Na tarde do dia 3 de junho, quando o Governo anunciou o Plano de Ação para as Migrações, com o fim das manifestações de interesse, um alerta acendeu nas associações de imigrantes. Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil e presente no evento de lançamento do plano, manifestou de imediato ao DN a sua preocupação com a decisão. Iniciaram-se então conversações com outras associações para analisar as propostas anunciadas, que alteraram totalmente o cenário das migrações em Portugal..Foi o início de diversos encontros, reuniões e tentativas de reverter o fim das manifestações de interesse, considerada pelas associações como “um retrocesso”. O ponto alto dos protestos está marcado para esta sexta-feira, a partir das 15h00, com a concentração frente ao Parlamento. O objetivo é reivindicar o regresso deste mecanismo de regularização dos imigrantes em Portugal..O ato é convocado e organizado por mais de 50 associações e coletivos da sociedade civil. Algumas das maiores e mais atuantes entidades do setor subscreveram a convocação do protesto, como a Casa do Brasil e a Solidariedade Imigrante, com apoio de coletivos como o Vida Justa. “Estamos unidos por essa luta de retomar as manifestações de interesse”, explica ao DN Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil. A imigrante deixa claro que a ação é organizada e promovida pelo conjunto de coletivos, todos com o mesmo objetivo..Será a primeira grande manifestação de rua relacionada com imigração desde dezembro de 2022, quando o mesmo local foi palco de um protesto por melhorias no atendimento do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). “Esperamos que a concentração seja bastante participada, que as comunidades brasileira e de outras nacionalidades estejam em peso. É um momento de força e união para juntos combatermos esse retrocesso”, complementa a brasileira. A ação de rua marcada para esta tarde é o resultado de meses de discussões. Durante todo o verão, o grupo não parou de trabalhar. Desde o primeiro encontro, em meados de junho, a proposta de fazer uma ação de rua esteve em cima da mesa, foi uma questão de ajustar a data, com vistas a ser no outono..Um dos encontros foi com o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que declarou ter promulgado a medida que seria “temporária”, e que teve ampla repercussão entre a comunidade imigrante que vive em Portugal e, também, fora do país, como no Brasil e em alguns países africanos. As declarações abriram um mal-estar com o Executivo e acenderam uma falsa esperança em muitos imigrantes - sobretudo por desconhecimento de como funciona o sistema político de Portugal, em que as decisões não são do Presidente. Além do chefe de Estado, os partidos também foram procurados. As sinalizações positivas foram apenas à esquerda, como o Partido Comunista Português (PCP) e Bloco de Esquerda (BE)..É um reflexo das votações e iniciativas no Parlamento sobre a matéria, que não vão avançar sem apoio do Partido Socialista (PS), dividido na matéria, segundo sabe o DN. Há também a esperança de conseguir levar ao Parlamento uma petição para que o tema seja votado, numa iniciativa lançada pelo mesmo grupo de associações. “O objetivo não foi suspender temporariamente a aplicação destes artigos, mas sim eliminá-los de um decreto feito por um governo minoritário”, lê-se no documento. À hora de fecho desta edição mais de 980 pessoas já tinham subscrito a petição online. .O Governo já anunciou publicamente diversas vezes - e reforçou novamente ao DN - que não voltará atrás na decisão. O Executivo frisa que a ação já teve como efeito a diminuição em 80% da procura de Portugal como um destino. O discurso continua a ser o mesmo da campanha eleitoral. “Nem um país de portas fechadas, nem de portas escancaradas”, “recusando extremos”..amanda.lima@dn.pt