Mentores da petição “Devolver o Mercado do Bolhão ao Porto” querem 10.000 assinaturas e levar o debate à AR
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Mentores da petição “Devolver o Mercado do Bolhão ao Porto” querem 10.000 assinaturas e levar o debate à AR

CDU, Livre, ADN, Chega e Bloco de Esquerda estão solidários com as pretensões enunciadas na petição. Ao DN, Pedro Duarte, do PSD, não comenta e o socialista Manuel Pizarro não tomou posição.
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A Associação do Comércio Tradicional Bolha de Água, mentora e primeira subscritora da petição pública Devolver o Mercado do Bolhão ao Porto, quer levar a debate na Assembleia da República “a descaracterização progressiva e o reiterado desrespeito pelos regulamentos municipais” que regem o famoso mercado portuense, património classificado “tomado de assalto por um turismo desenfreado”, segundo dizem.

Lançada a 15 de setembro, data do terceiro aniversário da reabertura do mercado, após obras de reabilitação, a iniciativa tem como objetivo recolher dez mil assinaturas até ao início de janeiro 2026, prevendo os promotores conseguir as primeiras mil na semana inaugural.  

“No lançamento, há 36 horas, tínhamos como pretensão conseguir as primeiras 1000 assinaturas nos primeiros 15 dias. Porém, a adesão dos cidadãos está a superar as nossas expectativas. Sentimos que existe uma urgência abafada sobre o sentimento de perda da identidade portuense que agora está a ser canalizada para esta defesa do Mercado do Bolhão. Para nós, neste momento, é claro que em poucos dias atingiremos as 1000 assinaturas”, diz ao DN Helena Ferreira, a presidente da direção, em representação dos órgãos sociais daquela associação.  

A associação pretende constituir, nas próximas semanas, uma comissão de honra, enviando convites a várias personalidades da cidade. “Todos os candidatos à presidência da Câmara Municipal do Porto estão a ser convidados para integrar essa comissão. Já temos confirmação de várias adesões, que a seu tempo serão tornadas públicas”, acrescenta Helena Ferreira.  

Segundo o DN apurou junto dos próprios partidos, CDU, Bloco de Esquerda, Livre, Chega e ADN estão solidários com o texto da petição. Também o candidato Nuno Cardoso se associa ao espírito da iniciativa.  

“A petição para que o Bolhão se mantenha como um mercado de frescos é justa e corresponde a uma luta de muitos anos da CDU. Acrescentamos que o mercado de frescos deve continuar a ser público, na propriedade e na gestão”, diz ao DN a candidatura da CDU à câmara Municipal do Porto.  

“Estamos completamente solidários com o texto da petição”, afirma Miguel Corte-Real, candidato do Chega à câmara municipal da cidade.

Sérgio Aires, cabeça de lista do BE é claro: “O Bloco de Esquerda voltou a sublinhar a importância do Mercado do Bolhão como símbolo da cidade e espaço de comércio tradicional de frescos”. O candidato recorda que o partido “se opôs sempre à privatização do mercado e à sua transformação em mero polo turístico, defendendo que o espaço deve manter-se sob gestão pública e ao serviço da população”.

Para o BE, a requalificação do Bolhão sem recurso a privados representou uma vitória da cidade e um passo decisivo para proteger as vendedoras, os lojistas e o comércio local”, insistindo neste ponto: “Os trabalhadores do mercado devem ter condições dignas e participação ativa nas decisões, assegurando que o Bolhão continue a cumprir a sua função social, económica e cultural”. 

Hélder Sousa, candidato à câmara pelo Livre, tem acompanhado "o processo e os conflitos entre a gestão do mercado (a autarquia) e os movimentos de cidadãos e a associação Bolha de Água.

