Reunião com autarcas da serra da Estrela. Governo vai decretar estado de calamidade
Com a destruição de cerca de 25 mil hectares, segundo dados preliminares avançados pelas autoridades, os autarcas dos concelhos atingidos exigiram a ativação do estado de calamidade. A ministra da Presidência informou que o estado de calamidade vai ser decretado em Conselho de Ministros, sem referir ainda os territórios que serão abrangidos.
Após reunir, em Manteigas, com os presidentes de câmara dos cinco concelhos mais afetados pelo incêndio da serra da Estrela, para avaliar os prejuízos causados e definir medidas de apoio, o Governo informou, pela voz da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, que "durante os próximos 15 dias será feito um levantamento de todos os danos e prejuízos deste incêndio".
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Só depois do levantamento dos prejuízos, que será feito pelos organismos do Estado em parceria com os municípios, é que o Executivo irá aprovar um conjunto de medidas, "ao abrigo do estado de calamidade", que será decretado em Conselho de Ministros, disse a ministra no final da reunião, sem referir os calendários e os territórios que vão ser abrangidos, referindo ser necessário fazer primeiro um diagnóstico da situação.
Estado de calamidade "dará condições para que todos, Estado e autarquias, possam responder às necessidades deste território"."Essa é a garantia principal que aqui trouxemos várias áreas do Governo", continuou a ministra, acrescentando que a intervenção tem de ser integrada, "da Agricultura ao Ambiente, do Trabalho e Solidariedade à Coesão Territorial, a Administração Interna". É "fundamental" que todas estas áreas participem na reconstrução, afirmou.
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"Há muito trabalho para fazer e, por isso, definimos um calendário que é muito ambicioso", sublinhou a governante, afirmando que esta foi só "a primeira de muitas reuniões".
Em setembro, será definido plano de revitalização para a serra da Estrela
Depois do levantamento dos prejuízos, da aprovação de medidas de apoio pelo Governo, ao abrigo do estado de calamidade, a ministra afirmou que, em setembro, haverá um terceiro momento com a definição de um "plano de revitalização" do parque natural da serra da Estrela, "procurando diversificar as atividades económicas que aqui se fazem, apostar no turismo da natureza, mas também na proteção deste parque natural".
Um plano de revitalização"para deixar este parque natural melhor do que estava", reforçou.
A ministra da Presidência afirmou ainda que foi abordada na reunião com os autarcas "a avaliação que é precisa ser feita sobre a resposta dada a este incêndio desde as primeiras horas às fases posteriores". Uma avaliação que será feita "dentro de uma metodologia independente".
Antes da reunião com os autarcas das áreas afetadas, o Governo mostrou-se solidário com os municípios.
"É muito importante ouvir quem está aqui, quem tem vivido com as dificuldades. A nossa responsabilidade é de compreender essas dificuldades e fazer tudo o que pudermos e o que estiver ao nosso alcance para apoiar aqueles que precisam", disse o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, à entrada para a reunião.
José Luís Carneiro referiu que a mensagem do Governo é "de consternação por aquilo que se passou neste incêndio e nos incêndios por todo o país", referindo que "tudo tem sido feito em circunstâncias difíceis".
Segundo informação do gabinete da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, o objetivo do encontro com os municípios da Covilhã (distrito de Castelo Branco), Guarda, Manteigas, Celorico da Beira e Gouveia (distrito da Guarda) é "avaliar as necessidades e respostas integradas para estes concelhos" na sequência do "maior incêndio florestal ocorrido este ano no país", incluindo "apoio às famílias, às empresas e à reabilitação das zonas afetadas", em pleno parque natural.
Pelo Governo, estarão presentes os ministros da Presidência, da Administração Interna, José Luís Carneiro, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, e da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes.
O incêndio na serra deflagrou no dia 6 de agosto na Covilhã e foi dado como dominado no dia 13, mas sofreu uma reativação dois dias depois. Foi considerado novamente dominado na noite de quarta-feira, dia 17, onze dias depois.
Devido ao seu impacto, com a destruição de cerca de 25 mil hectares, de acordo com dados preliminares avançados pelas autoridades, os autarcas dos concelhos atingidos exigiram a ativação do estado de calamidade, um apelo ainda sem resposta.
"Um dano enorme da biodiversidade" desta zona classificada pela Unesco", diz biólogo
A Proteção Civil deu conta de que foi contabilizada a perda de duas casas e até às 12:00 de quinta-feira foram registados 24 feridos ligeiros e três graves, que entretanto já tiveram alta hospitalar. Houve ainda cerca de cinco dezenas de assistências médicas no terreno.
Na quinta-feira, a Estrelacoop -- Cooperativa de Produtores de Queijo da Serra da Estrela disse que "obrigatoriamente", vai ter de haver uma valorização do preço do leite das ovelhas bordaleiras, a principal raça ovina leiteira de Portugal, enquanto a Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ANCOSE) referiu que foi identificada, até à data, a necessidade de apoio a 12 pastores dos concelhos de Gouveia e Celorico da Beira, no âmbito de um levantamento que decorre e que foi pedido pelo Ministério da Agricultura.
O presidente da ANCOSE, Manuel Marques, manifestou-se "muito preocupado" com as consequências no setor da pastorícia, alertando para a possibilidade de estar em risco a produção do queijo da região.
No âmbito da recuperação, a associação cultural Amigos da Serra da Estrela já veio dizer também que é urgente "identificar as zonas de elevado risco de erosão e danos físicos e materiais" e fazer barreiras com material lenhoso.
José Conde, biólogo do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (estrutura da Câmara de Seia), considera que houve "um dano enorme da biodiversidade" desta zona classificada pela Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, com a perda de muitos e diversos habitats.
Segundo o especialista, ao nível da flora, as chamas afetaram, por exemplo, azinheiras, castanheiros, carvalhos ou caldoneiras (importante habitat para várias comunidades de insetos, répteis e aves)
Répteis como a víbora cornuda, o sardão, ou espécies de grilos e escaravelhos que apenas existem na serra da Estrela, assim como pequenos carnívoros como as fuinhas e as ginetas, terão sido afetados.
Notícia corrigida às 17:30: a ministra Mariana Vieira da Silva anunciou que o estado de calamidade será decretado em Conselho de Ministros, não no próximo Conselho de Ministros.