A Câmara Municipal do Porto está a reabilitar a casa mais antiga da cidade, datável da primeira metade do século XIV, também conhecida pela Casa do Beco dos Redemoinhos e identificada como Casa dos Alão de Morais. O edifício no número 14 da histórica Rua D. Hugo, com uma área de implantação de 77,8 metros quadrados, está a ser transformado numa habitação de tipologia T1 e em espaços para acolher serviços, num investimento superior a 363 mil euros. A casa, cuja obra deverá ficar concluída no prazo de um ano, será colocada no programa municipal de arrendamento acessível..Em 2019, a autarquia adquiriu o imóvel de três pisos onde terá vivido Cristóvão Alão de Morais, um dos mais importantes genealogistas portugueses do século XVII, através do exercício do direito de preferência. A gestão do prédio foi transferida para a Porto Vivo, SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana que, antes de iniciar a intervenção no edificado, procedeu às obrigatórias sondagens arqueológicas por estar inserido na Área Classificada como Património Mundial da UNESCO..Inês D'Orey.Apesar de albergar vários séculos de história, a casa não escondia nenhum tesouro. Segundo informação da empresa municipal Porto Vivo, “registou-se um nível de aterro/nivelamento, com inclusões de cerâmica de cronologia contemporânea, que cobria uma calçada em pedra miúda de granito”. Essa calçada - que correspondia a um anterior nível de circulação do edifício -, “encontrava-se destruída na área nascente da sondagem pela construção do muro em granito que delimita o piso intermédio”. Em conclusão, “o espólio arqueológico recolhido enquadra-se em época moderna e contemporânea”..Neste quadro, as obras arrancaram este verão e com alguns cuidados. Como adianta a Porto Vivo, “a requalificação terá uma dificuldade acrescida, que se prende com o desmonte parcial da fachada primitiva datada da primeira metade do séc. XIV (fachada orientada para o Beco dos Redemoinhos), para correção da sua deformação”. O projeto de reabilitação teve naturalmente em conta o imperativo de compatibilizar alguma da pré-existência com materiais que garantam o conforto exigível nos dias de hoje. O objetivo é, tanto quanto possível, utilizar “materiais e técnicas tradicionais de forma a garantir a preservação da identidade do edifício, visando a reversibilidade e a compatibilidade das soluções a adotar”..Inês D'Orey.A futura habitação será em open space, “para privilegiar a iluminação e ventilação natural, uma solução que permite uma maior rentabilização do espaço, dando maior amplitude ao local, o que o torna mais prático e funcional”. O arrendatário irá viver numa artéria do coração medieval do Porto, que ao longo do tempo conheceu diversas designações: Rua dos Cónegos de Trás da Sé, Rua dos Cónegos, Rua de Trás da Sé e Rua da Catedral. E habitará paredes meias com um conjunto de edifícios de grande valor histórico..Entre os mais emblemáticos, destacam-se o Museu do Porto Arqueossítio, que preserva a mais longa sequência documentada de ocupação humana na cidade, a Casa-Museu Guerra Junqueiro, o Palácio Freire de Andrade e a Capela de Nossa Senhora das Verdades.