"Defendemos que o Bolhão deve ser um mercado que sirva e forneça residentes e pequenos negócios da cidade, deve recuperar a missão de mercado local, acolher cooperativas de consumo e outros negócios locais que reduzam a pegada carbónica dos consumos alimentares". Continua:" Isto não é incompatível com o uso turístico que um edifício património e histórico deve ter, mas os interesses de serviço público deste mercado municipal devem ser salvaguardados. E neste momento não o estão a ser. Nesse sentido, acompanhamos algumas das preocupações da petição sim. E defendemos também que a gestão do mercado deve manter-se na esfera municipal e, como em tudo o que é gestão pública, deve ser feita de forma democrática, transparente e em diálogo com todos os interessados".

Eduarda Vieira, do ADN, diz que o partido se opõe “ao que está a acontecer no Bolhão”, e que “não foi para o vermos transformado numa praça da alimentação que se disponibilizou um financiamento de 500 milhões de euros”. A dirigente do ADN lembra que “rendas de milhares de euros levam a que se vendam produtos de má qualidade, produtos que não são nossos, nem estão nas nossas tradições, a preços altos”.  

Também Nuno Cardoso, ex-presidente da câmara e atual candidato, diz ao DN: “Devolver o mercado ao Porto é uma promessa feita à cidade. Não bastam as obras de recuperação. É preciso cultivar de novo a alma do Porto no Bolhão. Neste momento, entregou-se o mercado ao turismo, não que os turistas não sejam bem-vindos, mas em primeiro lugar devem estar sempre os portuenses”.

Contactada pelo DN, a candidatura de Pedro Duarte (PSD,CDS,IL) “não comenta” o texto da petição.  

Francisca Carneiro Fernandes: Da Go Porto de Moreira para a lista de Manuel Pizarro 

Silêncio também obtivemos da parte de Manuel Pizarro. Francisca Carneiro Fernandes, da equipa de Rui Moreira, acumula o lugar de dirigente da Go Porto, a empresa municipal responsável pela gestão das grandes obras públicas na cidade, a quem compete a gestão do mercado, com o terceiro lugar da lista do socialista Manuel Pizarro.  

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O DN solicitou à Go Porto um comentário à petição, cujo texto, de acordo com os promotores, foi aprovado por unanimidade em reunião de direção da Associação do Comércio Tradicional Bolha de Água, com base na declaração de princípios da mesma, distribuídos e apresentados publicamente há mais de um ano. Para a Go Porto, porém, “a petição em causa é lançada por iniciativa exclusiva da presidente da Associação Bolha de Água”, colocando em causa a representatividade da associação. “Tal petição não corresponde à vontade nem à visão dos seus comerciantes”, acusa.

Sobre o ponto D da petição -- onde se lê: “as vias de acesso encontram-se sistematicamente, ocupadas por clientes das bancas de restauração e bebidas, não permitidas, a consumir os produtos cozinhados e bebidas, no chão, em material descartável, sem as mais básicas condições de higiene e civilidade, criando constrangimentos à circulação, colocando em perigo os clientes em termos de segurança contra incêndios e/ou outras calamidades e degradando a imagem e reputação do Mercado do Bolhão (...) --, a GO Porto considera que o “Mercado do Bolhão é feito por comerciantes portuenses, que têm feito os seus negócios funcionar, adaptando-se aos tempos de hoje”. E vai mais longe: “Servem com orgulho e alegria, clientes da cidade, assim como outros clientes que procuram o espaço pela sua beleza e atratividade”.  

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Para a Go Porto “o mercado é, e deverá continuar a ser, um mercado de produtos frescos na sua essência, o que não impede que sejam servidos produtos prontos a consumir por quem nos procura”.  

Argumentos que não convencem Helena Ferreira, que considera que a cidade “está a perder o Mercado do Bolhão para uma caótica praça de alimentação que não traduz a cultura gastronómica portuguesa, que hostiliza o cliente do mercado de frescos e do comércio tradicional".

"O Mercado do Bolhão, numa conjugação inteligente e competente na integração dos dois públicos, o residente e o turístico, pode ter um futuro promissor”, acredita. Só que feito de outra forma, na sua perspetiva. E para alertar para a situação quer que os partidos debatam o caso no Parlamento, em Lisboa.

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