O terceiro caso recente de fuga de reclusos de prisões em poucos meses não surpreende Hermínio Barradas, presidente de direção da Associação Sindical de Chefias do Corpo da Guarda Prisional (ASCCGP). “Mais fugas vão acontecer”, alerta quando comenta ao DN a evasão de dois reclusos, entretanto já capturado, da prisão de Alcoentre no final da tarde de segunda-feira. Segundo o profissional, este aviso também não é novo, tendo sido sucessivos os apelos para um maior investimento nas prisões, em especial no reforço da segurança e dos meios humanos.Entre os motivos que o levam a acreditar em mais fugas no futuro está o “desinvestimento nas prisões”, a falta de profissionais, em especial de chefes e a “escolha da tutela em priorizar outras tarefas como levar reclusos a tribunal”, elenca Hermínio Barradas. “Nós arriscamos cada vez mais na parte securitária para andar a fazer diligências a tribunais”, complementa.Na visão do presidente da direção, “o sistema prisional está em degradação” e “as cadeias portuguesas estão entregue cada vez mais a si próprias”. Especificamente sobre a fuga em Alcoentre, Barradas relata que a greve ao trabalho suplementar pode ter tido algum impacto. “O facto de estarem em greve ao trabalho suplementar e no acordo dos serviços mínimos, quem se declarasse em greve ia-se embora, ou seja, duas equipas de trabalho às 16 horas foram rendidas por apenas uma. E portanto, só estava uma equipa a trabalhar, além de já estar deficitário”, explica. ."Precisamos de um pacto do regime para as prisões", diz Hermínio Barradas.Além disso, o momento da fuga foi num momento crítico para o serviço. “Aquela meia hora antes de um encerramento em qualquer zona prisional é um momento de muita agitação, aqueles 20, 30 minutos antes do encerramento e estava-se a dar refeições ainda”, frisa. A torre de vigilância estava sem vigia naquele momento. “A torre não tinha ninguém, porque os que estavam foram afetos a outras tarefas”, diz. “São todas as condições para correr mal”, resume Hermínio Barradas.A própria Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) reconheceu que “à hora que se verificou a evasão no Estabelecimento Prisional de Alcoentre havia um déficit de elementos do Corpo da Guarda Prisional ao serviço, em função da greve às horas extraordinárias que aí está a decorrer”. Em entrevista à Lusa, Frederico Morais, presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCCP), disse que a fuga é reflexo de um “problema estrutural” de “falta de segurança” nas prisões, mesmo facto alertado pela associação sindical das chefias. Em comunicado, a DGRSP afirmou que “internamente irá proceder-se a um processo de averiguações a cargo do Serviço de Auditoria e Inspeção coordenado por Magistrado do Ministério Público tendo em vista apurar as circunstâncias da ocorrência”. .Vale de Judeus vai testar inibidores de sinal de telemóveis e de drones.Em declarações aos jornalistas no final da tarde de terça-feira, 08 de julho, a ministra da Justiça, Rita Júdice, disse que “não havia nenhum guarda a seguir as CCTV e não havia também no pátio nenhum guarda” e que “esta falha está relacionada com a falta de “recursos disponíveis”. Os reclusos, recapturados após denúncia anónima, são de nacionalidade portuguesa, têm 37 e 44 anos e encontram-se condenados pelos crimes de tráfico de estupefacientes e roubo em penas de 5 anos e 8 meses e de 4 anos e 9 meses. A dupla foi capturada pela Guarda Nacional Republicana (GNR).Dia de greveAlém da greve dos guardas já a decorrer, está marcada para o dia 17 de julho, quinta-feira da próxima semana, uma greve de 24 horas de todos os chefes prisionais.Uma das reivindicações da classe é justamente medidas contra a “falta de segurança nos estabelecimentos prisionais”, além de “uma objetiva resolução dos problemas estruturais do sistema prisional” e “contra a inércia governativa de promoção de medidas de atratividade para a profissão”. Na próxima semana, o tribunal vai decidir sobre os serviços mínimos neste dia. “Se decidir como das vezes anteriores, vão ficar em uma data de cadeias sem chefe nenhum durante aquele dia, como já são sábados, domingo e feriados, as cadeias ficam entregues aos guardas, é mais um dia”, resume Hermínio Barradas.Dois dias antes, a direção da associação sindical tem uma reunião no Ministério da Justiça com o secretário de Estado Adjunto e da Justiça, Gonçalo da Cunha Pires. Será o primeiro encontro da entidade sindical com o secretário de Estado, que tomou posse no mês passado, em substituição a Maria Clara Figueiredo. Segundo o sindicalista, respostas rápidas não vão resolver a situação. “A única solução é mexer na estrutura”, defende Barradas.amanda.lima@dn.pt.Falhas nas prisões. Diretor de Segurança é oficial da PSP e alvo de inquérito.Ex-diretor-geral das prisões quebra o silêncio: "Quem falhou? Os guardas".Reclusos que se evadiram da prisão de Alcoentre foram capturados após denúncia