João Cura Mariano, presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
João Cura Mariano, presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).Gerardo Santos

Líder do Supremo diz que houve juízes punidos por "negligência grave" ao usar Inteligência Artificial

João Cura Mariano sublinhou que foram detetadas sentenças com referências a "artigos que não correspondiam ao conteúdo correto e a acórdãos que simplesmente não existiam".
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O presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) disse este sábado, 18 de outubro, em Macau, que já houve processos disciplinares a juízes por usarem inteligência artificial (IA) na elaboração de decisões, mas apenas em "casos de negligência grave".

João Cura Mariano sublinhou que foram detetadas sentenças com referências a "artigos que não correspondiam ao conteúdo correto e a acórdãos que simplesmente não existiam".

O líder do STJ de Portugal, que por inerência também preside ao Conselho Superior de Magistratura, lembrou que "não é proibido" aos juízes usarem IA, mas que "há uma obrigação de controlar o material que ela fornece".

João Cura Mariano alertou para o risco dos magistrados passarem a ser não apenas "preguiçosos", mas até terem "um défice cognitivo" caso abusem da utilização de tecnologia.

O magistrado até demonstrou otimismo quanto a uma maior utilização de ferramentas de IA na justiça e previu que "vai revolucionar por completo a vida dos tribunais".

Por exemplo, o presidente do STJ disse que a tecnologia poderia diminuir a mão-de-obra necessária para a tramitação de processos: "qualquer sistema de inteligência artificial faria isso sem qualquer problema".

No entanto, João Cura Mariano sublinhou que "tem que haver limites" para garantir que "as decisões continuam a ter uma componente humana" e que os juízes não serão "substituídos por mecanismos".

"Quando um dia o homem abdicar de julgar o seu semelhante, provavelmente deixará de ser a espécie prevalecente no mundo", previu o juiz.

João Cura Mariano falava durante um evento público em Macau, onde vai participar, no domingo, na 13.ª edição do fórum que junta presidentes dos Supremos Tribunais de Justiça dos países e territórios de língua portuguesa.

"São encontros muito úteis, em que partilhamos experiências, mas depois na práticas não têm muita efetividade", lamentou o magistrado, que defendeu maior cooperação.

O presidente do STJ deu como exemplo a formação de magistrados, que poderiam incluir "experiências em outros países", estudos de direitos comparado e partilha de avanços tecnológicos.

À margem do evento, João Cura Mariano disse aos jornalistas que, entre as jurisdições de língua portuguesa, a do Brasil é a pioneira, estando "muito avançado" na utilização da IA.

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