O cardeal Américo Aguiar disse esta segunda-feira “sentir uma profunda tristeza” pela morte do Papa Francisco, comparando essa tristeza à “de um filho que perde a presença, mesmo que distante, do seu pai”.Reagindo à morte do Papa Francisco, ocorrida esta segunda-feira, aos 88 anos, no Vaticano, o mais jovem cardeal português, que participará no conclave para a eleição do novo pontífice, numa mensagem enviada à agência Lusa, mostrou-se, no entanto, certo de que “a eternidade é o (…) destino, o fim da (…) estrada, o encontro face a face com Jesus Ressuscitado”.“Reconhecendo esta Verdade, pela qual entreguei a minha vida, não consigo deixar de sentir uma profunda tristeza pela partida do nosso amado Papa Francisco. A palavra morte é pequena para este momento. Prefiro falar de uma partida, de um filho que corre para os braços do Pai, de um irmão que se encontra em Cristo com todos os seus irmãos que já conhecem a eternidade”, escreveu Américo Aguiar na mensagem.O cardeal, que nos últimos anos teve múltiplos encontros com Francisco, no âmbito da organização da Jornada Mundial da Juventude que decorreu em Lisboa em 2023, recorda esses momentos: “Durante a preparação da JMJLisboa2023, foi o meu maior confidente, o amigo que me animou, que me deu forças e me revelou uma confiança que ainda hoje me comove”.“A Francisco, o homem em quem o mundo confia, o homem que o mundo respeita, o homem que o mundo lê, procurando em cada uma das suas palavras uma luz que nos ilumine, peço (…) que nos ajude a construir este presente, tão atribulado, tão incerto”, acrescenta Américo Aguiar.O bispo de Setúbal anuncia ainda que esta segunda-feira, às 21:30, será celebrada uma missa na Sé de Setúbal pelo Papa Francisco.José Ornelas salienta "abertura de caminhos de esperança" no pontificado de FranciscoO presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, por seu lado, considerou que o pontificado de Francisco abriu caminhos de esperança para a Igreja e para o mundo.“O pontificado de Francisco, para mim, é uma abertura de caminhos e de esperança para a Igreja e para o mundo”, afirmou à agência Lusa José Ornelas, também bispo da Diocese de Leiria-Fátima.José Ornelas salientou que “a mensagem final, das poucas palavras que ele disse, já o último fôlego a partir da balaustrada de São Pedro, foi precisamente para anunciar a Ressurreição e anunciar a paz e pedir o dom da paz”.O presidente da CEP adiantou ter recebido uma notícia “profundamente triste, mas também cheia de grande esperança”.“Pensei logo ‘segunda-feira de Páscoa, é o tempo de viver a Páscoa e depois de celebrá-la’. Eu acho que caracteriza muito aquilo que foi o Papa Francisco e aquilo que deixa à Igreja”, declarou.Destacando o processo sinodal desencadeado por Francisco, José Ornelas notou que o que caracterizou a vida e o ministério do Papa Francisco foi querer “mudar o ser Igreja”.“Escutar o povo de Deus, de voltar às raízes fundamentais daquilo que é a Igreja, para caminhar juntos, um caminho de conjunto dentro da Igreja”, referiu, considerando que a morte de Francisco não tira força a este processo, pois “a esperança está sempre para além da vida de cada um”.O presidente da CEP admitiu ainda ter pensado ser uma pena Francisco não terminar o Jubileu da esperança.“Depois disse ‘não é que pena’. Ele abriu caminhos de esperança”, frisou, desejando que a Igreja Católica os continue.Santuário de Fátima destaca devoção de Francisco à Virgem O Santuário de Fátima, onde o Papa esteve por duas vezes, uma das quais para canonizar os pastorinhos Francisco e Jacinta, destacou a devoção de Francisco à Virgem e as marcas profundas que deixou na Cova da Iria.“Fátima chora o falecimento do Santo Padre. Francisco sempre foi um devoto expresso de Nossa Senhora e, na Cova da Iria, deixou marcas profundas”, referiu o santuário numa nota publicada no seu sítio na Internet, através da qual também se salienta que “estabeleceu com a Cova da Iria uma ligação muito estreita”.Segundo o Santuário de Fátima, um exemplo da devoção foi “o pedido da presença da imagem original da Virgem de Fátima, em Roma, no Jubileu da Espiritualidade Mariana, a celebrar em outubro”.“Ao longo do seu pontificado de 12 anos, mereceram especial destaque três momentos no que ao Santuário de Fátima diz respeito”, adiantou o templo mariano, referindo que, em 2013, a imagem da Virgem de Fátima foi a Roma, a pedido de Francisco, “para a Jornada Mariana promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização”.Já em 2017, no centenário dos acontecimentos na Cova da Iria, Francisco deslocou-se “pela primeira vez à Cova da Iria para rezar aos pés da Imagem venerada na Capelinha das Aparições e para canonizar os beatos Francisco e Jacinta”.O santuário recordou que Francisco esteve em Fátima como “peregrino da luz, da esperança e da paz” e caracterizou Fátima como “manto de luz”, assumindo ainda, no regresso a Roma, “o compromisso de levar ao mundo a mensagem de Paz que Fátima representa”.