Marta Temido "não conseguiu encontrar soluções para resolver os problemas gravíssimos no SNS"

Miguel Guimarães considera que Marta Temido demitiu-se do cargo de ministra da Saúde "por não ter encontrado alternativas dentro daquilo que era a política que o próprio Governo está a seguir" nesta área.
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Marta Temido "acaba por pedir a demissão por não ter encontrado alternativas dentro daquilo que era politica que o próprio Governo está a seguir na saúde", começou por dizer o bastonário da Ordem dos Médicos numa primeira reação, esta terça-feira, à demissão de Temido do cargo de ministra da Saúde.

"Não conseguiu encontrar soluções para resolver os problemas gravíssimos que temos atualmente no Serviço Nacional de Saúde [SNS], e, penso eu, terá sido isso que levou à sua demissão", considerou Miguel Guimarães em declarações à CNN Portugal.

Para o bastonário, a demissão da ministra não resolve os vários problemas que o SNS está a enfrentar. "O PS, que tem até maioria parlamentar, tem uma política de saúde que está definida no seu programa de ação, que os portugueses votaram, e que é uma política que está a conduzir aos resultados que vemos atualmente. São resultados complicados, como aliás a Ordem tem vindo a chamar a atenção há vários anos", afirmou ao canal de notícias.

"Não penso que seja propriamente a mudança de ministro que garante a mudança de políticas. Esperamos que sim. Esperamos que a política possa adaptar-se mais ao que é a realidade atual, às necessidades prementes na área da saúde, seja em capital humano seja num novo modelo de gestão que permita mais autonomia e capacidade de resposta", declarou Miguel Guimarães, referindo que tem de se esperar para ver quem vai agora ocupar a pasta da Saúde.

Avaliando as políticas e as decisões que se tomaram para os portugueses durante o percurso de Marta Temido enquanto ministra da Saúde, o bastonário refere que, em termos da saúde global e do SNS em particular, "de facto, ficou muito, para não dizer que ficou quase tudo, por fazer para podermos dar a melhor resposta aos portugueses".

"O responsável pelo Governo é sempre o primeiro-ministro, não é nenhum dos ministros. Os ministros são designados pelo primeiro-ministro", rematou.

O bastonário da Ordem dos Médicos considerou ainda que a demissão de Marta Temido não terá a ver com a morte de uma grávida que foi transferida por haver falta de vagas na neonatologia do Hospital de Santa Maria. Um episódio "muito recente", que "não é propriamente novidade, já existiram mais casos, não como este, mas igualmente muito graves", disse Miguel Guimarães.

A demissão "tem a ver com o facto de que SNS não está bem, está com muitas dificuldades. O Governo, e o Ministério em particular, não conseguiram encontrar um caminho para resolver o momento atual na saúde", analisou.

Miguel Guimarães disse ainda não saber o que Marta Temido pretendeu dizer quando afirmou que "deixou de ter condições" para exercer o cargo de ministra da Saúde. Só ela poderá responder, referiu. "Se as condições são internas têm a ver com o Governo, com a confiança que o primeiro-ministro transmite à ministra da Saúde ou se as condições são externas têm a ver com as condições que a própria ministra foi construindo de uma forma, na minha opinião, negativa, com as várias estruturas" que tem relação e cooperam na área da saúde.

O bastonário disse, entretanto, à Lusa que para o Ministério da Saúde é preciso "um ministro que faça acontecer e que resolva os problemas que afetam a saúde em Portugal e que de uma forma transversal afetam todos os portugueses".

"A saída da senhora ministra do Governo é uma decisão dela e que só ela pode explicar aos portugueses. E só o senhor primeiro-ministro pode explicar porque aceitou de imediato esta demissão", acrescentou.

Marta Temido apresentou a demissão esta madrugada por entender que "deixou de ter condições" para exercer o cargo" de ministra da Saúde, uma demissão que foi aceite pelo primeiro-ministro, António Costa.

"A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao primeiro-ministro por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo", lia-se na nota enviada pelo ministério às redações na madrugada desta segunda-feira.

Pouco depois, o comunicado do gabinete do primeiro-ministro informou que António Costa "respeita a sua decisão e aceita o pedido, que já comunicou ao senhor Presidente da República".

Costa agradeceu "todo o trabalho desenvolvido" por Marta Temido, "muito em especial no período excecional do combate à pandemia da covid-19".

"O Governo prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses", referiu ainda o gabinete do primeiro-ministro.

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