A Polícia Judiciária (PJ) admite que possa haver algum envolvimento de militares das Forças Armadas no armamento de grupos da extrema-direita violenta. Na conferência de imprensa sobre a Operação Desarme 3D - em que foram detidos seis suspeitos de pertencerem a uma alegada milícia armada designada Movimento Armilar Lusitano (MAL) - a diretora da Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) reconheceu que essa pista não pode ser descartada. “Está tudo em aberto, não descartamos a possibilidade de haver envolvidos militares”, respondeu Manuela Santos, quando questionada pelo DN sobre se a origem, principalmente dos explosivos (que em algumas das imagens mostradas apareciam com a legenda “militar”) e armas de guerra apreendidas, poderia ser das Forças Armadas.Recorde-se ainda que em 2020 a Polícia Judiciária Militar (PJM) abriu um inquérito cujo alvo era, precisamente, esta mesma organização extremista. Os factos investigados ocorreram em 2019, quando num blogue do MAL surgiram documentos confidenciais da Marinha, publicados sob um perfil falso..Extrema Direita. Judiciária Militar arquiva suspeita de infiltração nas Forças Armdas. Segundo fontes militares que acompanharam o processo, as publicações surgiram na altura em que tinha sido lançado um movimento inorgânico de contestação na Marinha, Naval Zero, na linha do Movimento Zero das polícias. Numa averiguação interna foi identificado o departamento onde tiveram origem as publicações e a identidade do presumível autor. Depois de cerca de dois anos de investigação, o inquérito acabou arquivado, sem arguidos constituídos, concluindo que “os factos indiciavam a prática do crime de natureza estritamente militar de violação do segredo”.Sobre uma eventual ligação entre ambos os processos - o da PJ começou em 2021, quando a PJM ainda tinha em mãos o seu inquérito - Manuela Santos não esclareceu, remetendo para mais tarde uma resposta.“Prontos para a ação”Em comunicado emitido, a PJ adiantou ter desencadeado uma operação para cumprimento de 15 mandados de busca e apreensão (domiciliárias e não-domiciliárias), que culminou na detenção de seis pessoas em flagrante delito. Um dos detidos, confirmou a diretora da UNCT, é um chefe da PSP em comissão de serviço da Polícia Municipal de Lisboa (PML). O DN sabe que este polícia, antes de passar para a PML, estava colocado no Departamento de Armas e Explosivos da PSP..Extrema-direita violenta. PJ assume “surpresa” com a quantidade de material de guerra. No âmbito da Operação Desarme 3D foi apreendido material explosivo de vários tipos, armas de fogo, algumas das quais produzidas através de tecnologia 3D, impressoras 3D, centenas de munições, armas brancas, material informático, entre outros elementos de prova. Todo este material foi mostrado na conferência de imprensa, através de um vídeo, no qual foram também exibidas imagens de livros e propaganda neonazi, bem como um cachecol do grupo 1143A PJ assumiu “surpresa” com o arsenal de guerra encontrado, tendo Manuela Santos sublinhado que tinha sido “surpreendente a quantidade, qualidade e diversidade” do material apreendido”, assinalando, em particular, o facto de, pela primeira vez, terem sido também apreendidas armas 3D, “o que é inédito”.Manuela Santos destacou ainda a “surpresa” de este grupo ter já “a capacidade” de executar um atentado com “alguma projeção”, entre “armamento, recrutamento e treino de pessoas para algo que ainda não sabemos o quê”.Antes, o diretor Nacional da PJ reiterou o empenho da PJ em contrariar a atividade deste tipo de grupos extremistas, considerando este fenómeno “muito sério, disruptivo, com grande relevância social e criminal” ..Diretor da PJ: “Trata-se de um fenómeno muito sério, disruptivo e com relevância crescente social e criminal”. Luís Neves alertou para um “crescendo de discursos desta natureza e ao incitamento de camadas mais jovens através das redes sociais, atingindo jovens cada vez mais jovens”. “Estamos muito preocupados”, afirmou. “Este é um combate de todos, não só da polícia, mas também da sociedade civil”, concluiu.De acordo com a PJ, a investigação, titulada pelo Departamento Central de Investigação Ação Penal (DCIAP) “resultou da deteção online de indicadores de manifestações extremistas por parte de apologistas de ideologias nacionalistas e de extrema direita radical e violenta, seguidores de um ideário antissistema e conspirativo, que incentivava à discriminação, ao ódio e à violência contra imigrantes e refugiados”.