As “escolhas técnicas” de todo o equipamento que vai ser adquirido para as Foças Armadas até 2030, no âmbito do programa SAFE (Security Action for Europe), um financiamento que visa rearmar os países da União Europeia (UE), “resultaram de um grupo de trabalho envolvendo diversas entidades, das quais representantes do Estado-Maior-General das Forças Armadas, do Exército, da Marinha, da Força Aérea, das direções-gerais de Armamento e Património de Defesa Nacional, e de Política de Defesa Nacional, e da secretaria-geral do ministério da Defesa Nacional (MDN). Esta é a resposta de fonte oficial do ministério liderado por Nuno Melo, quando confrontado com os argumentos do grupo francês Naval Group para contrariar a opção do Governo pela aquisição de três fragatas italianas FREMM EVO da empresa italiana Ficantieri. “Não houve escolhas políticas, mas técnicas”, tinha já frisado o ministro, quando anunciou os países parceiros de Portugal neste investimento.A opção pela FREMM (Fragata Europeia Multi-Missão) EVO foi conhecida na semana passada e sabia-se no setor da defesa que o Naval Group estava convicto de que iria ganhar esta batalha. Contudo, como sublinha a mesma fonte oficial, “nessa capacidade em concreto, contou fundamentalmente a avaliação técnica da Marinha”.O Estado-Maior da Armada não quis falar oficialmente, mas especialistas militares consultados pelo DN, que acompanharam o processo, indicaram alguns dos critérios.As razões da Marinha “A FREMM EVO é uma fragata com relevante potencial de combate, apenas comparável às F110 espanholas, Type 26 inglesas ou T126 alemãs – todas elas mais onerosas que as FREMM EVO e inacessíveis via financiamento SAFE (por incorporarem mais de 35% do valor total em equipamentos, sistemas ou tecnologias fora da UE e do Espaço Económico Europeu)”. Este foi um dos critérios valorizados. Soma-se o facto de “com um deslocamento de 6700 toneladas e 144 metros de comprimento, ser uma fragata oceânica de alta capacidade, projetada para operações prolongadas, otimizada para luta antissubmarina (ASW), em quaisquer condições meteorológicas”. Para a Marinha, que “perspectiva serem estes os seus meios operacionais primários para os próximos 35 anos”, este é um “fator essencial”. Possui ainda "propulsão elétrica, sendo extremamente silenciosa, essencial para as operações antissubmarinas, sendo detentora de uma substancial autonomia" A guarnição embarcada, em linha com os números das fragatas da classe “Vasco da Gama”, afiançam estes peritos, "confere à FREMM boas características para missões prolongadas, designadamente em termos de sustentação em operação e de sobrevivência da plataforma"Estes mesmos especialistas lembram que “o conceito FREMM reflete o tipo de navio mais produzido na Europa, com 10 fragatas em Itália, duas no Egipto e oito em França, representando por isso um conceito extremamente amadurecido e de baixo risco, sendo a versão EVO a sua evolução, atualizada para as missões futuras”. Acresce ainda que numa Marinha como a portuguesa, “os navios do tipo fragata constituem a espinha dorsal da esquadra, como resulta de uma análise do emprego desta tipologia de navios, ao longo de largas décadas de serviço, incluindo nos últimos 35 anos as fragatas da classe “Vasco da Gama”.Um fator "determinante para continuar a cumprir a multiplicidade de funções” que desempenham – como navios-almirante de forças navais nacionais e aliadas, em missões de evacuação de não-combatentes, de interdição de áreas, de combate ao narcotráfico no alto mar, de apoio em situações de catástrofe, bem como de diplomacia através de presença naval - é a capacidade de embarcar pessoal e material para além da guarnição, seja o comandante de uma força naval e o seu estado-maior, sejam forças de fuzileiros ou equipamento de apoio humanitário e resposta a catástrofes”.As fragatas FREMM, pela sua dimensão, "são navios que potenciam esta flexibilidade de emprego, bem para além das missões puramente militares, dispondo de espaços de trabalho dedicados e de alojamentos para esse efeito. A título de exemplo, explicam estes especialistas, “as FREMM podem acomodar cerca de 200 pessoas, sendo por isso que a Marinha Italiana as utiliza regularmente como navio-almirante de forças navais”.Defendem que, operacionalmente, as FREMM EVO "têm capacidade de Ballistic Missile Defence, podendo proteger a quase totalidade do território continental relativamente a mísseis balísticos que sejam lançados de terra, ar ou mar, contra Portugal".Junta-se ainda outra capacidade, que é a do emprego de drones, nas suas diversas tipologias e ambientes de operação, fruto dos seus dois hangares para helicópteros, generoso convés de voo (compatível com o EH101 Merlin) e espaços