Confirmados 49 casos de varíola-dos-macacos em Portugal
Subiu para 49 o número de casos confirmados de infeção humana por vírus Monkeypox em Portugal, havendo, até ao momento, 49 no total, informa, esta quarta-feira a Direção-Geral da Saúde (DGS). A autoridade de saúde faz saber que aguarda resultados laboratoriais relativamente a outras amostras.
A maioria das infeções foram reportadas em Lisboa e Vale do Tejo, mas também há registo de casos de varíola-dos-macacos nas regiões Norte e Algarve.
"Todos os casos confirmados são de homens entre os 26 e os 61 anos, tendo a maioria menos de 40 anos", lê-se no comunicado da DGS enviado às redações.
As novas infeções foram confirmadas pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), sendo que "os casos identificados mantêm-se em acompanhamento clínico, encontrando-se estáveis e em ambulatório".
A DGS refere ainda que "estão em curso os inquéritos epidemiológicos dos casos suspeitos que vão sendo detetados, com o objetivo de identificar cadeias de transmissão, potenciais novos casos, respetivos contactos e ainda eventuais locais de exposição".
A autoridade nacional de Saúde, dirigida por Graças Freitas, recorda que as pessoas que "apresentem lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço, devem procurar aconselhamento clínico".
"Ao dirigirem-se a uma unidade de saúde, deverão cobrir as lesões cutâneas", recomenda a DGS.
Perante sintomas suspeitos, devem adotar-se medidas, como evitar o contacto físico "direto com outras pessoas e de partilhar vestuário, toalhas, lençóis e objetos pessoais enquanto estiverem presentes as lesões cutâneas, em qualquer estadio, ou outros sintomas", refere ainda a nota.
Este novo aumento de novos casos de varíola-dos-macacos no país surge um dia depois do microbiologista João Paulo explicar que o vírus Monkeypox em circulação em vários países, incluindo Portugal, onde não é endémico, pertence a uma linhagem menos agressiva com origem na África Ocidental.
"Trata-se da forma menos severa do vírus", afirmou à Lusa João Paulo Gomes, responsável do Núcleo de Genómica e Bioinformática do Departamento de Doenças Infecciosas do INSA, em Lisboa, onde a equipa que dirige sequenciou o genoma do Monkeypox na origem do recente surto, tornando Portugal o primeiro país a fazê-lo.
Há uma segunda linhagem do Monkeypox, da África Central, onde também é endémico, que é mais agressiva.
De acordo com os especialistas do INSA, que já sequenciaram o genoma do Monkeypox de 10 pessoas infetadas, o vírus do surto detetado este mês "está mais intimamente relacionado com vírus associados à exportação do vírus Monkeypox da Nigéria para vários países em 2018 e 2019, nomeadamente Reino Unido, Israel e Singapura".
João Paulo Gomes referiu que "potencialmente trata-se de uma introdução única" do vírus, importada, "que originou cadeias de transmissão que depois se foram disseminando por vários países".
O investigador salientou que o vírus na origem do atual surto "apareceu há muito pouco tempo", mas "está a evoluir" rapidamente, "a acumular mutações" genéticas, quando, por "características inerentes", o Monkeypox "é um vírus que tipicamente tem uma taxa de mutação mais reduzida".
"Em teoria, evolui mais do que estávamos à espera. Eventualmente mais tarde poderemos perceber que estas características genómicas podem estar associadas a uma maior transmissibilidade, ainda não sabemos", sublinhou, apontando a sequenciação genómica como uma "ferramenta fundamental de apoio à decisão de saúde pública".
Segundo João Paulo Gomes, "é importante que todos os países sequenciem, libertem as sequências" genéticas do vírus e "façam uma partilha pública" dos dados "para que rapidamente se possa construir a história deste surto, perceber qual foi o país de origem, perceber onde é que foi introduzido [o vírus] na Europa e no resto do mundo e qual foi a cronologia em termos de disseminação pelos vários países".
O microbiologista considera que "não há motivo para preocupação", mas, "acima de tudo, motivo para atuar, bloquear as cadeias de transmissão, para fazer uma vigilância forte e despistar rapidamente todos os casos suspeitos".
"Não há dúvida que durante as próximas semanas vamos ver um evoluir muito agressivo desta situação, mas as características da transmissão do vírus não fazem prever que seja muito difícil a sua contenção", sustentou, lembrando que é preciso um "contacto direto, muito próximo" para que a transmissão ocorra entre pessoas.
Com Lusa