Cartazes com o título “Reconquistar Portugal”, o símbolo do movimento Reconquista, e a frase “remigração ou inquisição” sobreposta a uma cruz vermelha foram colados e pelo menos três mesquitas (Amadora, Odivelas e Lisboa) e num centro cultural muçulmano da região de Lisboa. A informação está a ser avançada pelo jornal 7MARGENS, que confirmou com alguns dos responsáveis a ocorrência.Os atos foram reportados às autoridades, que estarão agora a fazer as devidas diligências. Um dos responsáveis, que não quis ser identificado, referiu àquela publicação que aquele “é um cartaz que nem sequer se dirige a nós, que manifesta ignorância: nós não somos imigrantes e não temos nada a ver com a Inquisição, que era destinada sobretudo a judeus…”.Já o imã Abdul Azim, da Amadora, confirma o episódio, que terá acontecido pelas 23h30 de segunda-feira, 29 de setembro. “Só conseguimos ver na câmara de vigilância que se trata de um indivíduo, todo vestido de preto", diz Azim. A presença do cartaz só foi notada na madrugada seguinte, quando os primeiros fiéis chegavam para a oração da alvorada, às 6h30. “Não dá para ver quem o colocou, porque só temos uma câmara dentro da mesquita, não há nenhuma no exterior”, continua, em declarações ao 7MARGENS, o imã, que adianta ainda que a maioria das pessoas não terá entendido a mensagem como ameaçadora, porque, explica, “a Amadora é uma cidade com muitos imigrantes e muitos deles são africanos ou do sudeste asiático e ainda estão cá há pouco tempo. Sabem que há uma onda de racismo crescente, mas ainda não a entendem completamente.”E continua: "Sabemos que existe esta discriminação em relação à religião. Hoje é um cartaz, amanhã sabe-se lá o que virá…” Azim, cujos pais originários de Moçambique vieram para Portugal quando eram crianças, e que nasceu em solo nacional, lamenta o sucedido e garante que há uma boa relação da comunidade e dos responsáveis da mesquita com os vizinhos.Adianta ainda que a mesquita pela qual é responsável junta cerca de seis dezenas de pessoas em cada uma das cinco orações diárias. À sexta-feira, à oração de Zuhr (meio-dia), a mais importante da semana, acorrem cerca de 600 pessoas, distribuídas pelas várias salas da mesquita, escreve ainda a mesma publicação.Queixas foram apresentadas pelos responsáveis das Mesquitas da Amadora, Odivelas e Central de Lisboa - cujo imã David Munir confirmou a informação ao 7MARGENS - às respetivas esquadras da zona. Já o Centro Cultural Colinas do Cruzeiro decidiu não avançar com queixa às autoridades, justificando a opção com o facto de ter sido a primeira vez que algo do género aconteceu. O xeque Zabir Edriss falou à mesma publicação e garante que o espaço tem uma "relação tranquila" com os vizinhos e explicando que o Centro é uma escola com aulas de formação religiosa para os mais pequenos e aulas de árabe e cultura islâmica, além de português para estrangeiros.Recorde-se que o Reconquista é um grupo que, de acordo com o seu próprio site oficial, “sintetiza valores tradicionais, nacionalismo e populismo” e que o seu fundador quer tornar “numa força real de mudança cultural e influência política”. É também responsável pela divulgação de uma quantidade de vídeos e mensagens nas redes sociais em que difundem a teoria de que está em curso uma “tentativa deliberada” de substituição dos portugueses por estrangeiros muçulmanos. .PSP detém líder do grupo Reconquista durante ação junto a templo Sikh.Novo relatório mapeia desinformação sobre imigração e discursos de ódio