O presidente da Câmara de Boticas disse esta segunda-feira estar desiludido e preocupado com a decisão governamental que permite que a empresa Savannah aceda a terrenos privados e baldios para a prospeção de lítio.."Para além de ficar desiludido, fico preocupado. Desiludido porque esta pressa da senhora secretária de Estado em conceder esta servidão administrativa a uma empresa privada não é normal, isto não é interesse público nenhum e estas servidões administrativas servem efetivamente para o interesse público", afirmou à Lusa o social-democrata Fernando Queiroga..O autarca, que cumpre o terceiro e último mandato à frente da Câmara de Boticas, distrito de Vila Real, disse ainda estar preocupado com "o prejuízo" que a decisão implica para a sua população..A secretária de Estado da Energia, Maria João Pereira, emitiu um despacho, publicado a 6 de dezembro em Diário da República, que autoriza a constituição de servidão administrativa, pelo prazo de um ano, o que permite à empresa Savannah aceder a terrenos privados e baldios para a prospeção de lítio..A associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) já disse que não reconhece legitimidade à decisão do Governo e a Savannah Resources anunciou que pode "retomar o trabalho de campo e as perfurações necessárias" para o estudo definitivo (DFS) e o processo de conformidade ambiental do projeto lítio do Barroso, prevendo concluir estas etapas em 2025..Em Covas do Barroso e Boticas estudam-se formas de contestar o despacho da secretária de Estado..Em outubro, proprietários de terrenos onde a Savannah quer fazer sondagens receberam uma notificação da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) sobre o processo de servidão administrativa, que contestaram no prazo de 10 dias..Fernando Queiroga lembrou agora que o processo do lítio é "complicado e delicado" e lamentou não haver "o bom senso por parte da senhora secretária de Estado em ter uma conversa com os responsáveis políticos do território", nomeadamente câmara e juntas de freguesia".."Pelo menos para explicar para o que vai servir esta servidão administrativa. Deduzo que seja para fazer algumas sondagens, mas não sei", apontou, lembrando que, nas sondagens feitas em 2015, "esventraram tudo e fizeram plataformas com 400 metros"..Agora, acrescentou que não sabe quantas sondagens vão ser feitas, mas que sabe que, logo nos dias a seguir à publicação do despacho em DR, a empresa já estava "muito entusiasmada a entrar nos terrenos e a fazer até alguns cortes de árvores para passar com as máquinas".."Sendo um processo tão delicado como este deveria a senhora secretária de Estado ter o bom senso de pelo menos explicar aos autarcas porque é que isto vai ter de ser feito e porquê desta forma", reforçou..O autarca garantiu o empenho em defender o território e a população e considerou que, num país que vive em democracia, tem que haver, "pelo menos, dialogo e explicações".."Foi sempre o que nós pedimos desde o início: explicações e esclarecimento de dúvidas", frisou, admitindo que não estava à espera, nesta altura, da decisão da secretária de Estado da Energia..A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) viabilizou ambientalmente a exploração de lítio na mina do Barroso emitindo uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável em maio de 2023, integrando um conjunto alargado de condicionantes..A empresa já disse que prevê iniciar a produção em 2027.