Fim dos brasões em Belém provoca coro de críticas

Junta de Freguesia admite providência cautelar. Movimento cívico pede intervenção do Presidente da República

O fim dos brasões florais na Praça do Império, em Belém, está a provocar uma onda de críticas e motivou já um apelo ao Presidente da República, para que intervenha em defesa da atual configuração do jardim.

Como o DN avançou ontem, a proposta escolhida pelo júri para a requalificação da Praça do Império prevê a substituição dos 30 brasões - que representam as armas das cidades capitais de distrito portuguesas e das ex-colónias - por um espaço relvado. A classificação será hoje sufragada em reunião privada do executivo camarário e tem já garantido o voto contra de toda a oposição. PSD e CDS vão apresentar propostas alternativas (ver texto ao lado).

Quem também não poupa críticas à decisão de acabar com os arranjos florais da Praça do Império é o presidente da Junta de Freguesia de Belém. Fernando Ribeiro Rosa (PSD) promete usar "todos os meios legais" para travar a implementação do projeto. Nomeadamente "a mesma coisa que o Sr. Sá Fernandes fez com o Túnel do Marquês" - leia-se apresentar uma providência cautelar contra a substituição dos brasões florais por um espaço relvado. O autarca diz, no entanto, acreditar ainda que o fim dos brasões não será levado adiante. "Acho que o Dr. Fernando Medina, quando voltar de férias, vai pôr ordem na casa", referiu ao DN, prometendo que a Junta de Belém "não vai transigir" nesta matéria. "O próprio Ministério da Cultura e o governo têm de ter uma palavra sobre isto. O jardim está na zona de proteção dos Jerónimos [património mundial da UNESCO ], não se pode destruir assim símbolos que são parte da nossa história. Mas acho que acabará por imperar o bom senso", defende o autarca social-democrata. Ontem, a Junta de Freguesia emitiu um comunicado garantindo que não admitirá "qualquer solução que não inclua a reabilitação dos brasões que ali existiam e que a Câmara Municipal de Lisboa desprezou de tal forma que os desconfigurou e estragou".

"Não existem brasões nenhuns"

A desconfiguração dos brasões foi um dos argumentos ontem invocado por José Sá Fernandes para justificar a troca por um espaço relvado. Em declarações à agência Lusa, o vereador da Estrutura Verde diz que "não existem brasões nenhuns", dado que face à falta de manutenção a vegetação acabou por tomar conta das insígnias desenhadas em buxo e flores. Em sentido inverso, Sá Fernandes defende que o projeto vencedor do concurso de ideias para a requalificação do espaço "valoriza bastante a história", na medida em que repõe a versão original do jardim, da autoria de Cottineli Telmo.

Simonetta Luz Afonso, que presidiu ao júri que escolheu a proposta vencedora, argumenta que os brasões não são um elemento histórico do jardim, mas figuras decorativas que foram ali colocadas em 1961 e com carácter temporário.

Apelo ao Presidente da República

Argumentos que não convencem o movimento Cívico Fórum Cidadania Lisboa, que veio ontem apelar ao Presidente da República para que intervenha junto da Câmara Municipal de Lisboa "no sentido de esta se coibir de avançar com a destruição em definitivo dos brasões em mosaico cultura que ainda subsistem no espaço ajardinado em volta da fonte luminosa da Praça do Império". Para o movimento cívico trata-se de uma tentativa - "ridícula" - de "reescrever a história", "aproveitando o estado visível de abandono que os canteiros apresentam desde há vários anos a esta parte". O movimento sugere também que a recuperação e manutenção dos brasões seja entregue à Junta de Freguesia de Belém, que já se mostrou disponível.

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