandona a estrutura que comanda o futebol após a final da Taça de Portugal, a 26 de maio, frente ao Sporting, pois faz questão de se sentar no banco ao lado de Sérgio Conceição nesse jogo no Jamor. No primeiro dia da nova era no FC Porto, Villas-Boas fez ainda questão de recordar o ciclo que se fecha – 15 355 dias de Pinto da Costa, com 2591 títulos em 21 modalidades, 68 dos quais no futebol sénior – com um elogio feito, olhos nos olhos, ao seu antecessor: “O presidente dos presidentes não é metáfora! É memória, é respeito e gratidão, mas é sobretudo obra, vitória e glória. (...) O seu legado é eterno e será sempre respeitado.”
Steve Albini, um engenheiro do meu edifício musical
Quarta-feira, 8 de maio
Ter o ouvido desperto para a música, todo o tipo de música, estando atento às correntes atuais, é um prazer que cultivo quase diariamente e que impede que o meu gosto musical cristalize e fique restrito a uma dúzia de bandas que já desapareceram ou não apresentam novos trabalhos há algum tempo. Mas, tenho a certeza, há sempre um alicerce principal que perdura e molda as novas camadas que vamos adicionando ao edifício musical que construímos ao longo da vida. No meu caso, esse alicerce data dos finais dos anos 80 e início dos 90 do século passado e numa série de grandes discos de indie rock que surgiram num curto espaço de tempo e que se tornaram verdadeiros clássicos.
A unir alguns desses trabalhos surge o nome de Steve Albini, o músico e “engenheiro de som” (como gostava de ser chamado), que produziu, entre muitos outros, os discos Surfer Rosa (1988), casa do 'hino' dos Pixies, Where is My Mind?; Pod (1990) , álbum de estreia dos The Breeders, de Kim Deal, a lendária baixista dos Pixies, que estarão em Portugal em julho no NOS Alive; In Utero (1993), o último disco de originais dos Nirvana que teve a responsabilidade acrescida de ser o follow up do estrondoso sucesso de Nevermind; e Rid of Me (1993), o segundo trabalho de PJ Harvey, cantora e compositora britânica que recordou Albini como um “sábio, gentil e generoso” que lhe mudou “o curso da vida” e a projetou para uma carreira prolífica que voltou a dar frutos em 2023 com o lançamento de I Inside the Old Year Dying. Steve Albini morreu aos 61 anos, em Chicago, após sofrer um ataque cardíaco.
A desinformação e a ameça às democracias europeias
Quinta-feira, 9 de maio
No Dia da Europa, quando falta um mês para os portugueses e demais cidadãos da UE serem chamados a votar nas eleições para o Parlamento Europeu, foram várias as mensagens de apelo à continuidade da construção de um continente “unido, pacífico e próspero” (Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia), gestos e medidas de apoio à Ucrânia na resposta à invasão russa (Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, quis assinalar a data festiva com uma deslocação a Kiev, a “terra dos corajosos”), bem como incentivos à participação eleitoral perante os desafios que os diferentes países têm em comum – os efeitos das “guerras”, as “alterações climáticas” e a “emergência do populismo, do ódio e da intolerência”, listou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Com o ato eleitoral à porta, outro perigo à espreita é o da desinformação e a forma como esta pode condicionar o voto dos europeus. Nesse sentido, o Youtube anunciou que, no ano passado, removeu da plataforma mais de 35 mil vídeos carregados a partir da UE que violavam as suas políticas de desinformação, tendo ainda anunciado a implementação de novas ferramentas para ajudar os eleitores a encontrar “notícias e informações eleitorais úteis e confiáveis”. Pode ser uma gota no oceano, mas é preciso começar por algum lado.
Rússia volta a visar região de Kharkiv
Sexta-feira, 10 de maio
Um dia depois da Rússia ter festejado o seu Dia da Vitória, com Vladimir Putin a recordar, novamente, o poder nuclear do país – “não permitiremos que ninguém nos ameace, as nossas forças estratégicas estão sempre prontas para o combate” –, Moscovo lançou uma forte ofensiva terrestre na região de Kharkiv (nordeste da Ucrânia) tentando reocupar território que já esteve sob controlo militar russo nos primeiros meses da guerra (que começou a 24 de fevereiro de 2022) e que seria depois recuperado pelas forças de Kiev. A operação russa tenta também aproveitar o momento de alguma fragilidade na Defesa ucraniana, conhecidos que são os problemas de falta de pessoal, armamento e munições que se acentuaram nos últimos meses com os atrasos na entrega de ajuda ocidental. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, admitiu que se está a travar “batalha feroz” na região de Kharkiv, já depois do ministério da Defesa ter revelado que a Rússia tinha conseguido avançar cerca de “um quilómetro” sob a “cobertura de veículos blindados”.