O ministro da Educação, João Costa, afirmou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, que este ano não será marcado pela falta de professores, afirmando ter 95% dos horários com docentes já atribuídos.."A três semanas do arranque do ano letivo, ter 95% dos pedidos dá-nos a segurança de que as escolas terão a tranquilidade necessária e sem carência de professores", afirmou. Segundo João Costa, "o ano passado, nesta fase, 56% dos professores contratados eram precários e, este ano, 64% dos professores colocados são professores do quadro". "Isto é a consequência das medidas tomadas ao longo deste ano para a redução da precariedade, que conduziram à vinculação de mais de 8 mil professores apenas neste ano. Foram pedidos 13 547 horários, destes, 12 814 estão já preenchidos. Há mais 356 horários pedidos e mais professores colocados do que no ano passado", sublinhou..Em declarações ao DN, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, contraria os números apresentados pelo ministro, relembrando as palavras do governante, o ano passado, na conferência de imprensa para a divulgação das colocações, onde afirmou ter "97,7% dos horários pedidos já atribuídos".."João Costa disse que tinha colocado 95% das necessidades e que era um número superior ao do ano passado e não é verdade", sustenta. Contrariando as previsões otimistas do Governo no que se refere à falta de professores, Mário Nogueira afirma que o problema vai agravar-se e explica: "Vamos ter um problema ainda maior. No ano letivo que agora termina foram necessários mais de 35 mil professores contratados. Este ano, segundo o ministro, temos 20 800 docentes disponíveis [para contratação]. Para atingir os 35 mil do ano letivo passado, e mesmo considerando o número de vinculações [cerca de 8 mil], ficam a faltar 27 mil [para os 35 mil] e só temos 20 800"..O dirigente sindical alerta ainda para o aumento de 45% de aposentações em 2023, face a 2022 e adianta que até setembro, vão aposentar-se 2500 docentes, acrescentado que até dezembro serão 3500. "São vagas que ainda não vieram a concurso e que vão surgindo ao longo do ano. Esta situação é complicada e o problema da falta de professores vai sentir-se ainda mais", sublinha. Face a este cenário, Mário Nogueira antecipa apenas uma alternativa. As escolas vão ter de recorrer a professores não-profissionalizados, isto "se houver interessados"..João Costa referiu ainda, na conferência de imprensa, existir um aumento significativo no número de alunos em cursos de ensino nas universidades e estar a fazer "um trabalho de incentivo para aumentar e acelerar o número de formados no sul do país". Contudo, Mário Nogueira ressalvou ao DN que o aumento do número de diplomados "não é suficiente para suprir o número de aposentações". "A falta de professores pode vir a ser ainda pior este ano. Pode haver um ligeiro aumento do número de jovens que entram nos cursos, mas não dá resposta às aposentações Este ano civil o número de aposentações deve crescer qualquer coisa como 45 % e o número de jovens não aumentou na mesma proporção", refere..Para fazer face às substituições de professores aposentados ou docentes com outras situações, como baixas médicas, João Costa prometeu manter as medidas aplicadas em 2022-2023. "Manteremos as medidas para a aceleração da colocação de professores em contexto de substituição e significa que, já neste momento e sempre que não houver um candidato disponível para um determinado lugar, as escolas podem começar a agilizar os procedimentos para a contratação de escola, que se revelou o ano passado bastante eficaz", disse..O detentor da pasta da Educação frisou também que se mantêm a redução de 30 para 12 dias (de baixa médica) do tempo necessário para o pedido de substituição por parte das escolas. O Ministério da Educação vai ainda continuar a completar horários incompletos, sempre que não haja candidatos disponíveis..Segundo o secretário de Estado da Educação, António Leite, o ano passado, em média, a cada semana era necessário preencher 615 horários e pelos motivos mais variados. "O que é significativo aqui assinalar é que ao fim de três semanas, que é o tempo máximo que demora a colocar um professor, 97% desses horários tinham um docente atribuído, contrariando assim a ideia de que os alunos ficaram muito tempo ou um tempo indefinido sem aulas. Na verdade, em maio, não havia alunos sem aulas", afirmou, dizendo estar convencido de que "também este ano isso irá acontecer"..Já em relação à possibilidade de um novo ano letivo marcado pela contestação dos professores, João Costa voltou a referir ter feito esforços, ao longo do ano, para fazer face às paralisações e atribuiu a responsabilidade dos possíveis novos protestos às organizações sindicais. "O Governo tem cumprido escrupulosamente o que está no seu programa e onde não consta a recuperação do tempo de serviço. Ainda assim, é necessário reconhecer que neste jogo negocial que envolve aproximações de parte a parte, o nosso ponto de chegada já não foi igual ao nosso ponto de partida. E por isso é que temos este diploma que vai acelerar a carreira de 65 mil professores. Isso, se calhar, é o que nos distingue de outro e o apelo que faço novamente é que este seja um ano letivo em que pomos os alunos em primeiro lugar", conclui..Ainda antes do início das aulas, seguem-se mais dois momentos de colocação centralizada de professores - as chamadas reservas de recrutamento - que acontecem a 1 e 8 de setembro..Filinto Lima, presidente da direção da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) antevê dificuldades nas substituições de professores, principalmente, em Lisboa e Vale do Tejo e Algarve. "Contudo, já é um problema que se estende a muitas regiões do país e a cada vez mais grupos de recrutamento. No último ano, muitos professores aposentaram-se e um número elevado de docentes recorreram à baixa médica, critérios que se continuarem a existir poderão ser um constrangimento a esta situação", explica..Para resolver a questão, o presidente da ANDAEP pede investimento por parte do Ministério da Finanças, "que deverá apostar cada vez mais nos recursos humanos da Educação, aumentar a atratividade da carreira docente através de medidas que a dignifiquem e a valorizem (melhores remunerações, efetivação de apoio na deslocação e estadia dos professores colocados a dezenas/centenas de quilómetros de casa, diminuição do trabalho burocrático)".