Ensino Superior: estudantes saem à rua para pedir fim das propinas e mais residências universitárias
Os problemas do Ensino Superior têm-se agravado no último ano.” Quem o diz é Guilherme Vaz, presidente da direção da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (AEFCSH), da Universidade Nova de Lisboa, um dos organizadores do protesto. Para o jovem, o preço do alojamento e a “insuficiente oferta de alojamento público” estão no topo das preocupações dos estudantes. “Nós identificamos um conjunto de problemas que impedem que muitos estudantes frequentem o Ensino Superior ou tenham de desistir a meio”, sublinha.
Guilherme Vaz afirma que “o abandono tem aumentado cada vez mais”, devendo-se a “dificuldades económicas”. “As dificuldades são muitas, desde a propina e as questões de alojamento. Às insuficiências de alojamento público, no caso dos estudantes, junta-se a agravante da cada vez mais frequente não- existência de contrato, o que impede obter apoios. E as bolsas também são insuficientes para fazer face às despesas”, explica.
A somar a estes problemas, conta, está ainda a “falta de apoio na saúde mental”. “Neste momento, há um psicólogo para 3000 estudantes. O rácio recomendado pela Ordem dos Psicólogos é de 500 estudantes. Há instituições com 10 mil estudantes ou mais que têm um psicólogo apenas”, denuncia.
Guilherme Vaz critica o Governo e acusa o Executivo de “optar por investir numa solução precária que não dá resposta às necessidades dos estudantes, com o cheque psicólogo”. “E esse cheque, devido aos critérios de elegibilidade, deixa de fora muitos estudantes”, garante.
O presidente da AEFCSH insurge-se ainda contra o putativo aumento de propinas, numa altura em que “é cada vez mais difícil para os estudantes terem condições para prosseguir estudos”.
Para Guilherme Vaz, a queda do Governo levou à paralisação de alguns dossiês, como a revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), “o que é positivo” e uma oportunidade para que os estudantes se façam ouvir de novo. “Temos de deixar uma mensagem clara ao sair à rua. Quem quer que venha tem de entender que precisamos de um Ensino Superior diferente e de qualidade”, conclui.
A manifestação começa na Praça do Rossio, em Lisboa, às 14h30, e termina em frente à Assembleia da República, estando previstas algumas intervenções. Contará com a presença de associações académicas e estudantis de todo o país.
“A propina dói, mas o alojamento mata”
A Federação Académica do Porto (FAP) não vai marcar presença na manifestação na capital, mas terá iniciativas locais para assinalar o dia, com principal incidência nos problemas de alojamento. “Achamos fundamental assinalar a data no Porto, que é a nossa região, e não vamos deixar de elencar os principais problemas dos estudantes do Ensino Superior”, explica Francisco Porto Fernandes, presidente da FAP, ao DN.
O dirigente firma que “os estudantes não compreendem a crise política”, com consequências negativas para o ES”. A revisão do RRJIES mais uma vez cai por terra devido a esta crise, as medidas de emergência adotadas - que foram positivas e que este ano tínhamos esperança de que fossem repetidas - e o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior ficam em causa. Teremos um Governo em gestão que não poderá tomar medidas”, refere.
Francisco Porto Fernandes entende que o maior problema do ES está na crise da habitação e que a frase de luta que se fará ouvir esta segunda-feira já não se centrará apenas na propina, porque “a propina dói, mas o alojamento mata”. “O alojamento mata e atinge a todos. O problema da habitação é europeu, mas em Portugal é mais grave. Tem impacto nos estudantes, nas famílias e nos jovens, que se querem emancipar e não o podem fazer. Há estudantes que continuam no mesmo quarto depois de acabar o curso, ficando assim menos uma cama livre para quem entra na universidade”, explica.
O responsável afirma que “a crise da habitação está completamente descontrolada”, com preços médios por um quarto, no Porto, a rondar os 400 euros. “Em 2018, o número de camas prometidas foi de 18 mil. Estamos em 2025 e estão concluídas cerca de 1600 camas”, salienta.