Cheiros a bordo e indisposição de alguns tripulantes obrigou a desvio de avião da TAP para o Porto
O Airbus A321neo da TAP, com 192 passageiros a bordo, tinha partido de Lisboa em direção a Londres, mas foi obrigado a um desvio para o Porto, no Porto, a 11 de março. Teve de "aterrar de emergência" no aeroporto Francisco Sá Carneiro devido a alegada presença de cheiros a bordo e à indisposição de alguns membros da tripulação, segundo consta no boletim trimestral divulgado esta quarta-feira pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF).
De acordo com o documento, ao qual a Lusa teve acesso, às 15h46 o A321neo descolou de Lisboa rumo ao Aeroporto de Londres Heathrow mas, pelas 16:20, "já em espaço aéreo espanhol o cockpit foi informado pelo chefe de cabine de que um dos membros da tripulação a desempenhar funções na parte de trás da aeronave estava com náuseas".
Num primeiro momento, "sem qualquer indicação ou indício de fumo ou de cheiros no cockpit, a tripulação decidiu manter o nível de voo e aguardar cinco minutos para avaliar a situação".
Mas tendo em conta "uma informação prévia de cheiros (fumes) em voos anteriores na aeronave, e dado que outros membros da tripulação de cabine confirmaram sintomas semelhantes, a tripulação de voo decidiu divergir para o aeroporto do Porto, cumprindo com os procedimentos" previstos nestas situações, "incluindo o uso de mascaras de oxigénio", segundo o GPIAAF.
Relatório indica que durante a descida, e já em contacto com o aeroporto do Porto, "dado que alguns passageiros referiram estar com alguns sintomas, foi decidido declarar emergência e solicitar assistência médica à chegada, prevenindo possíveis atrasos na prestação desses serviços".
O GPIAAF conta que a aterragem "ocorreu com normalidade com o desembarque dos passageiros". Sete tripulantes e dois passageiros foram "transportados para o hospital para uma avaliação médica".
"A informação prévia da tripulação de voo sobre problemas anteriores com cheiros na aeronave do evento era referente ao mesmo dia nos dois voos anteriores", indica relatório, referindo que no primeiro voo entre Lisboa e o Funchal foi reportada "a presença de cheiros estranhos na zona traseira da aeronave". Na Madeira, foi realizada uma inspeção aos dois motores e à APU (Unidade Auxiliar de Potência) "sem qualquer anomalia reportada". Já no segundo voo, do Funchal para Lisboa, foram igualmente "reportados cheiros estranhos à descolagem, contudo terão desaparecido logo de seguida".
Revela o GPIAAF que "entre a ocorrência do dia 11 de março que levou a aeronave a aterrar no Porto em emergência e o retorno da aeronave ao serviço regular na manhã do dia 14 de março, os serviços de manutenção do operador realizaram trabalhos de despiste da anomalia reportada, seguindo as recomendações do fabricante para este tipo de situação, sem resultados conclusivos".
O mesmo verificou-se quando a TAP realizou um voo de posição do Porto para Lisboa, no qual técnicos a bordo tentaram isolar possíveis fontes de odores, mas sem resultados conclusivos".
"Consultada a base de dados de ocorrências do operador relativa à mesma aeronave, em 11 de novembro de 2024 registou-se um derrame de água no porão associado ao transporte de peixe. As ações corretivas passaram por uma limpeza da área, sem a remoção dos estrados do porão. Segundo o operador, a aeronave não sofreu qualquer intervenção profunda com a remoção de estrados do porão desde a data da referida ocorrência", segundo o GPIAAF.
De acordo com este gabinete de prevenção e investigação, "não se pode excluir que o evento de cheiros em 11 de março tenha tido origem, ou que possa ter tido como contributo, diretamente ou por efeito cumulativo, o evento de novembro de 2024".
No ano passado, foram reportados 1.249 ocorrências deste género na base de dados europeia, segundo o GPIAAF. Uma questão que tem sido alvo da atenção pelo setor, nomeadamente pela Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA, na sigla em inglês).