Inverno traz mais chuva, mas não só: as noite também vão chegar mais cedo...
Inverno traz mais chuva, mas não só: as noite também vão chegar mais cedo...Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

É mesmo preciso mudar a hora? Da Rússia ao Japão, há países que o recusam fazer

A alegada poupança energética que resulta do mudança de horário já não colhe argumentos em muitas latitudes. Espanha quer acabar com a prática e não faltam exemplos de quem já o fez.
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É já na madrugada de domingo, 26 de outubro. Quando foram 02h00, a maioria dos portugueses lá terão de atrasar o relógio uma hora e entrar no chamado horário de inverno (nos Açores, será feita à 01h00 da madrugada de domingo, passando para as 00h00). A mudança de horário, já se sabe, dita que há luz solar mais cedo, mas, por outro lado, anoitece mais rapidamente, em alguns períodos ainda antes das 18h00. O regresso à hora legal (ou horário de verão) acontece a 29 de março de 2026.

A origem histórica desta prática vem dos tempos da Primeira Guerra Mundial, quando alguns países europeus resolveram ajustar os relógios com o intuito se de poupar recursos energéticos, como o carvão, e potencializar as horas de luz solar. Por outro lado, também se pretendia alinhar melhor os horários da atividade humana com a luz solar – hoje sabe-se que a luz natural tem um forte impacto na saúde física e mental e que a sua falta pode acentuar sintomas de depressão sazonal, principalmente no inverno. Portugal, que desde 1911 seguia a hora de Greenwich, também seguiria essa prática atrasando os ponteiros dos relógios pela primeira vez a 17 de junho de 1916 (a operação oposta era feita a 1 de novembro).

No entanto, esta mudança motiva cada vez maior discussão. “A questão da iluminação natural pode já não ter tanto peso hoje em dia, em comparação ao século XX, quando implementaram esta mudança. Agora já não dependemos exclusivamente da luz natural para iluminar as casas e as ruas, por exemplo. Até que ponto esta hora a mais de luz permite as pessoas aproveitarem melhor os dias? Depois de mais de 100 anos, será que os argumentos para mudar a hora ainda continuam relevantes?. É tudo é muito debatível. Além disso, dividir os nossos ritmos duas vezes por ano interfere muito no nosso ritmo circadiano, que é associado ao período de luz e regula o nosso sono”, frisou Gustavo Rojas, especialista em astronomia do NUCLIO - Núcleo Interativo de Astronomia e Inovação em Educação, ao DN, em 2022.

Esta semana, na segunda-feira, 20 de outubro, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anunciou que o país ia propor à União Europeia o fim definitivo da mudança de hora na Europa. Já o comissário dos Transportes Sustentáveis e Turismo, Apostolos Tzitzikostas, afirmou que esta prática “já não serve qualquer propósito” nos dias de hoje. “É um sistema que nos afeta a todos, que frustra a maioria e que prejudica até as pessoas”, defendeu. O atual regime de mudança da hora é regulado por uma diretiva (lei comunitária) de 2000, que prevê que todos os anos os relógios sejam, respetivamente, adiantados e atrasados uma hora no último domingo de março e no último domingo de outubro, marcando o início e o fim da hora de verão.

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A mudança de hora pode afetar a sua condução

Os exemplos dos gigantes Rússia, China e Brasil

O tema não é novo e já foi discutido nos organismos europeus. No entanto, a medida nunca avançou por falta de consenso no Conselho da União Europeia para se chegar a uma posição comum de alteração à lei comunitária.

Ainda assim, há pelo mundo fora exemplos de países que não seguem esta prática. A Rússia é um deles: desde 2014, mantém os seus 11 fusos horários sem modificações, alegando que tal contribui para a saúde e segurança da sua população (a Bielorrússia adotou o mesmo sistemas).

Na Islândia, apesar da proximidade ao círculo polar ártico implicar alterações ainda mais vincadas, entre estações, na quantidade de luz solar disponível, também não se mexe nos horários desde 1967, uma decisão que seria até validada num referendo à população realizado em 2019.

Por sua vez, a Turquia aboliu o horário de verão em 2016 para aproveitar ao máximo a luz solar e melhor a sincronização com os mercados do Médio Oriente (as relações comerciais também são a justificação de Arménia, Azerbaijão e Geórgia para manterem o mesmo fuso horário todo o ano).

Na Ásia, a China não muda a hora desde 1991, apesar da sua vasta extensão territorial, e o Japão mantém o seu fuso horário inalterado desde 1952 (uma das razões era a disrupção que a essa mudança implicava, principalmente num país conhecido pelo rigor no cumprimento de horários).

No continente americano, México (na maior parte do território), Argentina, Uruguai e o Brasil (foi, aliás, uma das primeiras medidas de Jair Bolsonaro quando foi eleito presidente, em 2019, pondo fim a uma prática que já durava há 88 anos) já aboliram há anos o horário de verão. Mais a norte, Estados Unidos e Canadá continuam a ajustar horários, mas há algumas regiões que não o fazem – são os casos do Hawai, da província canadiana de Saskatchewan e do território de Yukón.

Por cá, pelo menos por enquanto, não se esqueça de atrasar o seu relógio na madrugada de domingo. E, já agora, antes de as noites chegaram mais cedo, aproveite para descansar ou se divertir até mais tarde com a hora extra vai ganhar.

Inverno traz mais chuva, mas não só: as noite também vão chegar mais cedo...
A hora muda na madrugada de domingo

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