"Desfocado da realidade". Brasil minimiza preocupações de Portugal sobre atuação do crime organizado
O diretor-geral da Polícia Federal (PF) do Brasil, Andrei Passos Rodrigues, minimizou preocupações com um alegado crescimento em Portugal da atuação de grupos criminosos brasileiros, como o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em resposta ao DN durante conferência de imprensa no Fórum de Lisboa nesta sexta-feira, 4 de julho, Rodrigues afirmou que existem apenas "questões muito pontuais" de ações criminosas.
"Não há essa propalada, grande difusão, como se um grupo criminoso estivesse tomando de assalto qualquer país que seja. Isso, na nossa avaliação, se desfoca um pouco da realidade", declarou.
O chefe da PF concordou com o ministro da Justiça brasileiro, Ricardo Lewandowski, que também já tinha respondido ao DN sobre a mesma questão. O ministro negou motivos para "uma preocupação sistémica".
"Há colaborações episódicas entre criminosos e bandidos, não só bandidos brasileiros com bandidos portugueses, mas em todo o mundo, porque o crime hoje não é mais local, não é mais nacional, mas o crime organizado, sobretudo, é transnacional. É por isso que o Brasil tem celebrado mais e mais acordos de cooperação", citando os acordos que já existem com Portugal nesta matéria.
Recentemente, este tema foi abordado em São Paulo no seminário internacional “Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina: Construindo uma Agenda de Ação”. O promotor brasileiro Lincoln Gakyia falou sobre a implantação do PCC em Portugal, relembrando dados que apontavam 87 integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no país.
"Não é um problema que preocupa, porque não é um problema estrutural, são questões episódicas e nós vamos combater isso também, caso acaso", pontou Ricardo Lewandowski.
O procurador-geral do estado do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira, confirmou à agência Lusa que também a organização criminosa Comando Vermelho (CV) já se estabeleceu em Portugal, mas ainda num "estado embrionário".
“O Comando Vermelho está em Portugal. O que é muito ruim. É muito ruim para Portugal, é muito ruim para a nossa imagem exportar para cá o que há de pior lá”, disse. Campos Moreira sublinhou, contudo, que esta presença da maior fação criminosa do Rio de Janeiro “é um movimento embrionário, algo ainda que pode ser contido”, sendo que a assinatura de um protocolo na terça-feira, 1 de julho, com o Ministério Público de Portugal serve precisamente para estagnar essa presença e cooperar no combate ao crime organizado transnacional através da partilha de informações.
Andrei Passos Rodrigues destacou que a Polícia Federal possui uma representação em Portugal, junto à embaixada brasileira, participação no MAOC, o Centro de Análise e Operações Marítimas europeu, e proximidade com a Polícia Judiciária.
"Para você ter uma ideia, nós, eu e o doutor Luís Neves, diretor da Polícia Judiciária, assinamos, junto com o ministro Lewandowski, um acordo de troca de tecnologia, neste caso o Brasil fornecendo a Portugal ferramentas de tecnologia para investigação de determinados crimes. E assim fazemos todos os dias e paulatinamente avançando nessa cooperação", ressaltou.
A 13.ª edição do Fórum de Lisboa, evento liderado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, reuniu o primeiro escalão político do Brasil. Cerca de três mil participantes movimentaram a Reitoria e a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa durante três dias de evento.