dedicados à operação destes sistemas, a que acresce a capacidade de alojar os operadores".Naval Group contestaA Naval Group continua a acreditar que a sua proposta é a melhor. E esgrime vários argumentos: um deles é o preço das FDI (Fragata de Defesa e Intervenção), abaixo de 900 milhões de euros por cada unidade, bem como o facto de ser um navio de nova geração, em comparação com o conceito mais maduro da FREMM EVO.O outro é mais apelativo para o ministro da Economia do que para o da Defesa, Nuno Melo: os franceses acreditam que a escolha da FDI, e a entrada de Portugal no programa de desenvolvimento que lhe está associado, devolveria cerca de 20% do montante investido à economia nacional. Isto além de o Naval Group garantir que faria “toda a transferência de tecnologia e know-how” à Marinha portuguesa, como disse em novembro um responsável da empresa ao jornal Eco. E, tal como a proposta italiana, propunha-se fazer um “enorme investimento”, de dezenas de milhões de euros, no Arsenal do Alfeite, a principal base naval nacional.A proposta de valor do Naval Group, sabe o DN, contempla o envolvimento do grupo com empresas portuguesas, nomeadamente na escolha de firmas nacionais como fornecedoras de peças e equipamento às fragatas. Atualmente, o Naval Group compra 15% do que necessita para a sua operação na Europa, mas tem como objetivo duplicar essa percentagem, para 30%. Uma forma de reduzir os riscos de rotura de abastecimento através de uma cadeia logística mais curta.Por outro lado, o Naval Group tem em curso a concretização de acordos de parceria com duas empresas nacionais (uma da área da Defesa e outra da cibersegurança), mas que poderiam ser instrumentais na evolução e desenvolvimento futuro da FDI.Um outro argumento de peso na proposta francesa é a disponibilização do equipamento. O DN escreveu que a italiana Fincantieri terá sido a única empresa que garantiu a entrega das três fragatas até 2030, uma exigência de Bruxelas. Ou seja, teria sido este um dos principais fatores para a decisão pela firma italiana em detrimento das fragatas francesas.No entanto, apurou o Diário de Notícias, a proposta apresentada pelo Naval Group em 19 de novembro (11 dias antes do final do prazo) comprometia-se com a entrega da primeira FDI em março de 2030, a segunda em setembro do mesmo ano, e a terceira em dezembro de 2030.O Naval Group, aliás, tem previsto a entrega da primeira FDI à Marinha grega nas próximas semanas. O acordo de compra com o governo helénico foi assinado em 2022. Em meados de outubro, o Naval Group entregou a primeira FDI à Marinha Francesa, a Amiral Ronarc’h, seguindo-se agora outras quatro.Do ponto de vista técnico, a francesa FDI é uma fragata multimissão (multi-purpose) com capacidade em várias áreas de combate: anti-aéreo, anti-submarino, anti-navios de superfície e guerra assimétrica (drones, ciberataques, engenhos explosivos improvisados e terrorismo).É mais compacta (122 metros) do que a fragata italiana FREM EVO e pode ser manobrada por uma guarnição menor - 112 tripulantes - menos cerca de 30 dos que as principais concorrentes.O Naval Group coloca bastante peso na vertente electrónica da FDI, com dois data centers, sistemas completamente redundantes (para prevenir disrupções ou quebras operacionais) e possibilidade de atualizações frequentes de software, em vez de um MLU (midlife update, uma actualização a meio da vida útil do navio).A fonte oficial do Ministério da Defesa Nacional assegura que “vários critérios foram tidos em conta, tendo em consideração o Sistema de Forças, os compromissos NATO, o ciclo de vida e as especificidades logísticas, a tecnologia, prazos de entrega, entre outros”. E finaliza: “Os projectos selecionados, bem como as parcerias Estado a Estado, foram confirmados em Bruxelas no final de Novembro, ficando definidos desde então e insusceptíveis de alterações posteriores, nos termos das regras do SAFE. Quer isto dizer que as opções dos Estados já foram tomadas”.Na semana passada, o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, revelou que eram cinco os países - Itália, França, Finlândia, Alemanha, Espanha e Bélgica - de origem das empresas escolhidas para fornecer cerca de 5,8 mil milhões de euros em equipamento militar a Portugal, ao abrigo do programa europeu SAFE. Nuno Melo classificou a compra de material prevista como um “investimento histórico”. O montante destinado às três fragatas ascende a cerca de 3.000 milhões de euros.Na altura, o ministro sublinhou que para as opções que foram tomadas foram consideradas contrapartidas que tivessem em conta o “retorno para a economia e o envolvimento da indústria nacional”. .Portugal escolhe fragatas italianas FREMM EVO para reforçar a Marinha