Mais de 100 delegados dos três sindicatos que integram a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) vão estar reunidos no 14.º congresso, esta sexta-feira e sábado, 14 e 15 de novembro, em Viana do Castelo, para debaterem que “Futuro queremos para o SNS” e o plano de ação para o triénio 2026-2028. Um congresso que, segundo explicou ao DN a presidente da Fnam, Joana Bordalo e Sá, “é um dos momentos mais importantes da nossa vida democrática, e onde, acima de tudo, são definidas as linhas estratégicas e reivindicativas de soluções para orientar a nossa ação”.É um congresso que acontece de três em três anos, mas, este ano, Joana Bordalo e Sá considera que tem a particularidade de “decorrer num momento muito crítico para a profissão médica. Vivemos um cenário de muita incerteza e com uma estratégia governamental conduzida pelo governo de Luís Montenegro e pela ministra Ana Paula Martins, que ameaçam cada vez mais a sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), tal como o conhecemos, um sistema público, universal, geral e próximo das pessoas”. Joana Bordalo e Sá reforça mesmo que esta reunião magna da estrutura, que servirá também para eleger dois órgãos nacionais dirigentes, servirá para discutir e aprovar eventuais medidas de luta, dado que “os problemas nunca mais acabam e vemos que escasseia a vontade política de os resolver”, considerando que “o SNS está a ser empurrado para uma espiral de destruição com um impacto direto nos cuidados prestados à população”.Para contextualizar, a médica recorda que “mais de 15% da população continuam sem médico de família, que há serviços de urgência, sobretudo da área da ginecologia-obstetrícia, que continuam a encerrar de forma permanente” e que “as populações estão a ficar sem cuidados de proximidade”. .Fnam acusa ministério da Saúde de não “respeitar princípios constitucionais e laborais que regem o SNS”.Por outro lado, cita o relatório da OCDE publicado esta semana, em que Portugal é comparado com outros países e onde fica demonstrado que “os médicos em Portugal têm uma perda de poder de compra sem paralelo na Europa". "Estamos abaixo da média da OECD, com países como a Lituânia e a Estónia à nossa frente. Mas em termos de poder compra, estamos longe dos padrões que são praticados nos Países Baixos, na Islândia, na Finlândia, Suécia e até em Espanha”, refere. Se, em 2012, “um médico que entrava na carreira recebia 6,2 vezes o salário mínimo nacional da altura, em 2027 esta proporção vai cair para 3,6, praticamente metade sendo que nos médicos mais seniores a queda é brutal, de 11 vezes passa para 5,9 vezes o salário mínimo”.Na sua opinião, “esta desvalorização salarial e a perda de poder de compra também explica a fuga crescente de médicos para o setor privado e para o estrangeiro, o que tem vindo a ter custos que são incalculáveis para o país”.A médica explica que este congresso, com a duração de dois dias, está dividido em temáticas e, no primeiro dia, terá vários grupos de trabalho para “discutir a carreira médica, o internato, os concursos e as progressões”, como também outros grupos onde serão debatidos temas que, por vezes, pouco se falam, como “a prevenção da violência contra médicos, a melhoria das condições da parentalidade”.Mas em cima da mesa do congresso estará também a situação da precariedade laboral, nomeadamente a situação dos médicos tarefeiros. “A posição da Fnam é muito clara, defendemos que todos os médicos deviam estar integrados na carreira, incluindo os médicos prestadores de serviço, porque o vínculo deles é precário e, a maior parte deles, não é prestador de serviço porque assim o desejou, mas porque foi empurrado para fora do sistema. Portanto, a nossa posição é a de que não queremos vínculos precários, queremos que estes médicos estejam integrados na carreira, mas para isto é preciso por começar a haver melhorias na parte salarial e a recuperação do poder de compra da classe”.A partir do trabalho e da discussão dos grupos de trabalho será elaborado plano de atividade para o próximo triénio, que será discutido e aprovado já no domingo.