Congresso em Fátima: Ordem recebe abaixo-assinado contra psicóloga que defende terapias de conversão
A presença de Maria José Vilaça (psicóloga que defende práticas de alegada conversão de homosexuais) num congresso em Fátima, este fim de semana, motivou um abaixo assinado que pede à Ordem dos Psicólogos (OP) que atue, impedindo aquela profissional de continuar a fazer apologia do processo.
Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da OP, confirmou ao DN ter recebido o abaixo-assinado, com mais de 1600 assinaturas, entretanto remetido para o Conselho de Jurisdição. Mas lembra que “quando o tema é terapias de conversão é inequívoco que se trata de uma violação do código deontológico, mas além disso é também violação dos direitos humanos, e desde há pouco tempo passou a ser crime”. Quer isto dizer que outras instâncias se sobrepõem à OP.
O abaixo-assinado dirigido à Ordem dos Psicólogos denuncia uma intervenção da psicóloga Maria José Vilaça, num congresso em Fátima, que decorre este fim de semana, e onde é esperado também Luca di Tolve, um italiano que foi “Mister Gay” nos anos 90 e agora se diz “recuperado”, autodenominado “ex-homossexual, que casou com uma mulher e tem uma filha”.
O congresso tem por tema “Homens e Mulheres de Verdade” e foi noticiado na página oficial da Diocese de Leiria-Fátima. Acontece na congregação dos servos do Imaculado Coração de Maria, e apesar de inicialmente aberto à participação do público, mediante inscrição, o formulário ficou indisponível desde quinta-feira. De acordo com a notícia do evento, a ideia seria “levar os jovens a refletir sobre a beleza de ser homem e mulher, à luz da Teologia do Corpo de João Paulo II e dar-lhes respostas para as mentiras de uma ideologia de género que destrói a riqueza da identidade masculina e feminina”.
Vários movimentos ligados à Igreja Católica manifestaram entretanto estranheza e preocupação com o facto de um congresso desta natureza ser anunciado na página da Diocese de Leiria-Fátima, que acabou por se demarcar da iniciativa. Um deles foi o movimento Sopro, cujo compromisso é criar pontes entre a comunidade LGBT+ e a Igreja Católica. “Este congresso vai contra tudo aquilo que defendemos enquanto movimento, pelo que merece o nosso maior repúdio”, confirmou ao DN fonte do movimento, que também subscreveu a carta enviada ao bispo de Leiria-Fátima.
Ao final do dia de sexta-feira, o gabinete de comunicação da diocese emitiu uma nota em que sublinha não integrar a organização do congresso, mas “ apenas veiculou a informação, como o faz habitualmente com outros movimentos e associações”. “Da informação descrita na notícia, não inferimos, em momento algum, que haja divulgação e/ou promoção de práticas atentatórias à dignidade humana, pelo que se considera ser extrapolação todas as tentativas de associação da Diocese de Leiria-Fátima a este tipo de ideias e eventuais atos discriminatórios”.
Mais tarde, o próprio bispo, José Ornelas, demarcou-se da realização do congresso. Em declarações ao jornal 7MARGENS, afirmou não ficar “tranquilo” com a realização do congresso em Fátima, bem como a anunciada participação de Maria José Vilaça. “Não alinhamos em coisas estranhas como essas”, afirmou o bispo, referindo-se às designadas “terapias de conversão” e garantindo que na diocese se seguem as “orientações da Igreja”. “Temos uma ideia muito clara, que é esta: não se pode fazer nenhuma pressão sobre nenhuma pessoa – como deve ser com qualquer outro tipo de abusos”, assegurou.
O DN tentou falar com a organização do congresso, que declinou o contacto, adiantando “não precisar de nenhuma cobertura jornalística nem de publicidade”.