O país está em contagem decrescente para voltar às urnas, faltando exatamente um mês (12 de outubro) para os portugueses serem chamados a escolher os presidentes de câmaras, juntas de freguesia e assembleias municipais nos 308 municípios nacionais. Com as eleições autárquicas em pano de fundo, a Pordata, base de dados estatística da Fundação Francisco Manuel dos Santos, disponibiliza a partir de hoje uma nova área interativa na sua homepage onde constam retratos aprofundados dos 308 concelhos nacionais, com indicadores que permitem também fazer um zoom ao último mandato autárquico (2021-2025) para que os cidadãos avaliem o que realmente mudou nas suas terras nesse período. Todos os dados agregados nestes retratos têm como fonte primária entidades oficiais, tais como o Instituto Nacional de Estatística (INE), a Direção-Geral de Estatística da Educação e Ciência (DGEEC) ou o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).“Cada retrato é uma fotografia essencial do município ou da região, permitindo que cada um fique a saber mais sobre a sua área de residência, podendo ainda compará-la com concelhos vizinhos ou com o resto do país. Conhecer melhor o país contribui para que as pessoas tomem decisões mais informadas e acreditamos que esta nova área dará um contributo importante para isso”, afirma Luísa Loura, diretora da Pordata, citada no press release sobre o projeto.Os retratos estão divididos em sete temas principais – população; educação; habitação; emprego e empresas; acesso a serviços e cultura; turismo e território/ambiente. E, para quem gosta de números, há muito para explorar. O DN dá aqui conta de alguns dos destaques.POPULAÇÃO: Vinhais envelheceu. Mas em 120 concelhos o número de jovens aumentouA população residente em Portugal tem vindo a aumentar nos últimos anos, tendo atingido no final de 2024 um total de 10.749.635 pessoas, segundo dados do INE, muito à boleia de um saldo migratório positivo. Mas a forma como aumenta e as características que cada concelho apresenta mostram ritmos diferentes. Neste retrato dos municípios feito pela Pordata, é registado que apenas em 120 dos 308 concelhos portugueses houve um aumento do número de jovens, desde o ano 2021, destacando-se nesse aspeto Odemira (distrito de Beja) e Vila de Rei (Castelo Branco), com subidas de 12%. Em proporção, os municípios com mais habitantes com menos de 15 anos são a Ribeira Grande, nos Açores, com 143 jovens por cada 100 idosos e, no continente, o Montijo (85 jovens por 100 idosos).Quanto ao envelhecimento da população, sobressai Vinhais. Na vila transmontana, que faz parte do distrito de Bragança, 46,30% da população é idosa (65 anos ou mais), bem acima da média nacional de 24,30%. Em Vinhais, o número de idosos por cada jovem com menos de 15 anos (índice de envelhecimento) é de 7,32, quando em 2021 era 6,73. Quanto à população ativa (entre os 15 e os 64 anos), 99 concelhos (32% do total) registaram descidas.Já no que diz respeito a número absolutos, Lisboa é a cidade mais populosa (575.739 habitantes, mais 39.569 do que em 2021) seguida de Sintra (400.947) e Vila Nova de Gaia (312.984). No reverso da medalha está o Corvo, nos Açores. A população até aumentou 5,8% desde 2021, mas ainda assim são apenas 437 os corvinos. A Amadora é o município com mais residentes por km2 (7637) e Alcoutim o que apresenta menor densidade populacional (4 residentes por km2).EDUCAÇÃO: Frequência do pré-escolar dispara e Corvo impressiona na estatísticaA importância do ensino pré-escolar no desenvolvimento das crianças é fundamental e durante o atual ciclo autárquico 254 dos 308 municípios viram estes alunos aumentar, em alguns casos com subidas superiores a 50% (Corvo, Lajes das Flores, Almeida, Penamacor e Constância). O caso do Corvo volta a surpreender pela estatística – um aumento de 267% – mas, feitas as contas, esta impressionante cifra corresponde a apenas mais 8 alunos (eram 3 em 2021 e passaram a 11 em 2024). Há também variações negativas (menos alunos inscritos neste ciclo), sendo a maior delas (-44%) em outro concelho insular, no caso Porto Moniz, no arquipélago da Madeira. Outras conclusões que estes dados compilados pela Pordata permitem tirar é que aproximadamente um terço dos concelhos viu o número total de alunos inscritos diminuir (em todos os ciclos), com destaque para Penedono (Viseu), que passou de 1057 estudantes em 2021 para 877.HABITAÇÃO: Um bom negócio por m2? Pesquise casas em Celorico da BeiraA habitação – ou melhor, a crescente falta dela a preços acessíveis – é, hoje, um dos principais desafios que o país enfrenta. No final de 2024, as Estatísticas da Construção e Habitação do INE até deram nota de um aumento em relação ao ano anterior do número de edifícios (25.470, +7,2%) e fogos (41.851, +5,4%) licenciados, sendo que 34.637 eram construções novas para habitação familiar (+3,9% do que em 2023). Segundos os dados recolhidos pela Pordata, o município de Lagoa, nos Açores, foi aquele onde se construíram mais casas novas no triénio 2022-2024, em percentagem face às existentes: 238. Mas o ritmo de construção no país não consegue acompanhar as necessidades e a procura do mercado. Um cenário que também é agravado pelo custo de construção de