“Mais recentemente, em 2023, no contexto da Jornada Mundial da Juventude, regressou a Fátima para rezar na companhia de jovens com deficiência e de jovens reclusos”, assinalou o santuário, referindo que, hoje de manhã, “os sinos da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima tocaram, em sinal de luto pela partida do Papa Francisco”.O santuário acrescentou que foram “muitos mais os momentos e os episódios que ligaram o líder mundial da Igreja Católica a Fátima”, desde a sua escolha para bispo, passando pela dinâmica pastoral que exerceu como arcebispo de Buenos Aires”, acrescentando que “Jorge Bergoglio deixou uma marca única de coragem e de proximidade”."Colocou-nos constantemente nas fronteiras do Evangelho", sublinha Manuel ClementeO cardeal Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa, por seu lado destacou a atitude “evangélica de ir ao encontro do outro” como uma marca do pontificado do Papa Francisco.O Papa Francisco “colocou-nos constantemente nas fronteiras do Evangelho, ou seja, naquelas fronteiras que, muitas vezes, são descuidadas por nós, dos mais pobres, dos conflitos que nunca acabam, de tudo aquilo que são tristezas de muita gente”, disse o cardeal Manuel Clemente, em declarações divulgadas pela agência Ecclesia.O patriarca emérito de Lisboa, que é um dos quatro cardeais portugueses que irão participar na eleição do sucessor de Francisco, considera, também, que Francisco foi “um construtor”, com “um papado que também deixa muitas marcas nesse sentido, demolindo aquilo que era preciso demolir e reconstruindo aquilo que era preciso reconstruir”.Manuel Clemente recorda ainda a passagem do pontífice argentino por Lisboa, em 2023, para a Jornada Mundial da Juventude, para destacar “a troca de olhares entre o Papa e aquelas multidões” de jovens que participaram no encontro mundial.“Era impressionante ver, quer do lado dele, quer do lado, digamos, das multidões, que eram milhares e milhares de pessoas ao longo das ruas, [quer] essa troca de olhares estava cheia de evangelho, quer na expectativa, quer na resposta. Na expectativa de uns, quer na resposta dele, um olhar que falava por si”, disse Clemente.Também em declarações à agência Ecclesia, a diretora da Obra Portuguesa das Migrações (OCPM), Eugénia Quaresma destacou a atenção dada pelo Papa Francisco aos migrantes e aos mais frágeis.“Para as migrações é um legado gigante. Foi colocar as migrações no centro, não só no centro da agenda da igreja, mas também do mundo”, afirmou, sublinhando que o Papa teve também a capacidade de “ajudar a trazer para o centro todos aqueles que estavam mais esquecidos”.Para Eugénia Quaresma, o Papa deixa a “marca da humildade, (…) da firmeza, (…) da fidelidade ao Evangelho (…) e da oração”.Jesuítas recordam os gestos de uma figura que "desafia e desinstala"A Companhia de Jesus em Portugal recordou “os numerosos gestos de Francisco que o tornaram um Papa próximo, mas também uma figura que desafia e desinstala”.O Papa Francisco, que morreu hoje aos 88 anos, no Vaticano, foi o primeiro pontífice jesuíta da Igreja Católica.“O mundo acordou esta manhã com a triste notícia da morte do Papa Francisco. A Companhia de Jesus em Portugal une-se ao povo cristão e a todos os homens e mulheres que vivem com dor esta partida. Mais que um dia de tristeza, é um dia de profunda gratidão por estes 12 anos de Pontificado e por toda uma vida dedicada ao seguimento de Jesus”, sublinha a congregação em comunicado.Os jesuítas portugueses agradecem ao Papa Francisco “as suas palavras inspiradoras e transformadoras, dirigidas aos fiéis e ao mundo: o seu convite a viver a fé na alegria e ‘em saída’, sem medo de abraçar a todos, a sua preocupação com os mais esquecidos, os mais pequenos, os mais necessitados, na consciência de que somos todos irmãos”.Mas, também, “a sua denúncia vigorosa e incansável de uma ‘economia que mata’, pondo em perigo o planeta, de tantos conflitos que configuram a ‘terceira guerra mundial aos pedaços’, bem como dos pecados da própria Igreja, abusos sexuais, de poder, ou económicos”.“Recordamos a sua simplicidade de vida e de trato, o modo como deixava que todos se aproximassem, o esforço para ir ao encontro de todas as periferias, geográficas e existenciais, a humildade com que vivia a sua fé e a sua devoção, em silêncio diante da imagem de Nossa Senhora, sentado no confessionário ou expondo diante das câmaras a sua fragilidade”, referem os jesuítas na nota.Neste comunicado, são também realçadas “as decisões e os processos postos em marcha para reformar estruturas, no sentido de construir uma Igreja verdadeiramente missionária, fiel ao Evangelho e à escuta do Espírito Santo, uma Igreja sinodal, onde todos são chamados a participar num caminho em conjunto”.Os jesuítas recordam ainda “o encontro com o jesuíta Francisco, em agosto de 2023”, aquando da Jornada Mundial da Juventude, no Colégio S. João de Brito. .Paulo Mendes Pinto: “Não será fácil ser Papa depois de Francisco”.“Conheço muitos cardeais e digo que é muito difícil que haja um cardeal igual a outro ou como este Papa”