Com mais uma ordem de demolição prevista para esta semana no bairro do Talude, em Loures, os moradores vão tentar buscar na justiça uma ação cautelar para evitar o despejo. “Buscamos apoio jurídico para estas medidas judiciais e tentar proteger estas famílias”, explica ao DN o deputado municipal Kedy Santos, também integrante do movimento Vida Justa, que apoia os cidadãos do local desde o início dos despejos.Os moradores receberam a notificação esta semana, com um aviso prévio de 48 horas. Em resposta ao DN, a Câmara Municipal de Loures (CML) destaca que “em causa estão edificações recentes, erguidas por ocupantes que já tinham construído no mesmo local, configurando situações de reincidência”. No total, a ordem é de demolir seis barracas.Apesar de o município não confirmar a data exata da demolição, a contar do aviso prévio, as retroescavadoras devem entrar no bairro na quinta-feira, 28 de agosto. “Os moradores estão a sentir-se muito pressionados, vivem com essa sensação de insegurança. Alguns estão a dormir em tendas e só decidiram erguer algum espaço para poderem dormir em melhores condições”, destaca. “Estas pessoas estão em constante busca de uma vida melhor para os seus filhos”, acrescenta.De acordo com Kedy Santos, a situação é a mesma de julho, quando uma grande operação demoliu 55 barracas de famílias que moravam no local. “A solução que a câmara apresenta para essas famílias ainda é a mesma apresentada sensivelmente há dois três meses, de encontrarem uma renda, uma caução e saírem, não é? Ou seja, não é uma solução, porque elas não conseguem encontrar casas com valores que comportem o que a Câmara está a oferecer ou que os salários delas consigam acompanhar”, contextualiza o deputado municipal. “É por isso que as pessoas continuam lá”, complementa..Talude Militar: Sem alternativa, moradores do bairro insistem numa vida entre os “escombros”.Segundo a CML, “duas destas estruturas estavam anteriormente identificadas como arrumos de ferramentas agrícolas, mas foram, entretanto, transformadas em alojamento improvisado”. Com mais detalhe, destaca que “entre os casos agora identificados, encontra-se uma família que já tinha visto a sua estrutura demolida em 2024 por duas vezes, altura em que recebeu apoio económico da autarquia para caução e primeira renda, tendo regressado posteriormente ao Bairro do Talude. Outras quatro famílias tinham sido acompanhadas pelos serviços de Ação Social em demolições anteriores: três recusaram assinar consentimento ou aceitar alojamento em pensão, e uma declarou estar à procura de alternativa habitacional. Uma família continua ainda por identificar”, informa.Segundo Kedy Santos, as respostas dadas pela CML, nomeadamente alojamento em pensões, não salvaguarda os moradores. “Não são alojamentos satisfatórios, porque inclusive até há famílias que estavam em pensões que não foram cuidadas pela Câmara. Essas famílias abdicaram porque aquilo não oferecia condições nenhuma e eles tinham com dificuldade em gerir a sua vida, não tinham condições para viver como se fosse uma casa”, detalha.Na visão do Executivo de Loures, os moradores “insistem” na ilegalidade. “A Câmara lamenta que, apesar dos alertas das autoridades e do conhecimento da ilegalidade, algumas famílias insistam em reerguer construções precárias”, pontua.Ao mesmo tempo, afirma que o trabalho no terreno contará com apoio aos moradores. “A Câmara Municipal de Loures reafirma que as suas equipas, compostas por técnicos da ação social, estão no terreno, em contacto direto com as famílias, apresentando apoios e soluções adaptados a cada situação, desde alternativas de alojamento e alimentação até medidas de acompanhamento social e integração”.O movimento Vida Justa e outros ativistas estão a acompanhar a situação. Em publicação nas redes sociais, o Vida Justa criticou a nova demolição. “Entretanto, as famílias, incluindo crianças, vivem entre os escombros das demolições passadas. Isto é inaceitável”, escrevem.O DN questionou a Câmara Municipal de Loures sobre o ponto de situação de apoio das 55 famílias que tiveram as habitações demolidas, mas não teve resposta.amanda.lima@dn.pt.Câmara de Loures apresentou queixa ao Ministério Público contra "comercialização de barracas" no Talude."Há um Chega no PS", critica deputada Isabel Moreira sobre atitude de autarca de Loures no caso Talude