O Presidente da República disse que um dos mais graves problemas estruturais de Portugal é a sua demografia. "É dramático", avaliou Marcelo Rebelo de Sousa durante o encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, do qual é presidente honorário, e que decorreu esta quinta-feira em Cascais. Ao fazer um retrato sobre a história daquele órgão patrocinado pela Presidência da República, o chefe de Estado lembrou quanto o mundo se transformou nos últimos anos e aproveitou para falar das questões migratórias, tema em que elegeu o Luxemburgo como um país modelo. Apesar de não ser "só português", o inverno demográfico é "um problema de fundo", considerou Marcelo Rebelo de Sousa. No que respeita à perda de população para fora do país, disse que "felizmente" já se regista "um começo de reversão da tendência", mas é uma tendência "muito ligeira e não está a compensar a evolução populacional". Após ter dito que, no que respeita às emigrações, "a diáspora deve estar no topo das prioridades" dos portugueses, o Presidente dedicou-se à questão da imigração. "É talvez uma das últimas oportunidades para o fazer", e relembrou o seu voto de que deixará de intervir publicamente quando deixar o Palácio de Belém. Para falar da imigração, Marcelo Rebelo de Sousa preferiu dar um exemplo de um país que "há 50 anos optou pela imigração portuguesa", o Luxemburgo. "A sociedade ainda era rural, católica, conservadora e escolheu pelas afinidades. Foi uma aposta de Estado", afirmou, tendo ainda recordado que o então primeiro-ministro Jean-Claude Juncker, que mais viria a ser presidente da Comissão Europeia, fez investimentos em Portugal "em habitação, em instituições sociais, em educação", tendo como objetivo o regresso de parte da população migrante do grão-ducado. O Presidente aponta como única crítica a este país modelar no acolhimento de migrantes a persistência "do problema do elevador social".Ao passando para Portugal, disse que a "viragem de ciclo na visão sobre migrações" foi acompanhado da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o qual, lamentou, não foi devidamente substituído. Tudo isto trouxe questões acrescidas, "primeiro por razões da regularização" dos imigrantes, depois pela realidade económica e, por fim, pela perceção. "A perceção de uma realidade incontida e incontível associada a visões míticas", nomeadamente da chegada de muçulmanos. E, como há que ter "a noção exata dos números", Marcelo enumerou quantos são e de onde procedem os imigrantes. A conclusão desta "questão sensível", é a de que num universo de aproximadamente 1,5 milhões de pessoas os muçulmanos são uma minoria originária da Guiné-Bissau (em parte) e do Bangladesh. E como cerca de dois terços são oriundos dos países de língua oficial portuguesa, "há um reforço dos laços" com esses estados.Mais tarde, o Conselho da Diáspora Portuguesa, que tem na direção António Calçada de Sá e na presidência da Mesa da Assembleia Geral Durão Barroso, homenageou Marcelo Rebelo de Sousa.