Manuel, Luísa, Laura, Emília, Teresa, Luís e Antónia são nomes fictícios dos sete idosos que o programa Estou Aqui Adultos salvou desde o início do ano, promovendo o encontro com as respetivas famílias. Sete pessoas, sete pulseiras das 1035 entregues nestes primeiros cinco meses de 2025. O programa — adaptado da versão para crianças até aos 15 anos — é dirigido a pessoas que, em função da idade ou de patologia, possam ficar desorientadas ou inconscientes, ainda que momentaneamente, na via pública. E cumpre, em 2025, dez anos de vida. Nesta década de atividade, foram atribuídas 18.496 pulseiras — 3439 destas, durante o ano passado — permitindo à PSP promover o reencontro rápido de 106 adultos, cujo paradeiro se desconheceu, momentaneamente, com as suas famílias. A fita de tecido em cor mate, gratuita, pessoal, intransmissível, traz uma chapa metálica com um código alfanumérico e a inscrição “Call/Ligue 112”. 6 de janeiro 2025. Manuel, 84 anos, é encontrado desorientado e perdido num parque da Amadora. À pessoa que o encontra, uma mulher, é incapaz de identificar-se. Afirma desconhecer a morada. Mas sabe mostrar a pulseira que traz no punho. Pouco depois, a polícia chega ao local. Verificada a impossibilidade de um familiar se deslocar ao parque, a PSP assegura o regresso do idoso a casa. Pouco mais de um mês depois. Em Faro, a PSP é chamada por um popular que se depara com uma idosa aparentemente perdida numa artéria da Baixa. Com lapsos de memória e desorientação, Luísa, paciente de Alzheimer em estado avançado, mostra-se incapaz de responder às perguntas dos agentes. Verificada a existência da pulseira, é conduzida à esquadra onde o filho se prepara para participar o desaparecimento da progenitora. “Dois casos que poderiam ter desfechos trágicos, não fosse o Estou Aqui Adultos!”, diz ao DN Sérgio Soares. O porta-voz da PSP congratula-se com “o sucesso destes dez anos”, não tão evidente quanto o do Estou Aqui Crianças!, por duas razões: “Porque começou mais tarde, mas, sobretudo, pelo preconceito que ainda existe em relação a estas pulseiras.” Em grande medida, por parte daqueles que se quer proteger. “Temos muitas pessoas a dizerem-nos que viveriam mais descansados se pais, avós ou outros familiares aceitassem a pulseira.” Um preconceito que a PSP quer combater. Com um prazo de validade de dois anos, é fácil e rápido solicitar um destes dispositivos. Basta fazer o registo prévio e, em seguida, deslocar-se à esquadra escolhida para levantar e validar a pulseira. O pedido pode ser feito pelo próprio utilizador ou por um terceiro, seja cuidador individual ou, como é o caso de Luís, uma instituição. É 17 de abril de 2025. Luís está numa esquadra para denunciar um roubo. O discurso incoerente, confuso, chama a atenção dos agentes. “Vê, sou Polícia Militar”, diz a certa altura, exibindo a pulseira do programa, que é ativada de imediato, perante estes factos. Luís sofre de esquizofrenia e de epilepsia, diz a tutora legal do idoso. O paciente regressará, assim, em segurança à residência Madre Teresa Calcutá. Privacidade garantida“O tratamento da informação no Estou Aqui Adultos! garante plenamente os direitos dos cidadãos quanto à proteção dos respetivos dados pessoais”, diz a PSP. Os pedidos formulados terão encaminhamento igual a qualquer outra solicitação da mesma natureza apresentada diretamente numa esquadra da PSP, a entidade responsável pelo tratamento de dados, cuja finalidade é a que resulta das atribuições e competências desta Força de Segurança, tendo em vista a prestação do programa Estou Aqui Adultos!. “A informação recolhida no âmbito do serviço Estou Aqui Adultos circula em condições de elevada segurança, garantida pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI)”, informa o site do programa. Os dados recolhidos destinam-se à correta identificação da pessoa que requer o serviço e do adulto inscrito, podendo ser pedida a confirmação da informação prestada através do e-mail indicado, por telefone ou presencialmente, se existirem dúvidas nos dados submetidos ao programa. Casos de sucessoA Laura. O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, através da 1.ª Divisão Policial, identifica no dia 31 de março, pelas 17h20, a residência e dados de familiares de uma mulher de 78 anos, através da pulseira Estou Aqui Adultos!. Mora com o neto. Também Emília, de Setúbal. Vítima de demência, é colocada em segurança pelo Estou Aqui Adultos!, a 6 de abril. O caso de Teresa: a 9 de abril de 2025, uma chamada para a esquadra da PSP do Porto muda o rumo de uma história que tinha tudo para acabar mal. A bordo de um autocarro, uma mulher idosa seguia sozinha, confusa e desorientada, sem saber ao certo onde estava ou para onde ia. Mostrando um discurso incoerente e visivelmente perdida no tempo e no espaço, Teresa é acompanhada pelos polícias até à esquadra. Com recurso ao código da pulseira, os agentes conseguem localizar e contactar o marido e o neto da idosa. A 13 de maio de 2025, na capital, uma mulher está perdida. Não foi fácil, diz o registo de ocorrência, chegar à fala com o neto. Antónia fica na companhia de agentes. Regressaria à família várias horas depois. "Todos estes casos tinham potencial para acabar muito mal. Estamos a falar de pessoas frágeis, algumas com patologias. O programa é para eles, tem sido um sucesso, mas é ainda urgente desfazer preconceitos", diz Sérgio Soares.."Estou Aqui!". Programa da PSP já atribuiu 623.197 pulseiras e encontrou 58 crianças