Se está entre os mais de 800 mil condutores portugueses que, em 2022, foram apanhados em excesso de velocidade, saiba que o cerco aos incumpridores vai aumentar já a partir de setembro. É logo no dia 1 (sexta-feira) que entram ao serviço 37 novos locais de controlo de velocidade em todo o país, incluindo 12 dispositivos capazes de medir a velocidade entre dois pontos de um troço. O objetivo da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) é aumentar "o combate à sinistralidade rodoviária" e diminuir o número de acidentes..Esta será apenas a primeira fase do processo de duplicação dos locais fiscalizados por esta via, confirma a ANSR, e que prevê a instalação total de 62 novos pontos de controlo de tráfego. "O Sistema Nacional de Controlo de Velocidade (Sincro) tem atualmente 61 locais de controlo de velocidade. A sua capacidade vai ser duplicada com os 62 novos locais", escreve a entidade em comunicado. Entre as novas máquinas - cuja adoção implicou um investimento de 5,6 milhões de euros pela ANSR - encontra-se a maior novidade em território nacional: a inclusão de radares de velocidade média. Os dispositivos permitem "o controlo da velocidade média entre dois pontos e a capacidade para medir, em simultâneo, a velocidade de vários veículos"..Significa isto que, nas estradas abrangidas, já não será possível aos condutores contornar este meio de fiscalização. Se com os radares tradicionais, os automobilistas "chegavam ao sítio e travavam para, uns metros à frente, voltarem a acelerar", com este sistema isso não deverá acontecer da mesma forma, considera José Miguel Trigoso. O presidente da associação Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) considera, por isso, que "os radares de velocidade média são mais preventivos" e que vão ao encontro das recomendações da Comissão Europeia..Apesar de concordar com o aumento da fiscalização, a GARE - Associação para a Promoção de uma cultura de Segurança Rodoviária lamenta a forma como foi desenhada a campanha de sensibilização promovida pela ANSR a este propósito. "A campanha está muito focada na questão do radar que salva vidas. Não é o radar que salva vidas, mas sim a diminuição da velocidade e isso é importante", explica ao DN a presidente Filomena Araújo..Para a responsável, o esforço das autoridades e da sociedade civil deve ser canalizado para "projetos que mudem a cultura das pessoas sobre segurança rodoviária", com foco na redução da velocidade praticada nas estradas portuguesas..A partir da próxima sexta-feira, 1 de setembro, há uma dúzia de novos radares de velocidade média espalhados pelo país que começam a funcionar em pleno - a estes 12 vão juntar-se mais 11 em data a anunciar. No total, entre radares de velocidade instantânea e radares de velocidade média, serão 62 os novos locais de controlo. De acordo com informação da ANSR, a maioria destes equipamentos (70%) estão localizados em estradas nacionais (EN) e itinerários principais (IP) e complementares (IC) "que concentram 47% das vítimas mortais" registadas..A identificação dos chamados pontos-negros das estradas esteve na base da escolha dos locais que recebem, agora, a nova geração de radares. É nestes troços que, de norte a sul, são registados mais acidentes que provocam mortes e feridos graves..A experiência acumulada ao longo de sete anos de funcionamento dos atuais 61 locais de controlo de velocidade mostram "inequivocamente", segundo a ANSR, o seu papel no combate à sinistralidade rodoviária. "Quando comparado com igual período anterior à data de funcionamento deste sistema, registaram-se menos 36% de acidentes com vítimas, menos 74% de vítimas mortais, menos 44% de feridos graves e menos 36% de feridos leves"..Os novos radares de velocidade média que iniciam funções a 1 de setembro estão nos distritos de Aveiro (A1 e A25), Braga (A3), Coimbra (EN109), Lisboa (IC2, EN10 e IC19), Porto (A42, A3 e EN211), Santarém (A1) e Setúbal (EN10). A lista completa de radares pode ser consultada no site www.radaresavista.pt..Além de ter sido um ano marcado pelo início da pandemia, 2020 foi também o momento para a assinatura da Declaração de Estocolmo, um acordo que Portugal subscreveu e que prevê a redução da velocidade máxima dentro das localidades para 30 km/hora. Aqui mesmo ao lado, em Espanha, esta tendência fez com que 70% das vias urbanas no país passassem a proibir a circulação acima dos 30 km/hora e os efeitos estão à vista - em Pontevedra, onde a limitação é aplicada desde 2011, o número de acidentes e de vítimas encolheu..A cidade espanhola baixou a frequência dos acidentes (de 531 em 2011 para 351 em 2022), das vítimas ligeiras (de 171 para 77) e graves (de 21 para quatro)..Sobre a possibilidade de Portugal adotar esta redução do limite de velocidade nas localidades, o presidente da PRP defende que "em alguns locais isso deve acontecer, em outros não" e diz que o bom senso deve ser a regra na definição destas medidas. "Se exagerar na redução da velocidade e colocar [o limite nos] 30km/hora numa via em que se pode, pelas suas características, andar mais rápido, isso leva a uma falta de cumprimento e ao descrédito das velocidades máximas estabelecidas", acredita..Recorde-se que, de acordo com os especialistas, a probabilidade de sobrevivência de um peão atingido por um veículo que circule a 30km/hora é de 90%, um valor que desce para 20% se a velocidade for de 50km/hora. Em Portugal foram atropeladas 4744 pessoas, das quais 70 foram vítimas mortais, em 2022..dnot@dn.pt