Lisboa. Manifestantes lembram morte de Alcindo Monteiro, assassinado por neonazis
"Hoje é um dia de memória, mas também um dia de luta antirracista". Assim foi definida a marcha que saiu no final desta manhã da rua Garret, onde há 29 anos o cidadão cabo-verdiano Alcindo Monteiro foi brutalmente assassinado por neonazis. Mais de 40 associações participaram da manifestação, que reuniu uma centena de pessoas.
Embalados por dois grupos músicais, Baque do Tejo e Ritmos da Resistência, os participantes saíram da rua Garret e subiram até o Largo do Carmo, sob olhares curiosos e fotografados por telemóveis de turistas. Nas faixas lia-se "Unidos contra o racismo e a xenofobia, 10 de junho", "Contra o racismo", "Respeito não tem cor, tem consciência" e "Alcindo, presente".
Além dos cartazes, a memória de Alcindo foi lembrada das mais diversas formas: com estampas em t-shirts, sacos de pano e faixas. Mas Alcindo não foi a única vítima em Portugal, nem a única a ser lembrada. Foram mostradas placas com os nomes de todas as pessoas mortas por racismo em Portugal nos últimos anos, além da idade e local do assassinato.
Um deles foi José Carlos Vicente, conhecido por "Teti", de 16 anos, agredido pela polícia no bairro 6 de maio, na Amadora. Ao lado de cada nome, estava também o símbolo que representava a arma usada nos crimes: taco de baseball, disparo de arma de fogo e cassetete policial, por exemplo.
Os gritos de ordem foram os de outros protestos. "Contra a discriminação, cumprir a Constituição", "Racismo em Portugal, vergonha nacional", "Xenofobia em Portugal, herança colonial". "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais" e "Contra a precariedade, lutemos todos por igualdade". No Largo do Carmo, os participantes reuniram-se em círculo, com os nomes das vítimas no meio.
Os representantes das organizações presentes lembraram a relação do racismo com a história e a desigualdade social. Os imigrantes também foram lembrados. Flávio Almada, que representa o movimento Vida Justa, pediu mais agilidade na tramitação dos processos dos imigrantes em Portugal. "Não podemos mais esperar até amanhã", afirmou.
Ao DN, Flávio Almada avalia que a participação na manifestação foi boa mas esperava mais. "É preciso mais, é preciso mais. Para aquilo que se pretende, é preciso bem mais, mais envolvimento e participação das pessoas. Porque nós somos os responsáveis quando agimos e quando não agimos. Então, se uma grande força da sociedade não está aqui, isso também é sintomático", reflete. Ao mesmo tempo, lembra que parte das pessoas estão a trabalhar, mesmo no feriado. "A vida dos trabalhadores é dura", complementa.
(Leonardo Negrão / Global Imagens)