Em entrevista ao DN, entre Bruxelas e Dubrovnik, a vice-presidente da Comissão Europeia, Dubravka Šuica, fala das perspetivas demográficas da Europa. A croata que assume as pastas da Demografia e da Democracia defende a criação de infraestruturas para fixar o conhecimento para tornar "mais vibrantes" o interior e as zonas rurais..A Europa está condenada a ser um continente envelhecido? Da minha parte, não usaria a palavra condenada. O envelhecimento é, na verdade, algo muito positivo. De acordo com os nossos relatórios sobre alterações demográficas, a esperança de vida aumentou em dez anos, nas últimas cinco décadas. É uma grande conquista. Vivemos mais e com boa saúde. Isso é um problema? Penso que não. Pelo contrário. Há desafios com o envelhecimento. Por isso, é hora de agir, de abordar a questão e transformá-la em oportunidade..O que pode fazer a Comissão para melhorar a qualidade de vida no envelhecimento? Estamos a trabalhar no Livro Verde sobre o Envelhecimento, que terá uma abordagem do ciclo de vida, com todas as idades, analisando desafios e oportunidades. Existe um potencial inexplorado, com origem na possibilidade de vidas mais longas e ativas. E há um empreendedorismo sénior. O envelhecimento pode ser um impulsionador para a inovação, o rápido desenvolvimento da "economia de prata" (gerada em torno do envelhecimento), mais possibilidades de voluntariado, aconselhamento intergeracional, aprendizagens e assim por diante..A Comissão tem acompanhado o impacto da pandemia na população mais velha? É cedo para certezas. Na minha opinião, é uma lupa em muitos aspetos. Podemos perceber como os setores demográficos são afetados, na forma como este vírus se dissemina e consequentemente que impacto terá em vários aspetos das nossas vidas. Pensemos em áreas densamente povoadas vs. áreas remotas com pouca população. Pensemos na maneira como afeta mulheres e homens, ou dentro das famílias, e como isso se espalha entre gerações. Há uma vulnerabilidade particular que todos conhecemos. Os idosos têm sido mais vulneráveis, mais expostos e, infelizmente, temos de lamentar a morte de muitos entre eles. E, isso ainda está a acontecer..Algumas regiões debatem-se também com a dificuldade em fixar "especialistas, intelectuais e pessoas com formação". Qual vai ser a atuação da Comissão nesta área? Será sempre uma abordagem como um fato à medida. As regiões são diferentes umas das outras. Nem sempre o problema é o mesmo numa região de Espanha ou na Bulgária. Visitei dez Estados membros e as suas regiões, antes desta pandemia. Percebi as diferenças de região para região. Precisamos de soluções à medida, para ajudar as autoridades nacionais, mas também as regionais e locais. Não é um fato de tamanho único para todos..A Comissão olha para o que as novas realidades provocadas pela pandemia, como por exemplo o teletrabalho, podem trazer? A nova dependência do trabalho em casa destacou a importância da transição digital. Nem todo o trabalho pode ser feito remotamente. Não podemos escolher como as pessoas querem trabalhar. Mas podemos melhorar as ligações, o acesso à infraestrutura e os serviços. E com a transição verde e digital - prioridades desta Comissão - podemos tornar as regiões e zonas rurais muito mais vibrantes. Com objetivos dinâmicos, com uma combinação de vida saudável e lucrativa conforme o empreendedorismo. Em última análise, o que torna a Europa mais forte é a combinação saudável entre o meio urbano e rural, em que ninguém é deixado para trás..Isso já está a acontecer em algumas regiões... Vi impressionantes vilas de startups em Espanha e que povoam as regiões em que se inserem, muito inovadoras a trazer a vida de volta a zonas rurais. Também conheço histórias de sucesso semelhantes no sul dos Países Baixos, onde também enfrentaram problemas de despovoamento. Estamos a tentar aprender os exemplos de melhores práticas..Quando olhamos para o mapa demográfico da Europa, verificamos que o sul está perder jovens e pessoas qualificadas. A Comissão está ciente disso? O que está a fazer contrariar a tendência dos últimos anos? Quando falamos sobre fuga de cérebros, também podemos falar sobre ganho de cérebros. Podemos falar sobre a perda de qualificações, mas ao mesmo tempo podemos falar sobre ganhos de gente qualificada, devido à circulação do conhecimento. As pessoas deslocam-se para várias regiões. E, ao mesmo tempo, podem ganhar novas competências, mais conhecimento, e novas experiências, e então talvez possamos trazê-las de volta..Como? Precisamos de infraestruturas nas zonas rurais ou para o sul da Europa. Algumas pessoas saem para estudar e ficam por lá, casam-se. As causas não são meramente económicas, mas também são. Por exemplo, ninguém imagina a vida sem banda larga. Precisamos de criar condições. Há pessoas que começam a culpar a democracia, quando a razão é a demografia. Abre-se espaço para o populismo. Esse é um debate que queremos fazer na conferência sobre o futuro da Europa. Tenho a certeza de que iniciaremos a discussão na presidência portuguesa.