“A escolha de um cabo com ‘núcleo de corda de plástico’ [está] na origem do acidente” com o Elevador da Glória, disseram esta sexta-feira, 12 de setembro, engenheiros sob anonimato Expresso. Uma acusação à qual Carlos Moedas já respondeu pedindo que “não se tirem conclusões precipitadas”. Uma cautela secundada por especialistas ouvidos pelo DN.As considerações das fontes ouvidas pelo semanário foram feitas com base na nota informativa enviada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, na semana passada, dois dias após a tragédia que vitimou 16 pessoas e deixou muitas outras com ferimentos graves.Segundo a informação veiculada pelo Expresso, engenheiros do Instituto Superior Técnico consideram que a mudança no tipo de cabo utilizado – que era de aço e passou a ser de "alma de fibra" –, há seis anos, poderá estar na origem do acidente. Segundo os mesmos especialistas, “existiu efetivamente a troca do cabo que era de aço e passou a ser um de alma de fibra (possivelmente polimérica), mudando o interior (core) para uma rigidez muito inferior, o que implica uma mudança de sistema”, diz um dos engenheiros àquele jornal.Só que especialistas ouvidos pelo DN consideram que esta avaliação, podendo ser correta, carece de mais investigação em laboratório, por forma a garantir que o que esteve na origem do acidente foi mesmo aquilo a que se chama de “fluência”. Ou seja, o fenómeno pelo qual os metais e ligas tendem a sofrer "deformações plásticas [de forma permanente] quando submetidos, por grandes períodos de tempo, a tensões constantes, ainda que inferiores ao limite de resistência normal do material”. Essa fluência, explicam as fontes ouvidas pelo DN, podem levar a que se perca força de aperto entre o cabo e o trambolho, com o passar do tempo, o que significa que pode levar ao deslizamento do cabo, precisamente por efeito dessa deformação.É preciso também perceber, consideram, porque razão foi tomada a decisão de alterar o cabo utilizado, usando um com núcleo de fibra, e que dados sustentaram essa mesma decisão.A mesma nota informativa dá conta de que “do estudo feito aos destroços no local, foi de imediato constatado que o cabo que unia as duas cabinas cedeu no seu ponto de fixação dentro do trambolho [peça de encaixe] superior da cabina n.º 1 (aquela que iniciou a viagem no cimo da Calçada da Glória)”. Para os especialistas ouvidos pelo DN, é preciso perceber exatamente o que significa “ceder”, antes de se tirar maiores conclusões. Ou seja, é preciso perceber se se partiu, se a fluência do núcleo de polímero o fez soltar-se ou se há outras variáveis a considerar.Carlos Moedas garantiu, entretanto, esta sexta-feira, que a investigação do acidente será levada até às últimas consequências e que a Carris estará disponível para responder a todas as questões - ainda que até agora a empresa se tenha remetido ao silêncio.