Mãe que afogou filhas divide cela com mulher que tentou matar os pais em incêndio
A mãe que afogou as duas filhas numa praia em Caxias (Oeiras) no dia 15 de fevereiro tem por companheira de cela uma mulher que tentou matar os pais deitando fogo à casa. As duas reclusas estão na enfermaria do hospital prisional de Caxias. Sónia Lima, de 37 anos, tem recebido visitas dos pais e de uma prima e mostra uma boa adaptação ao hospital prisional, soube o DN com fontes prisionais.
Entretanto, o advogado do ex-marido de Sónia e pai das crianças confirmou ao DN que se deslocou na terça-feira ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa entregar informações adicionais sobre as ameaças de morte que o seu cliente continua a receber nas redes sociais por parte de familiares da mulher (que o acusou de violência doméstica e de abusar das filhas). Dados que foram apensos ao inquérito aberto dia 17 de fevereiro por ameaças.
Nelson Ramos ainda não teve a tentação de ir visitar Sónia à prisão. O pai de Viviane, de 20 meses, e Samira, de 3, está também a atravessar um quadro depressivo, adiantou o advogado Rui Maurício.
Correta, educada e sociável
O DN soube com fontes prisionais que Sónia Lima, que está a ser medicada e acompanhada no hospital prisional de Caxias, tem revelado boa adaptação à unidade onde se encontra em prisão preventiva. É correta, tem uma boa relação com as outras reclusas, conversa, sorri e é bastante educada, segundo informações recolhidas com essas fontes. Um dos seus primeiros pedidos aos guardas foi para que a deixassem ter consigo um estojo de maquilhagem. Continua a cuidar da sua aparência sem se desleixar.
Sónia, que estaria a atravessar uma depressão quando matou as duas crianças, vai passar por várias avaliações do estado psicológico no hospital prisional de Caxias. Não há um prazo definido para deixar aquela unidade: só será transferida para outro estabelecimento prisional quando os médicos decidirem que está estabilizada.
"Remorso e culpa esmagadora"
"É fundamental esta mulher vir a fazer um luto saudável das filhas. Quando estiver lúcida e perceber o que fez vai provavelmente sentir um remorso enorme e uma culpa esmagadora", analisa o psiquiatra Fernando Almeida, presidente da assembleia geral da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça. Sónia estará ainda numa fase de negação relativamente aos atos que terá praticado.
Rui Maurício, advogado de Nelson Ramos, garante que nunca aceitará em tribunal "a tese da inimputabilidade, se esta vier a ser colocada". "As instituições é que deram guarida a uma pessoa descompensada psicologicamente . Houve falhas na avaliação da situação. Provavelmente, as crianças deviam ter sido retiradas à mãe e ao pai para se avaliar melhor os fundamentos das queixas", acrescenta o advogado. Apesar desta análise, o pai das crianças não equaciona, para já, processar entidades públicas ou o próprio Estado por essas alegadas falhas.
Nelson Ramos está a viver "em ambiente de medo" dada a continuação das ameaças de morte no facebook "vindas do irmão de Sónia e de um cunhado casado com a irmã dela". O advogado pediu proteção policial ao cliente que nunca foi confirmada oficialmente pela PSP mas que Rui Maurício acredita "esteja a ser dada, de forma discreta".
Nelson Ramos, que está de baixa clínica, a ser medicado e acompanhado, "ainda não conseguiu fazer o luto das filhas". O advogado adianta que o cliente "não consegue desligar das ameaças nas redes sociais, apesar de ter fechado a sua conta no facebook logo a seguir aos factos". Nos despojos de um acontecimento traumático aguarda-se a acusação do Ministério Público. Será tudo revivido de novo.