No decorrer do 1.º período saíram do sistema educativo quase 1700 professores por aposentação. A substituição destes docentes é um processo difícil? Sim, está a ser mais difícil e, principalmente, muitos estão a ser substituídos por via da sobrecarga de outros colegas, a quem são atribuídas horas extraordinárias, por professores com habilitação própria e, cada vez em maior número, por pessoas sem qualquer requisito habilitacional que são contratadas como “técnicos especializados”. Repare-se que só no mês de dezembro saem 506 docentes para a aposentação, mas se tivermos em conta todo o 1.º período letivo o número sobe para 1686. Não chegaram ao sistema, este ano, tantos docentes e só estamos a falar do 1.º período. Até final do ano letivo sairão, além destes, mais cerca de 2500..As medidas implementadas pelo MECI para fazer face à falta de professores estão a surtir efeito? Não está a surtir o efeito que o ministério pretendia e anunciava, bastando olhar para números como os 63 aposentados, ou os 667, segundo o MECI, que terão regressado, num universo de quase 15 000 que saíram só nos últimos seis anos. E, embora o ministério ainda não tenha revelado outros números, os que terão adiado a aposentação, pelos números de aposentações mensais, não terão sido muitos, desconhecendo-se, também, quantos mestres e doutorados ou docentes do ensino superior e investigadores decidiram vir para o ensino. A Fenprof já solicitou esses números ao ministério, mas ainda não os recebeu..Os resultados da avaliação externa podem espelhar as diferenças entre o Norte e o Sul? Evidentemente que a falta de professores se reflete nas aprendizagens dos alunos e, por esse motivo, é ainda mais perversa a divulgação de rankings que comparam o incomparável e tentam passar uma mensagem de censura aos professores, como se a responsabilidade pelo que se está a passar não fosse dos governos e das suas políticas ao desvalorizarem a profissão docente. Quanto a diferenças entre Norte e Sul, não sei se existirão porque, se é verdade que na primeira parte do ano letivo a falta de professores é mais sentida no sul, à medida que o ano avança e as aposentações se sucedem, o norte perde mais professores porque é aí que se encontram os mais velhos..Muitos professores ainda não conseguiram recuperar o tempo de serviço previsto desde setembro. Esses problemas têm impacto nas escolas? Este tratamento desigual acaba, naturalmente, por ter algum impacto nas escolas, por exemplo, não ganhando os professores o suficiente para, quando reúnem os requisitos da aposentação, a adiarem por algum tempo. Como se sabe, o acordo que algumas organizações assinaram com o MECI discriminou milhares de professores. Por exemplo, os que perderam o tempo de serviço, mas, entretanto, se aposentaram com prejuízos na pensão, e outros que estando ainda no ativo não recuperam absolutamente nada ou apenas conseguem recuperar uma parte..As escolas a precisar de obras ainda não foram intervencionadas. Que condições esperam os alunos dessas escolas neste período de inverno? Más condições: muito frio, prejudicando a atenção e as aprendizagens, sistemas elétricos que vão abaixo se se ligarem todos os aparelhos de aquecimento em simultâneo e em algumas escolas, se chover muito, uma verdadeira gincana por entre baldes. Este problema da requalificação do parque escolar é outro que atinge centenas de edifícios e é outro exemplo de como o poder central e local jogam responsabilidades de um lado para o outro e são as escolas e as respetivas comunidades escolares que sofrem com isso.