Mais infeções em profissionais nos hospitais e em doentes oncológicos

A sociedade está mais liberta das medidas de restrição e os casos aumentam entre profissionais da saúde e entre quem está mais suscetível, nomeadamente entre doentes oncológicos. Médicos do IPO de Lisboa relembram que regras de proteção têm de continuar a ser cumpridas pelos doentes e pelos que estão à sua volta. Hospitais começam a ter mais casos entre os profissionais.

O número de casos disparou em poucos dias na comunidade e isso já se está a fazer sentir no aumento de casos entre os profissionais de saúde e entre alguns grupos de doentes, como os oncológicos. Esta semana, duas das principais unidades de saúde do país confirmaram ao DN que a tendência sentida na comunidade era a que se estava a registar entre os seus profissionais, estando a transmissão a ocorrer fora de portas, mais pelos contactos sociais.

No Centro Hospitalar Universitário São João, no Porto, a média de novos casos de infeção entre os profissionais nesta semana foi de 20 por dia, havendo agora 100 casos de infeção ativos. No Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, que integra os hospitais São José, Curry Cabral, Santa Marta, Capuchos, D. Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa, a média diária de casos também foi de 20, embora o total de infeções ativas seja menor, 70.

No Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, a média diária de casos nesta semana foi de 3, garantiu fonte da unidade. A situação preocupa as unidades, até porque se aproxima um período de férias, em junho, mas ainda nenhuma teve necessidade de proceder à reorganização de equipas ou de escalas.

Do lado dos doentes, o aumento de casos já se começou a sentir nos que estão mais fragilizados e, por isso, também correm mais riscos de adquirir a doença. A diretora do Serviço de Hematologia do IPO de Lisboa afirma ao DN: "Estamos a notar que o número de casos entre os doentes oncológicos imunodeprimidos está claramente a aumentar e a acompanhando o que está a acontecer na comunidade". Maria Gomes da Silva alerta para o facto de estes "doentes terem de continuar a cumprir as regras de proteção e os que estão à sua volta também". Até porque, "a maioria dos doentes infetados têm doença em atividade ou estão a fazer terapêutica" e estes são os que "correm maior risco de desenvolver doença grave ou moderada em relação à população em geral".

A médica explica que, "nas circunstâncias atuais os doentes oncológicos estão menos protegidos". Em primeiro lugar, "porque são doentes que, embora vacinados, não conseguem dar uma resposta imunitária como a população em geral, correndo assim um risco considerável de desenvolver doença grave ou moderada". Em segundo, porque nas circunstâncias atuais a sociedade ao estar mais liberta de regras também está menos protegida. "Numa circunstância em que a sociedade e todas as pessoas se protegem mais, estes doentes estão mais protegidos". Se as circunstâncias atuais não são assim, reforça, "é preciso que os doentes e as pessoas à sua volta mantenham os mesmos cuidados", como uso de máscara, distanciamento e poucos contactos sociais.

No caso dos doentes que trata, hematológicos e imunodeprimidos, "o problema é que se algum se infeta, para além de poder desenvolver doença moderada a grave, pode dar-se o caso, dependendo também da sua situação, de podermos fazer pouco por eles", embora especifique que "nem todas as pessoas que se infetam são iguais. O risco de desenvolverem doença grave não é igual para todas", mas, sublinha, "para os doentes imunodeprimidos o risco de infeção neste momento é maior, porque a sociedade está mais aberta".

No entanto, Maria Gomes da Silva, deixa claro que, com "a letalidade não aumentou com esta nova variante". Aliás, "percebemos cada vez melhor quem são os doentes mais suscetíveis". Nas unidades oncológicas, as regras de proteção e os cuidados a ter são frequentemente relembradas aos doentes, até porque "quando um doente é diagnosticado com covid-19 há que tomar decisões, nomeadamente se se interrompe o tratamento que está a fazer. Quando a covid-19 surge quase em simultâneo com o diagnóstico da doença oncológica há que decidir se se aguarda algum tempo até se eliminar o vírus ou se se corre o risco de fazer a terapêutica com o vírus ativo, mas esta é uma decisão que depende muito da gravidade dos casos e das opções de terapêutica".

O número de casos entre doentes oncológicos imunodeprimidos está claramente aumentar e, às vezes, "as formas iniciais da doença são relativamente ligeiras, como uma constipação, mas a sintomatologia mais séria pode vir a instalar-se mais tardiamente. O facto de o doente passar bem a primeira semana não significa que seja assim na segunda ou terceira semana. Tive doentes que foram internados um mês depois de estarem infetados", alerta. As normas para os doentes oncológicos não mudaram, estes devem continuar a usar máscaras, a evitar contacto social e a cumprir isolamento de 20 dias caso sejam infetados.

O diretor do Serviço de Oncologia Médica do IPO de Lisboa, António Moreira, também diz ao DN que "a impressão que temos é que o aumento de casos em doentes com tumores sólidos corresponde ao que se passa na comunidade. Notamos isso no ambulatório em que os doentes, por rotina, têm de fazer vários testes à covid-19 e o número de positivos tem vindo a aumentar".

No entanto, destaca, "há um aumento na incidência, mas não posso dizer que isso se esteja a traduzir num aumento da gravidade da doença. Mas, de qualquer forma, tem repercussões importantes do ponto de vista da capacidade de gestão dos cuidados a estes doentes".

Ou seja, "para um doente em ambulatório ter poucos sintomas ou não os ter não causa grande perturbação, mas para os doentes que estão internados o risco de contaminação de outros doentes é maior e isso pressupõe a sua transferência para outras unidades hospitalares, o que é sempre um problema. Não porque haja descontinuidade de cuidados, mas porque a transferência para unidades que não são especializadas em oncologia é um desconforto."

O médico defende que dentro das unidades oncológicas deveria ser feita "uma avaliação de risco individualizada de cada situação, porque não são todas iguais". E dentro dos doentes oncológicos há uns mais suscetíveis do que outros, mas relembra também ser fundamental que "os doentes se continuem a proteger".

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