Fuga de alunos nesta área está associada à carreira docente que tem tido problemas.
Fuga de alunos nesta área está associada à carreira docente que tem tido problemas.André Luís Alves / Global Imagens

Ensino Superior: abandono de cursos de Educação subiu durante a pandemia

Todas as áreas científicas registaram desistências nos cursos superiores, mas a área da Educação foi a que se destacou mais, atingindo 14%. Estudo da EDULOG conclui também que apenas 22% dos diplomados de cursos profissionais ingressaram no Ensino Superior.
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Os cursos de Educação não têm atraído os jovens universitários e a pandemia agravou o problema. Esta é uma das conclusões do estudo da EDULOG (uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo, responsável por investigações científicas, na área da Educação). Segundo Orlanda Tavares, coordenadora do estudo e investigadora do CIEC - Instituto de Educação da Universidade do Minho, a justificação passa por vários fatores. “Por um lado, na área da Educação tem havido uma fuga de alunos porque está associada à carreira docente que tem tido problemas - e vai continuar a  ter -  e, por outro lado, são estudantes que não entram na 1.ª opção. Esses, têm uma tendência maior para o abandono”, explica ao DN. Contudo, segundo a responsável, a taxa de abandono subiu em todas as áreas científicas, sendo a mais elevada na área da Educação, atingindo 14%. Um problema que pode agravar ainda mais o baixo número de diplomados nesta área (ver caixa).

As taxas de abandono andam próximas umas das outras. São mais altas nos politécnicos do que nas universidades, mais altas nos mestrados de 2.º ciclo e CTeSP (não conferentes de grau). Já nas licenciaturas e mestrados integrados são mais baixas, refere o estudo. “Vimos ainda uma maior proporção de abandono de estudantes trabalhadores e alunos estrangeiros”, acrescenta Orlanda Tavares.

Intitulado “Impacto das Medidas Covid-19 no Acesso e Sucesso no Ensino Superior”, o estudo revela o fraco impacto das mudanças nas políticas de acesso ao Ensino Superior durante a pandemia, como a abolição dos exames para  aprovação de disciplinas ou conclusão do secundário, servindo apenas para acesso ao ensino superior. O estudo dá nota de que, apesar de as medidas terem facilitado o acesso ao Ensino Superior durante a pandemia, “não foram suficientes para eliminar as barreiras estruturais que perpetuam as desigualdades entre os alunos”. Esta foi uma das conclusões que mais surpreendeu a coordenadora do estudo, pois esperava “terem entrado para o Ensino Superior mais alunos de grupos tradicionalmente excluídos”. “Foi uma expectativa que não se concretizou”, lamenta.

Ao nível da transição para o Ensino Superior, o estudo revela ainda uma disparidade acentuada nas taxas de transição entre alunos de cursos científico-humanísticos e profissionais. “No ano letivo de 2021/2022, 72% dos diplomados de cursos científico-humanísticos ingressaram no ensino superior, enquanto apenas 22% dos diplomados de cursos profissionais o fizeram, mesmo existindo um concurso especial para estudantes provenientes das vias profissionalizantes”, refere o documento. A explicação passa, conta Orlanda Tavares, por vários fatores sociais e económicos. A equipa do EDULOG realizou várias entrevistas com estudantes de 12.º ano, tendo sido visível uma “baixa autoconfiança nas suas competência académicas”.  “Os estudantes de cursos profissionais tendem a não prosseguir para o ES. Têm pouca confiança nas suas competências académicas, mas muita confiança nas competências práticas. Querem entrar rapidamente no mercado de trabalho, até porque muitos têm dificuldades financeiras”, justifica. “Mais de metade desses alunos, acrescenta, têm pais com o  3.º ciclo, no máximo, e as expectativas e benefícios do ES não são percebidos por estes alunos. São céticos em relação às vantagens do ingresso no ES”, afirma. 

A investigadora recomenda, por isso, “que se continue a diversificar as vias de acesso ao ES”. “Muitos não sabem que têm um regime especial e era importante passar isso para as escolas. Contudo, as vias que existem neste momento não dão acesso a todos os cursos e a todas as instituições. Se isto mudasse, talvez atraísse mais alunos para o ES, embora tenhamos verificado, nas entrevistas, não haver muito essa apetência por parte dos estudantes de cursos profissionais”, conclui.

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