O tema - pelo menos na cabeça dos representantes dos taxistas que ontem foram recebidos pelo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes - era só um: a Uber. O que de facto resultou da reunião acabou por ser a apresentação de um conjunto de medidas de "modernização" do setor, com incentivos estatais que podem ir dos 17 aos 22 milhões de euros, mas onde é aberta, pela primeira vez, uma porta à legalização da atividade da empresa em Portugal..Em causa está o ponto 10 da proposta do governo, no qual se propõe o "início do processo de conversações bilaterais, com vista à harmonização da regulação e do acesso ao mercado do táxi dos setores conexos, garantindo a salvaguarda do interesse público"..Para Carlos Ramos, da Federação Portuguesa do Táxi, a mensagem da tutela foi clara. "Não houve uma decisão tomada por parte do senhor ministro [em relação às exigências do setor para que seja suspensa a atividade da Uber]. A resposta que nos foi dada foi: "Tomem lá 22 milhões, calem a boca, sentam-se aqui connosco no futuro e vamos arranjar forma de mexer na regulamentação para encaixar a Uber no futuro", acusou..Menos taxativo, Florêncio Almeida, da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) não deixou de assumir a frustração com o resultado da reunião. "O apoio que eles querem dar ao setor não pode servir de moeda de troca. Não vamos aceitar como moeda de troca. A Uber é que é o problema que está em cima da mesa", avisou, confessando também pouca confiança na materialização das propostas do governo. "Nunca investiram sequer um cêntimo neste setor. Não é agora que vão aparecer 17 milhões para nos calar e nós ficarmos calminhos.".Da parte do ministério, o secretário de Estado adjunto e do Ambiente, José Mendes, rejeitou a ideia de "moedas de troca". Já em relação ao ponto 10, ainda que defendendo que este "não aponta para a entrada nem para a saída [no negócio dos táxis] de nenhuma plataforma em particular", deixou claramente aberta a porta à integração da Uber nessa reforma: "Há outro tipo de plataformas e nós vamos ter de encontrar todos juntos um caminho para garantir que no fim do dia se salvaguarda aquilo que interessa, o interesse público, a defesa dos direitos dos utentes.".De resto, admitiu também que a Uber poderá ser chamada para uma reunião. "Temos por princípio não excluir ninguém", disse, acrescentando que o ministério está "ainda a ponderar" o agendamento de uma reunião mas que "com certeza" serão ouvidos "todos esses operadores"..Em contrapartida, o governante prometeu aos taxistas reforçar as orientações às entidades que tutela para que seja cumprida a decisão de um tribunal de primeira instância, de 2015, que considera não haver base legal para a atual atividade da Uber. Uma medida registada pelos representantes dos taxistas que, no entanto, esperavam decisões políticas e não apenas a recomendação de que seja "cumprida" a ordem do tribunal. "Ficámos com a noção de que a Uber para o governo é um assunto arrumado", resumiu Carlos Ramos..Conduta, línguas e híbridos.As propostas do governo, refira-se, contemplam várias possíveis novidades. A começar por um incentivo à renovação das frotas, com uma aposta em carros híbridos ou elétricos, com pelo menos 14 milhões de euros assegurados..O governo quer também promover "ações de capacitação para motoristas", nomeadamente "ao nível da ecocondução, cursos de língua e de conduta e de utilização de tecnologias avançadas". Medidas que, segundo o secretário de Estado, poderão melhorar a imagem do setor, que "tem sido objeto de queixas desde há muitos anos".