Fotografar as estrelas (no céu, as verdadeiras) pode ser uma atividade fascinante e por isso tem sido, nos últimos anos, uma aposta de algumas marcas de telemóveis, que têm utilizado várias técnicas para democratizar esta atividade que, normalmente, exige pelo menos a utilização de câmaras fotográficas semiprofissionais..Pioneira neste sistema para telemóveis foi a Google, que pela primeira vez introduziu o sistema em 2019, no Pixel 4 (a Samsung seguiu-a de perto, na série Galaxy S22, três anos depois). Foi com esse modelo que “alargámos ainda os limites da pouca luz ao introduzir o Modo Astro, permitindo aos clientes captar o céu noturno que normalmente não é visível aos seus olhos”, como explicou Michael Specht, o principal responsável da Google pelo desenvolvimento das câmaras dos seus smartphones..O encontro com jornalistas portugueses aconteceu, no final de novembro, no Dark Sky Alqueva, um local preparado para que qualquer pessoa observe as estrelas com um mínimo de poluição luminosa (a luz artificial das nossas cidades e vilas que impedem que, durante as noites sem lua, vejamos a cúpula celeste em todo o seu esplendor)..Desde que o tempo ajude, claro. Na noite que fomos lá fotografar, tivemos azar: parafraseando um boletim meteorológico, o céu esteve pouco nebulado, mas o suficiente para cobrir as estrelas que queríamos captar. Ainda assim, deu para fazer experiências bem interessantes....Aprender a fazer - e o que o aparelho faz.“No Pixel 9 incluímos a nossa melhor qualidade na astrofotografia, até à data, e ainda fizemos vários refinamentos e melhoramentos no interface do utilizador”, afirmou Michael Specht..Relativamente à primeira questão, explicou o especialista, quando é colocado neste modo - o Astro - o telefone captura 15 imagens com uma exposição de 16 segundos cada, durante um período total de quatro minutos..Depois, os algoritmos de sistema da Inteligência Artificial combinam todos estes frames numa única fotografia, de forma coerente..Durante todo este tempo, o telefone precisa estar totalmente imóvel. Por isso é importante que se utilize um tripé - ou, simplesmente, que o aparelho seja colocado em cima de uma mesa ou, até, no chão..Foi também a pensar nisto que o interface foi melhorado, na atualização de novembro que os smartphones Pixel receberam: “Integrámos um temporizador de pré-captura que se possa iniciar [o Astro Mode] e, de seguida, pousar o telefone e fazer a captação da imagem. É um temporizador de 5 segundos”, destaca o diretor da Google..E por que razão faz o telefone 15 imagens e não, por exemplo, 20 ou 25? “Muito tem a ver com os nossos testes iterativos, em campo, e descobrirmos qual o melhor equilíbrio entre o hardware e o software”, diz Specht. “Desenvolvemos algoritmos para distinguir o que são realmente as estrelas, para remover o ruído na imagem e não as estrelas reais, ficando com algo que uma pessoa fique feliz em partilhar, levar para casa ou de que se orgulhe, com brilho, detalhes, gama dinâmica, diferenças de cor...”.Além disso, há outra limitação para o tempo de exposição da captação de imagem, que não há nada que o ser humano possa fazer para mudar... “As estrelas ‘movem-se’, enquanto a Terra gira”, lembra Michael Specht. E, quanto a isso, o algoritmo do telefone não compensa nada, esclarece o especialista..Uma coisa é certa - e pudemos testá-lo mesmo entre as nuvens, nos momentos em que o céu ‘abriu’: mesmo que se olhe para cima e não se veja qualquer ponto luminoso, é perfeitamente possível que o telefone capte estrelas que pareciam não estar lá. .O planeta Júpiter captado entre as nuvens, vislumbrando-se ainda algumas estrelas que a olho nu dificilmente eram percetíveis. FOTO: RSF com Pixel Pro XL em modo Astro.Poluição luminosa é sempre um problema.Para entrar em modo Astro, no novo interface dos Pixel, basta escolher o modo de foto noturna e estender o temporizador de exposição para o máximo tempo. Se o aparelho ‘perceber’ que está em condições de fotografar estrelas, entra imediatamente neste modo..Isto porque, tal como Michael Specht nos explica, os sensores de luminosidade do Pixel - adicionados aos sistemas de Inteligência Artificial - visam impedir que o telefone entre em modo de astrofotografia