Foi um domingo de outubro de verdadeiro inferno em Portugal, com mais de 440 incêndios florestais, 33 dos quais de grande dimensão (523 ocorrências, segundo o primeiro-ministro), que provocaram pelo menos seis mortos em Penacova, Sertã e Oliveira do Hospital, a destruição de habitações, indústrias e outros bens, o corte de muitas estradas e ferimentos em, pelo menos, 17 bombeiros e oito civis. Centenas de pessoas tiveram de ser retiradas de suas casas..Foi "o pior dia do ano em termos de incêndios florestais", confirmou logo ao início da tarde Patrícia Gaspar, a porta-voz da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), enquanto o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, disse que a maioria dos fogos tem origem criminosa. A real dimensão dos estragos só hoje poderá ser verdadeiramente avaliada, mas foi um dia de sufoco, só superado pela tragédia de Pedrógão Grande, que causou 64 mortes..[artigo:8845607].As populações de várias localidades viveram um dia de pânico, com muitas queixas sobre a falta de meios. Os bombeiros tinham dificuldade em acorrer a tantas solicitações. João Miguel Henriques, autarca de Vila Nova de Poiares, disse que o fogo propagou-se durante algum tempo "na área urbana e perto das habitações", devastando quintais, pomares, vinhas e três casas. Na Lousã a situação foi semelhante. O fogo "está descontrolado", foi uma das frases mais repetidas ao longo do dia por autarcas e populares. Em Braga também houve momentos dramáticos, com as populações da zona da Falperra a serem retiradas, já que o fogo ameaçava moradias. Em Gouveia vários edifícios estavam, à hora de fecho desta edição, envoltos em chamas..No Twitter, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, reagiu ao que se estava a passar no país: "Portugal está a arder! Basta de discursos e boas intenções! É imperioso apurar responsabilidades e agir.".[artigo:8845924].Ministra pede auxílio.Durante a tarde, a ministra Constança Urbano de Sousa presidiu a uma reunião extraordinária do Centro de Cooperação Operacional Nacional, onde se decidiu acionar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos..Já à noite, o primeiro-ministro, António Costa, teve uma reunião de emergência na Autoridade Nacional da Proteção Civil e anunciou que o Governo decreta a calamidade pública para todas as regiões a norte do Tejo..António Costa reafirmou ainda que "a ministra tem condições para continuar" e realçou a dureza de um dia particularmente difícil, com 523 ocorrências e "meios esticados ao limite numa fase do ano em que é mais difícil mobilizar pessoas"..[artigo:8846190].Todo o país está em alerta vermelho, mas a zona centro, em especial os concelhos de Lousã, Seia, Sertã, Alcobaça, Cantanhede e Ericeira, e o Alto Minho (Monção) foram ontem as regiões atingidas com as maiores ocorrências. O distrito do Porto teve mais fogos, 120. A fase Charlie terminou em setembro e, apesar de críticas a pedir o seu prolongamento, o governo decidiu apenas dotar de mais meios, 800 operacionais, e reativar postos de vigia até 31 de outubro. As previsões meteorológicas já indicavam que iria ser um dia com elevadas temperaturas, com máximas entre 33 e 35 graus, e vento forte, por efeito da passagem do furacão Ophelia. "Sabíamos que à partida qualquer ignição" iria provocar fogos difíceis de controlar, explicou Patrícia Gaspar, durante um briefing efetuado à tarde. A porta-voz da ANPC acrescentou que, além das temperaturas altas e vento forte, os níveis de 10% a 12% de humidade relativa são baixos e que perante a seca acumulada o perigo de combustão era muito elevado.."Isto não é por acaso".O secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, não teve dúvidas ao afirmar que os incêndios florestais registados têm origem criminosa. "As áreas onde há pastorícia estão todas a arder. Isto não é por acaso", disse Jorge Gomes, em Arouca, onde acompanhava a evolução do incêndio de Vale de Cambra, um dos maiores de ontem e onde terá sido detido um homem, suspeito de atear o fogo. "Não se põe um país arder de um dia para outro só porque se anunciou que vai haver chuva. Como estão proibidos de fazer queimadas e foi prolongada a proibição até 31 de outubro, há gente que não resiste a isso, que olha para os interesses pessoais", apontou..Hoje é suposto a chuva trazer alívio.O Instituto Português do Mar e da Atmosfera já tinha antecipado que o dia seria quente e que, com vento, havia condições propícias a fogos. "Para outubro é uma temperatura muito alta. Não é dos dias mais quentes do ano, o que é mais anormal é que foram vários dias seguidos, mas a partir de segunda-feira tudo muda", explicou Daniel Zeferino, meteorologista do Best Weather. As previsões indicam que hoje, fruto da passagem do furacão Ophelia , deve chover e as temperaturas baixam cerca de dez graus. Ainda assim, a Proteção Civil alargou o alerta vermelho vigente até às 20.00 de hoje.