Num bairro de Lisboa onde antigos comércios fecham as portas para dar lugar a restaurantes focados em brunches, cafés de especialidade e hamburguerias artesanais, há uma antiga loja que resiste. O bairro em questão é Anjos, na freguesia de Arroios, considerado por diversas revistas especializadas mundo afora como o mais “cool” da capital portuguesa — e no qual o Hospital dos Candeeiros, um negócio de família aberto nos anos 60, ainda encontra terreno para prosperar."O nosso pai [Maximiano Rola] era fotógrafo e abriu uma loja de fotografia ao lado, que depois passou para o meu tio. Era um homem de muitas paixões, além de fotógrafo, era ciclista e motociclista, rodou o mundo. E tinha uma paixão por candeeiros também: por volta de 1973, passou a dedicar-se a isso junto com a minha mãe [Maria Gabriela]. Nós, bebés, já vínhamos para cá", conta Messias Rola, que hoje é o responsável pela loja ao lado da irmã, Maria Eugénia..No princípio focado apenas em comercializar candeeiros, Maximiano, ainda nos anos 70, começou a receber cada vez mais pedidos para os reparar. Foi aí que surgiu o nome que hoje se consolida como um dos mais icónicos dos Anjos."Ele tinha uma exposição enorme de candeeiros até lá ao fundo, era uma loja vocacionada para a venda de candeeiros novos e ele vendia bastante. Entretanto começaram a pedir para ele fazer arranjos também e ele, na brincadeira, dizia que era o Hospital dos Candeeiros. Quando foi registar o nome da marca, foi o que ficou", explica Messias, que herdou do pai os dotes de arranjo e é especialista na parte elétrica dos candeeiros, enquanto Maria Eugénia é a responsável pelo desenho de novas peças. . No interior da loja, candeeiros de todas as épocas misturam-se: há peças de cristal vindas de palacetes, abajures feitos à mão por Maria Gabriela e luminárias modernas desenhadas por Maria Eugénia. “Nós fazemos de tudo. Reparamos, desenhamos e restauramos. Já fizemos trabalhos para o Ministério da Administração Interna, para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e até para o Palácio da Ajuda”, conta.Tradição e modernizaçãoDesde os anos 70, conta Messias, o negócio familiar atravessou décadas de transformações no bairro e na própria cidade de Lisboa. “Antigamente havia muitas oficinas, carpintarias, fábricas pequenas aqui por perto. Agora é raro. Foi tudo fechando aos poucos”, lamenta.“As rendas estão altíssimas, é muito difícil um comércio pequeno conseguir sobreviver. Mas, felizmente, temos clientes fiéis e muita procura de quem nos descobre pela primeira vez. Claro que preocupa ver as lojas a fechar, mas ainda temos feito muita coisa”, ressalta.Para Messias, a principal vantagem de estar na região dos Anjos é justamente o hub cultural em que a zona se transformou. “O bairro está com muito movimento. Tem novos cafés, padarias e restaurantes, e isso acaba por nos ajudar. As pessoas passam, olham a montra, entram, ficam curiosas. Dá uma nova dinâmica e visibilidade também”, diz Messias, sem um tom de ressentimento e mais como quem reconhece que, para continuar de pé, é preciso aceitar o novo contexto da cidade..Enquanto Lisboa muda à volta, Messias e Maria Eugénia seguem fiéis ao negócio que os acompanha desde a infância. Para eles, o segredo da longevidade está em manter o que sempre distinguiu o Hospital dos Candeeiros: o caráter artesanal e a ligação emocional com cada peça.“Salvamos imensos candeeiros de irem para o lixo, centenas, privilegiando sempre materiais portugueses, de qualidade, e dando trabalho a muita gente. No fundo, vamos fazendo o nosso papel nessa economia circular, para não deixar as coisas morrerem..Fotogaleria: as esculturas de areia que já são parte da paisagem do Terreiro do Paço