habitação nova, que em julho de 2025 estava a aumentar 4,8% em termos homólogos (dados do INE), principalmente devido ao valor pago pela mão de obra (+8,9%) e materiais (1,5%). O preço das casas também não ajuda e, de acordo com o levantamento da Pordata, entre 2021 e 2024, apenas em um concelho do país baixou o valor mediano da avaliação bancária das casas por metro quadrado (m2) – aconteceu em Grândola, com uma variação negativa de 2,5% (o m2 estava avaliado em 2143 euros e passou para 2090). Neste parâmetro, Lisboa é onde o m2 é mais caro (3826 euros na avaliação bancária). Por outro lado, se procura um bom negócio talvez deva pesquisar a oferta em Celorico da Beira (distrito da Guarda), que é o município com o valor mediano do m2 das casas mais baixo na avaliação bancária: 574 euros.EMPREGO E EMPRESAS: Se em Castro Verde se paga bem, em Cinfães ganha-se cada vez menosNeste capítulo, as conclusões da Pordata permitem dar conta dos extremos. Por exemplo, Castro Verde (distrito de Beja) era, em 2023, o concelho onde mais ganhavam os trabalhadores por conta de outrem: uma média de 2479,1 euros mensais (o ganho médio mensal é um indicador que reflete a compensação total recebida pelo trabalhador, antes do pagamento de impostos e de outros descontos). E Penedono (distrito de Viseu) é aquele onde o valor é mais baixo: 952,9 euros. Entre 2021 e 2023, os municípios que registaram maior aumento no ganho médio mensal foram Gavião (+45,9%) e Corvo (+41,4%). Em Cinfães esse valor teve uma queda de 5,1%, de 1138,3 euros para 1080,7 – o concelho do distrito de Viseu é, aliás, o único onde a taxa de variação foi negativa. Nota ainda para Campo Maior, no distrito de Portalegre, o município onde o falecido Rui Nabeiro fundou, em 1961, a Delta Cafés. Esta empresa é uma das quatro maiores do concelho, as quais, no conjunto, empregam 66,6% da população.ACESSO A SERVIÇOS E CULTURA: Lisboa e Porto são gigantes, mas Alcoutim sabe festejarLisboa e Porto são as duas principais cidades portuguesas – embora a Invicta, com 252.687 habitantes em 2024, mais 7,1% do que em 2021, seja apenas a quarta em número de população residente. Por isso, não é surpresa que concentrem uma enorme quantidade dos espaços culturais disponíveis em Portugal. No conjunto, são a casa de 14% do total de museus, 15% dos recintos culturais e 15% dos ecrãs de cinema. Ainda assim, a cidade raiana de Alcoutim, no distrito de Faro, foi aquela onde se realizaram mais espectáculos ao vivo, face à quantidade de população, com 130 sessões, destaca a Pordata. Curiosamente, se está interessado num passeio de fim de semana, saiba que arranca hoje em Alcoutim a 72.ª edição das suas festas e, claro, até domingo não vão faltar espectáculos ao vivo, como os concertos dos cabeça de cartaz Zé Amaro, Némanus, Noninho Navarro e Maninho.Agora, voltemos à remota ilha do Corvo e à sua capacidade de ganhar destaque nas estatísticas: em 2024, os 437 corvinos tinham ao seu dispor três caixas multibanco, o que faz do município aquele que tem mais oferta deste serviço face à quantidade de população. Já a média nacional é de uma caixa MB para cada 863 habitantes.TURISMO: Dos encantos de Gondomar ao verão de MiraO setor do turismo tem um forte peso na economia nacional e 2024 fechou com números recorde: 29 milhões de turistas não residentes em 2024, o que representa um aumento de 9,3% em comparação com o ano anterior. O zoom da Pordata sobre o turismo é o único que não tem como intervalo temporal o período 2021-2024, pois neste caso o ano base de comparação é 2019, por ser aquele que antecedeu a pandemia de covid-19.O levantamento mostra que Gondomar foi o município com maior crescimento em dormidas de turistas, entre 2019 e 2024, passando de 14.320 para 106.503, enquanto Tarouca foi aquele onde mais aumentou capacidade dos alojamentos turísticos, de 70 para 262 camas. Há ainda dois dados a reter: Mira (distrito de Coimbra) é o concelho com mais dormidas de turistas durante os meses de verão (58,1%), em proporção do total de dormidas no ano; já Alenquer (distrito de Lisboa) foi, entre 2019 e 2024, onde mais aumentou a taxa de ocupação nos meses de verão, saltando de 17,6% para 48,4%.TERRITÓRIO E AMBIENTE: O bom exemplo de Moura e a ferida dos fogos em ParedesOs dados da Portada mostram que, em 2024, a maioria dos municípios praticou a recolha seletiva de lixos urbanos em mais de 15% do lixo recolhido (202 dos 308), sendo Moura (distrito de Beja) o que mais esse aumentou essa boa prática ambiental, entre 2021 e 2024, passando de 12% para 25,2%. Já Paredes, no distrito do Porto, apresenta uma cifra negativa, sendo o concelho nacional mais afetado por incêndios na última década, com 320, em média, por ano. Terminamos com uma pergunta: sabe qual é o concelho que ocupa mais área de superfície e qual é o mais pequeno? O levantamento da Portada tem a resposta: Odemira está no topo, com os seus 1720,6 km2, enquanto que São João da Madeira, no distrito de Aveiro, uma espécie de ilha na fronteira entre Santa Maria da Feira e Oliveira de Azeméis, é o mais pequeno do país, ocupando apenas 7,94 km2..Autárquicas: integridade dos candidatos conta mais do que partidos.Endividamento dos municípios. Pordata lança ferramenta 'online'