se houver demasiada luz ambiente “para que a pessoa não perca quatro minutos e depois não saia nada”..Assim, o ideal é escolher um local o mais protegido possível de iluminação artificial - na serra, por exemplo, ou na praia - mas também uma esplanada num ponto alto (desde que com pouca luz à volta) pode resultar..Imagem captada com o Pixel 9 Pro pelo astrofotógrafo Miguel Claro com a Via Láctea no centro. A foto é captada em formato RAW e depois é feito o correto equilíbrio digital de cores, em computador, para extrair toda a informação possível. FOTO: Miguel Claro..Um parâmetro a mudar à mão.Outra coisa que também não pode esperar é que as fotos ‘saiam’ do telefone com a qualidade das duas imagens que publicamos nesta página, captadas pelo astrofotógrafo Miguel Claro com um Pixel 9 Pro (as outras imagens neste artigo são do autor do texto)..Estas duas fotos são demonstrativas de como é possível retirar ao máximo todas as potencialidades destes smartphones. No entanto, alerta este especialista, para obter este resultado é sempre necessário levar as imagens a “estúdio” - nomeadamente, para fazer o correto equilíbrio de cores..Assim, há um parâmetro essencial a mudar manualmente no telefone antes de começar a fotografar: dizer ao aparelho para fotografar em formato RAW+JPG..Os ficheiros assim gerados são muito “pesados” porque todas as informações de cada píxel da imagem ficam guardadas de forma exata, sem serem compactadas. A vantagem disso é que “podemos tirar o máximo do que veio dessa informação”, como explicou Miguel Claro. “Se vocês estiverem a gravar no [tradicional] JPEG, este reduz [os dados] para metade, 8 bits, perdem metade da informação que lá está. Se quiserem captar mais detalhes, especialmente nesta fotografia, que é mais desafiante, é importante usarem esta função”, esclarece..Claro que depois o utilizador tem de ter paciência para, ao chegar a casa, descarregar as fotos para o computador, abri-las num programa de edição e trabalhá-las. Mas nada de bom se consegue sem trabalho..Outra imagem do "nosso" braço da Via Láctea captada pelo Pixel 9 Pro, também com o devido tratamento digital para extrair toda a informação captada pelo telefone. Aqui é ainda visível o cometa Tsuchinshan-ATLAS, que "passou" na vizinhança da Terra em outubro. FOTO: Miguel Claro..“O céu não é negro”.O objetivo é conseguir captar o céu noturno como a Natureza o ‘fez’. Daí ser essencial fazer a regulação certa do balanço de brancos. “A ideia é que o que é branco esteja representado como branco, e não rosa, ou não amarelado”, alerta Miguel Claro. A partir daí, todas as cores captadas deverão ficar certas. .“Vamos perceber que o céu noturno tem as suas cores naturais. As estrelas não são todas brancas, são amarelas, são azuis... quanto mais quentes as estrelas forem, mais azuis são e quanto mais frias forem, mais amarelas elas são”, afirma este especialista. .Aqui, a “cor” e “temperatura” funcionam ao contrário da forma como psicologicamente fazemos esta interpretação. Explica Miguel Claro: “Se pegarem num ferro preto, negro, frio, e o aquecerem até ele se tornar incandescente, qual é a primeira cor que vão ver? Vermelho. Mas se o aumentarem de temperatura, ele vai mudar de cor. Vai passar do vermelho à laranja, do laranja à amarela, a branco e a azul, que é mais quente.”.Uma coisa é certa, visto da Terra, “o céu nunca é preto, está cheio de coisas. Quando o vemos preto é apenas um fator ilusório dos nossos olhos, porque a pupila fecha”. E para as ver, temos as melhores ferramentas, cada vez mais acessíveis a todos - a astrofotografia..Na sala do observartório do Dark Sky Alqueva eencontram-se dois telescópios onde os visitantes podem observar planetas e estrelas. FOTO: RSF com Pixel 9 Pro XL em modo Noturno..Ver a Via Láctea no meio do Alentejo.O Dark Sky Alqueva, o local onde decorreu esta experiência, permite ao visitante observar os planetas do Sistema Solar e as estrelas da nossa galáxia, a Via Láctea, em pleno Alentejo. Situado a cerca de 180 km de Lisboa, está aberto a qualquer visitante - mediante marcação prévia, pelo site darkskyalqueva.com, tendo disponível dois telescópios e assistência profissional, bem como a realização de workshops periódicos.