Cargos de topo são maioritariamente de homens. "Temos estado a evoluir devagarinho"
Joana Ferraz da Costa, líder da Iberfar, acredita que a criação da licença de paternidade é um instrumento importante para garantir igualdade de oportunidades profissionais a ambos os sexos.
Formada em economia pela Universidade Católica, Joana Ferraz da Costa iniciou o seu percurso profissional no setor da banca e, mais tarde, na Agência de Gestão da Tesouraria e a Dívida Pública até chegar, em 2019, à administração do grupo Iberfar. "Foi uma mudança grande. Além de ter passado de economia para gestão, o setor [farmacêutico] é muito específico", começa por contar ao DN. O novo desafio tem sido "desafiante", mas a adaptação ao conglomerado empresarial familiar "correu bem", assegura. Convidada pelo DN a fazer uma retrospetiva e a tentar perceber se, em algum momento da carreira, sentiu que tivesse sido discriminada por ser mulher, Joana Ferraz da Costa diz que não. "Nunca senti, nos vários processos de recrutamento de que fiz parte, não ser chamada por ser mulher", garante.
No entanto, reconhece que existem dificuldades adicionais para elas na progressão profissional, em particular quando o tema é a maternidade. "Havia certos anúncios aos quais nem respondia porque sentia que, sendo mãe e tendo responsabilidades familiares, ser-me-ia difícil estar à altura do que me seria exigido", afirma. Joana Ferraz da Costa acredita, porém, que esta pressão sobre as mulheres pode ser, e tem sido, aliviada com a crescente mudança cultural e maior partilha de deveres familiares. "Esta divisão tem de ser equilibrada", defende. É também por isso que não hesita em dizer que a criação da licença de paternidade foi, "sem dúvida", uma alteração que contribuiu para maior igualdade de oportunidades.
Para a economista, é fundamental normalizar a ideia de que os homens podem ficar em casa a tomar conta dos filhos, até porque, sublinha, eles "são discriminados neste ponto". "Sei de homens que quiseram usufruir da licença de paternidade e foram olhados de lado pelos colegas ou o chefe não achou normal", partilha. A realidade do tecido empresarial português, essencialmente constituído por pequenas e médias empresas, não ajuda à mudança de mentalidade e à generalização de políticas de igualdade. O problema torna-se particularmente visível quando falamos em cargos de topo, onde continua a existir "maior preponderância masculina". "A administração pública já tem de cumprir quotas, as empresas cotadas em bolsa também e o setor empresarial do Estado a mesma coisa, mas isto é uma franja muito pequena da sociedade", analisa.
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A gestora da Iberfar diz que "temos estado a evoluir devagarinho" no que a estas questões diz respeito e elogia iniciativas como o Promova, da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), um programa de formação para a liderança no feminino. "Este curso é muito importante porque permite dar bons exemplos e mostrar que é possível ter mais mulheres em cargos de topo", salienta. Em simultâneo, considera ser uma oportunidade para, através de módulos de coaching e mentoria, apostar no desenvolvimento profissional de cada participante. "Gostei muito, foi uma experiência mesmo muito boa", reforça.
Portugal atrás da média europeia
Joana Ferraz da Costa admite que, no que à igualdade de oportunidades diz respeito, as políticas empresariais têm vindo a melhorar, embora ainda exista trabalho a fazer. Prova disso são os 61 pontos que o país conquistou, em 2020, no Índice para a Igualdade de Género, quando em 2015 tinha uma classificação de 56 pontos. "Nota-se uma evolução", complementa a gestora. Ainda assim, a realidade nacional continua a estar atrás da média europeia, fixada em 67 pontos.
Sobre as medidas de paridade e diversidade implementadas pelo grupo Iberfar, a organização destaca que, entre os cerca de 119 colaboradores, 57% da sua força laboral é do sexo feminino e que "existe uma presença equilibrada de mulheres e homens em lugares de decisão", incluindo à mesa do Conselho de Administração. "Não são toleradas ou admitidas quaisquer formas de discriminação individual que sejam incompatíveis com a dignidade da pessoa humana", continua a mesma fonte do conglomerado empresarial. Embora seja reconhecida a importância de "proporcionar igual participação, reconhecimento e valorização" a ambos os sexos, o grupo explica que não foi necessário, até ao momento, "impor alguma regra relativamente à representatividade feminina".
Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/LUZ Saúde/Randstad
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