Muitos estrangeiros a trabalhar, profissionais com baixas qualificações e que auferem rendimentos reduzidos - esta é uma perceção comum sobre os motoristas de Transporte Individual e Remunerado de Passageiros em Veículos Descaracterizados (TVDE) em Portugal. Para combater este estereótipo, a Bolt encomendou um estudo junto dos condutores, com o objetivo de obter dados concretos. Mário de Morais, diretor-geral da Bolt em Portugal, disse ao Diário de Notícias que os resultados confirmaram aquilo que a empresa já observava. “Confirmaram muitos dos factos que nós sentíamos no mercado e sabíamos, e talvez tenham desmistificado alguns mitos existentes em relação ao tipo de motoristas, se trabalham a tempo inteiro ou parcial, ou aos rendimentos que o setor oferece”, explicou ao jornal.O inquérito foi conduzido pelo Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa. Um dos resultados mostra que 67% dos entrevistados afirmam que a sociedade não respeita as pessoas que conduzem para plataformas digitais. “Sabíamos que existiam certos limites de perceção. Na realidade, temos motoristas com formação que fazem da condução uma profissão, escolhida pela sua flexibilidade, e não por falta de alternativas”, analisa Mário de Morais. No estudo, 56% dos inquiridos dizem que trabalhar como motoristas TVDE melhorou a sua estabilidade económica, com 60% a ganhar mais de mil euros por mês e metade destes a auferir acima de 1500 euros. “Quando perguntamos para que é que eles estão a usar este dinheiro, vemos, por exemplo, um em cada quatro diz que já usou isto para ajudar a comprar uma casa. E que se pensamos num país que tem tido algumas dificuldades de escolha de habitação, ficamos muito contentes e é uma surpresa positiva”, analisa.Um dos mitos mais frequentes está relacionado com a imigração. O estudo indica que 19% dos condutores referem que outros equívocos passam pela falsa noção de haver demasiados estrangeiros a trabalhar na área e pela ideia de que a profissão não exige certificação. O diretor-geral da Bolt garante que “50% dos condutores são portugueses” e que “mais 25% são falantes de língua portuguesa, principalmente brasileiros”. Quanto aos cidadãos do Sul da Ásia, representam 20%. Os dados citados pelo gestor referem-se ao universo dos TVDE em Portugal e foram disponibilizados pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT). “Continuamos, portanto, a ter um mercado dominado por falantes de língua portuguesa, por pessoas de Portugal ou de outros países lusófonos. Também quebra um pouco este mito que existia e que, efetivamente, é uma mensagem que circula por outras razões, mas que não representa o setor”, destaca o responsável, referindo-se às críticas sobre o número de imigrantes nesta profissão.Perfil masculinoO perfil dos motoristas revela um grupo maioritariamente masculino, com 92%. Mário de Morais afasta medidas como um Bolt exclusivo para condutoras mulheres, como a Uber tem em Portugal e noutros países. “Achamos que não resolve nem o problema dos motoristas, nem o problema dos clientes, portanto, não está a resolver nada. E aquilo em que nós temos de apostar é, efetivamente, em ter bons motoristas e que todas as regras sejam cumpridas tanto pelo motorista, como pelo passageiro”, diz. Questionado pelo DN se gostava que a Bolt tivesse mais motoristas mulheres, responde que o género não é importante, assim como a nacionalidade. “Nós gostamos de bons motoristas. Abraçamos tão bem uma mulher, como um homem, um português como um cabo-verdiano, como um angolano, como um brasileiro, como um indiano, como o que seja, portanto, o que nós temos é bons motoristas. Acho que não é o género que faz uma pessoa melhor ou pior motorista, não é a nacionalidade que faz melhor ou pior, é a qualidade com que a pessoa está na profissão”, reflete.amanda.lima@dn.pt.Plataforma Bolt passa a disponibilizar táxis no Porto.Associação de TVDE quer tarifas mínimas na nova lei do setor