José Maria Farinha Alves tem 17 anos e é finalista do 12.º ano na Academia de Música de Santa Cecília, no Lumiar, em Lisboa. Passou os últimos 15 anos naquela escola, onde entrou com apenas três. Agora está pronto a entrar na universidade, com o objetivo de licenciar-se em Direito..Durante o período que estudou na escola colocada no 8.º lugar do ranking e que foi a melhor privada de Lisboa, a música acompanhou todo o seu percurso. “Começamos com aulas de música e movimento, na infantil, e no 2.º ano fazemos as provas para selecionar o instrumento que queremos até decidirmos sair”, explica José Maria. No seu caso, a escolha recaiu sobre o clarinete que o acompanhou até ao 9.º ano..Já no secundário, quis experimentar uma escola pública, mas ao fim de três meses estava de regresso à Academia de Música de Santa Cecília. “Não senti o acompanhamento dos professores a que estava habituado e o ritmo de estudo era diferente”, explica..Questionado sobre o que leva dos 15 anos passados nesta instituição de ensino, José não tem dúvidas de que desenvolveu desde cedo competências como a responsabilidade, trabalhada pela experiência de estar em palco nos espetáculos em que participou, a disciplina, desenvolvida pela exigência da conciliação entre o trabalho académico e a vertente musical, ou o sentido crítico, muito incentivado pelos professores..Mas o caso de José Maria está longe de ser único neste colégio privado, onde o ensino da música é transversal a todos os ciclos de estudo, e a todos os alunos, mesmo aqueles que seguem a via de ensino não especializado. Segundo o diretor, Rui Paiva, a percentagem de alunos que fazem todo o percurso escolar na Academia é elevada, talvez porque esta instituição tem um historial de 60 anos, reconhecido como “um ensino académico e musical de qualidade, com atenção à formação humana, sempre em valores cristãos”..O modelo de ensino integrado da música que desenvolveu ao longo destas décadas era, por altura da sua fundação, completamente inovador em Portugal. Este é um conceito que aparece mais tarde, na década de 80 do século passado, como lembra Rui Paiva. Mas, além desta característica inovadora, é também pela qualidade e consistência do corpo docente que a escola continua a distinguir-se, acredita o diretor. No fundo é um trabalho coletivo, de comunidade. “Quando falo de comunidade escolar, estou a falar de alunos, professores, pais, funcionários, de grande paz social, de grande colaboração, ou seja, as pessoas aqui sempre são um bocadinho como uma família, como uma grande família”, reforça..Estudo exigente, trabalho com gosto.Na Academia de Música de Santa Cecília, e como referia José Maria, estuda-se muito e o trabalho diário é muito exigente. “Mas trabalha-se com gosto”, complementa Rui Paiva. E a música tem aqui um papel muito importante. “Há um princípio no nosso dia a dia, que é um princípio do ponto de vista organizacional relativamente válido, que tentamos operacionalizar, e que é, do ponto de vista musical, tentar levar os alunos tão longe quanto a sua capacidade de trabalho, motivação, e educação, permitam”, acrescenta o diretor..Até ao quarto ano de escolaridade, o plano curricular é comum. Posteriormente, o caminho dos alunos divide-se entre a via do ensino regular, ou seja, o ensino básico geral, e a do ensino artístico especializado. Naturalmente, adianta Rui Paiva, “com esta exigência, é compreensível que alguns, ao longo do percurso, percebam que isto não se enquadra e que não é uma vocação”. Mas, seja qual for o caminho escolhido, a capacidade de trabalho que acabam por desenvolver aporta competências que lhe serão úteis nas mais diversas áreas. António Gonçalves, professor de coro, exemplifica: “Eu gosto de pensar no coro como uma espécie de pequeno ensaio para a sociedade.” O uso de cada uma das vozes no coro contribui para o resultado e exige, explica o professor, “que ouçamos também aquilo que se passa à nossa volta. Este exercício de escuta é tão ou mais importante do que o exercício de dar, de juntarmos a nossa voz à sociedade, que é aquele coro”. Neste contexto, os alunos desenvolvem igualmente a capacidade de colaboração e o espírito de entreajuda, como frisa Rui Paiva..O coro é também o elemento comum a todos os anos de escolaridade. Dos 3 aos 18 anos, todos têm esta disciplina, o que “acaba por ser o que mantém o contacto com a música durante o tempo que estão na escola”, diz António Gonçalves. Além disso, a disciplina de coro leva à preparação dos diversos espetáculos em que têm a oportunidade de participar. “Haverá sempre um concerto de Natal para os alunos do primeiro ciclo. Portanto, com seis anos eles têm o seu primeiro concerto numa sala de espetáculos”, conclui o professor.